O Brasil virou um dos epicentros da crise mundial da pandemia. Mesmo com mais de 60 mil mortes, o governo aposta em subestimar o COVID-19, e mais que isso, de maneira consciente usa da pandemia para “passar a boiada” com corte de direitos e aplicar sua política de morte de indígenas, mulheres, negros e LGBTI+.
A saída de Weintraub, a demissão do Mandetta, a saída do Moro, a CPI das fake news e a prisão do Queiroz foram fatos políticos que contribuíram para uma defensiva do governo Bolsonaro. A luta antifascista e antirracista demonstram a possibilidade de resistência. O importante ato mundial Stop Bolsonaro expressou a forte articulação feminista internacionalista e o crescimento do rechaço mundial.
Nesse momento de enfraquecimento do governo, a esquerda não pode entregar a liderança da oposição para figuras da oposição liberal burguesa identificada com o recente golpe parlamentar e de herança escravocrata. Podemos realizar unidades pontuais táticas com essa oposição. No entanto, o Fora Bolsonaro só será possível se rompermos a estabilidade para a aplicação da agenda Guedes e Salles de cortes de direitos, privatizações, do agronegócio e do garimpo. É isso que está no centro da sustentação desse governo e a oposição liberal está comprometida com essa agenda.
Precisamos colocar em xeque o corte de direitos e as privatizações da água com o PL do Saneamento, da Eletrobrás e da Petrobras, que anunciou as escandalosas vendas do campo de Urucu no centro da Amazônia, da refinaria Landulpho Alves (RLAM) na Bahia e da subsidiária Petrobras Biocombustíveis (PBIO).
A esquerda precisa ter estratégia. De um lado, saber usar das divisões entre a elite e estabelecer unidades pontuais. De outro, não deixar o abraço de urso lhe sufocar e acabar servindo de alavanca para a barganha do Maia. O protagonismo da luta é da classe trabalhadora, de uma frente única dos movimentos sociais para colocar a elite brasileira e internacional na berlinda. Essa é a única saída. A conciliação de classes com viés democrático já se demonstrou uma via de mão única em que o programa da classe trabalhadora para ganhar e mobilizar as maiorias periféricas acaba abandonado. No fim, isso se volta contra as próprias organizações da classe trabalhadora porque o fascismo se apóia no desespero social.
Não é menor também destacar que mesmo na defesa das liberdades democráticas as possibilidades de unidade são realmente pontuais, afinal, não podemos contar com essa oposição liberal para se posicionar pelo direito de greve dos petroleiros, pela liberdade de Lula, ou para ser contrário à política de encarceramento em massa da juventude negra. Além disso, nem mesmo a unidade pela derrubada do Bolsonaro foi possível em articulações desse tipo.
O pior é que a ilusão na suposta força das instituições democráticas do Brasil, ou nessas figuras acaba não nos alertando para a urgência e a necessidade das nossas ações, nos desarmando completamente. O fascismo cresce nas ruas e só pode ser derrotado nas mesmas. As eleições não são causa e sim conseqüência dessa força social. Cair no vale tudo eleitoral será a morte do programa necessário que precisa ser defendido nas ruas.
O desafio é a construção de uma frente única da classe que inclua a luta antifascista, antirracista, dos entregadores, da saúde, dos metroviários do estado de São Paulo, dos petroleiros, eletricitários, e de todas as categorias que estão sendo chamadas a voltar no pico da pandemia e, por isso, também estão articulando greves em defesa da vida. Essa é a força mais poderosa do país que precisa ser resgatada.
Será nesse processo, na luta de classes viva e concreta, que será possível a construção da autodefesa antifascista, de frentes de solidariedade nas periferias e uma resistência forte e unitária para derrubar Bolsonaro e apontar alternativas que enfrentem a desigualdade no nosso país. Espero que estejamos à altura dos desafios. Vamos à luta!
*Natália Russo é diretora do Sindipetro-RJ e da da FNP
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