Por: Gleide Davis, colunista do Esquerda Online
Durante o mês de novembro haverá a Marcha da Periferia em todo o Brasil. Esta marcha representa para nós, no mês da consolidação da consciência racial, as únicas heranças que nossos ancestrais nos deixaram e que nenhum colonizador conseguiu nos roubar: a nossa resistência através da nossa cultura, através da nossa coletividade.
“A culpa não é só de quem atira, mas de quem manda atirar”
A PM não mata sozinha, ela nasceu no Brasil colônia idealizada pela elite portuguesa para capturar e torturar negros escravizados que fugiam das senzalas. E nada mudou, ainda somos tratados como propriedades do estado, a nossa liberdade só foi assinada para que nos tornássemos mãos de obra baratas, ainda não podemos andar livremente pelas ruas a hora em que quisermos e aonde quisermos, sem que no mínimo sejamos tratados como animais desenjaulados.
Tudo isso é minuciosamente pensado para que a elite nos aprisione nas periferias, em subempregos, com uma sub-educação que aprisiona o nosso senso crítico e molda nossas vidas em servir à burguesia, seja pela ideologia que enclausura nossas mentes, seja através da força física que a PM se propõe a agir, como ditadores em pleno sistema democrático que não chega à periferia.
A burguesia tem nos matado com suas armas visíveis e invisíveis há séculos. A nossa capacidade de resistir até aqui dependeu apenas de nós. Mas nem sempre é assim, as cicatrizes que o genocídio tem deixado no nosso povo vão além das marcas de bala nos nossos mortos e feridos.
Essas marcas vivem nas nossas almas e tem nos matado aos poucos todos os dias. Mães têm literalmente morrido de tristeza ao não suportar o fato de ter de enterrar seus filhos adolescentes que tiveram seus sonhos interrompidos pela violência genocida e racista da elite, famílias tem vivido sobre as suas dores, entes queridos que mesmo vivos, já não sentem mais a razão de sua existência por saberem que isso não tem prazo pra acabar e que a cada hora, cada vez mais jovens negros serão assassinados para manter a hierarquia de classes no Brasil.
O revide virá.
Não basta saber, é hora de agir. A juventude periférica já ocupa as escolas e universidades de todo o Brasil, os quilombos resistem bravamente às tentativas de aniquilação. Não abaixaremos as nossas cabeças para os desmandos de uma elite racista e cada vez menos preocupada em fingir que se importa.
É hora de relembrarmos a luta de Dandara, que preferiu morrer à voltar aos chicotes da casa grande. De Zumbi, que resistiu até o fim de sua vida em nome da libertação de seu povo. Dos panteras negras, que se organizaram em nome da raça e da classe de sua gente para acabar com o encarceramento em massa e o genocídio do povo preto nos Estados Unidos. Por Amarildo, Cláudia, pelos 12 do Cabula (Salvador), pelo menino Eduardo, pelos cinco da Leste (São Paulo).
É tempo de ocupar para reparar tudo o que nos foi roubado. Nossas casas, nossos nomes, nossa fé, nossos irmãos, nossos sonhos. Invadiremos tudo o que é nosso por direito, queremos ainda mais do que reparação histórica. As cotas são só o começo.
Foto: Ramó Alcântara | Esquerda Online
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