A semana passada foi marcada por uma ofensiva forte sobre o Bolsonarismo. A prisão de membros dos 300 de Brasília, as operações contra os blogueiros que articulam com Carlos Bolsonaro o chamado “gabinete do ódio”, a ofensiva que culminou com a demissão do Weintreaub, e, principalmente a prisão do Queiroz, foram tiros de aviso. Caso continue a subir o tom ameaçando o STF e o Congresso, vamos te derrubar.
Bolsonaro sentiu muito o baque. Está quieto desde a prisão do miliciano. Além da pressão do STF, o presidente percebeu que não tem forças dentro das Forças Armadas para um autogolpe. O ex-capitão avança no loteamento de cargos para o centrão e também para partidos menores com o PSC. Sinal nítido de fraqueza. Prometeu um autogolpe, mas não consegue entregar. Mais do que um seguro contra sua deposição, o avanço do centrão sobre o governo é a divisão de poderes do planalto com o Congresso Nacional.
Me permitam uma pequena digressão. A operação parlamentarismo branco se fortaleceu, mas não nasceu em 2020. Uma primeira tentativa ocorreu em março do ano passado quando o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, assumiu o protagonismo da aprovação da reforma da previdência diante da incapacidade de articulação do governo no Congresso.
A base do governo estava em frangalhos diante do eminente racha no PSL (cisão que se consolidou no final de 2019) e da incapacidade, de Paulo Guedes e Bolsonaro, de formatar uma base sólida de apoio no Congresso Nacional. Em certa medida esses setores deixaram o Bolsonaro se eleger porque acreditavam que poderiam controlar o Bolsonaro.
Voltando aos eventos recentes. A ofensiva contra a família de milicianos que ocupa o palácio do planalto foi substituída por um relaxamento ao longo dessa semana. Sara Winter foi solta, com obrigação de uso de tornozeleira, o caso do Flávio foi para a cúpula dos desembargadores do Tribunal de Justiça do RJ saindo das mãos do juiz Itabaiana que cuidava do caso desde o início. Ao mesmo tempo o Senado aprovou a MP da privatização do saneamento básico.
O exposto acima mostra que existem na prática duas oposições ao governo Bolsonaro: uma que pretende derrubá-lo, outra que pretende impor uma tutela como condição para que cumpra seu mandato até 2022. Os dois grupos, portanto, tem objetivos diferente, embora pareçam semelhantes..
É preciso tomar cuidado para não comprar gato por lebre. A frente democrática é necessária nesse período? Certamente. A frente democrática poderia comportar Maia, Tofolli, Dória e outros setores da direita? Com o nariz tapado certamente, mas desde que unidos pela derrubada do Bolsonaro.
No final da Ditadura Militar, o movimento pela Diretas Já tinha reuniu diversos setores. Estavam presentes os sindicatos, associações, e lideranças de todas as matizes políticas como Tancredo Neves, Leonel Brizola, Lula, Miguel Arraes, José Richa, Ulysses Guimarães, André Franco Montoro, Dante de Oliveira, Mário Covas, Gérson Camata, Orestes Quércia,, Eduardo Suplicy, Roberto Freire, Luís Carlos Prestes, Fernando Henrique Cardoso, Jorge da Cunha Lima, Marcos Freire, Fernando Lyra, Jarbas Vasconcelos e Moreira Franco.
O objetivo, no entanto, era única e exclusivamente a aprovação da Emenda Dante de Oliveira que restaurava a volta das eleições diretas no Brasil. Ainda em 2020, 2021 poderemos chegar a esse momento de unidade em torno de uma bandeira clara: Fora, Bolsonaro. Mas esse momento ainda não chegou.
Os cuidados com a Frente Democrática, portanto, não representam um sectarismo infantil. Também não representam um sectarismo hipócrita de quem largou a mão de Luiza Erundina para apertar a de Paulo Maluf nas eleições de 2012 para a prefeitura de São Paulo.
Os partidos de esquerda poderiam se unir a Maia, Toffoli, Dória, Huck e cia, mas marchando sobre a defesa da derrubada do governo de Jair Bolsonaro. Os objetivos ainda são diferentes. Uma parte expressiva dos políticos em Brasília quer um parlamentarismo branco com um presidente decorativo para aprovar as reformas liberais.
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