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BRASIL

Taurus alega que produção de armas é um serviço essencial e mantém a fábrica funcionando

Trabalhadores são expostos ao Covid-19. Fila para o ponto chega a reunir 40 pessoas

Francisco da Silva, de São Leopoldo (RS)
Divulgação

A Taurus Armas é uma das maiores empresas metalúrgicas da Região Metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. E apesar de todas as orientações das autoridades públicas e recomendações médicas, pouco ou nada a empresa fez para impedir a proliferação do coronavírus. Uma vez mais, os empresários colocam o lucro na frente da vida.

A Taurus utiliza o falso pretexto de que seus produtos são essenciais para não suspender as atividades na planta. Em meio a uma pandemia, em meio a enorme crise mundial de saúde pública, os empresários e acionistas argumentam que a produção de armas é essencial. Um absurdo!

Trabalhadores da empresa relatam que têm sofrido uma enorme pressão para ir trabalhar, com muitos chefes os ameaçando de demissão se faltarem. Os líderes e coordenadores da produção chegam a dizer que após a crise vai aumentar muito o desemprego e que “quem não quer, tem quem queira. A porta da rua é serventia da casa”. Essa é a consideração que os patrões têm com aqueles que fazem a empresa funcionar: os trabalhadores.

A peãozada também têm relatado falta de utensílios básicos de higiene e EPIs como álcool gel e máscaras específicas ao coronavírus. Um terceirizado da limpeza que não quis se identificar com medo de represálias contou que a empresa está se aproveitando da pandemia para dobrar a carga de trabalho ao invés de contratar mais gente: “querem tudo duas vezes mais limpo, só que eu já tava trabalhando no limite antes. É impossível desse jeito!”.

Em praticamente nenhum lugar da fábrica é possível manter 1 metro de distância do colega

As péssimas condições de saúde e segurança do trabalhador foram potencializadas em meio a crise. Em praticamente nenhum lugar da fábrica é possível manter 1 metro de distância do colega (menos ainda no refeitório, vestiário, etc) porque o lay out foi desenhado para aglomerar ao máximo os trabalhadores entre as máquinas. Outro grande problema são as filas para bater o ponto: chega-se a acumular 30, 40 trabalhadores na entrada ou na saída, sendo que os trabalhadores da segurança patrimonial da empresa estão num ambiente de superexposição já que há revista em todos os trabalhadores na saída.

Uma crise como a que estamos expõe o óbvio: a humanidade, sobretudo em tempos de globalização, é uma coletividade. De nada adianta eu, você e ele ficarmos confinados em casa se o vizinho não faz o mesmo. Há mais de 2.000 trabalhadores na Taurus e a continuação das atividades como se nada estivesse acontecendo prejudica os esforços de toda a comunidade no enfrentamento ao coronavírus. O empregado vai trabalhar e além do risco de se infectar, volta com as roupas potencialmente contaminadas, e contamina seus familiares, o vizinho na mercado, etc.

Suspender as atividades na Taurus não cabe a Taurus decidir: é um problema de saúde pública. O prefeito municipal Ary Vanazzi (PT) e também o governador Eduardo Leite (PSDB) devem intervir emitindo decreto para suspender as atividades sem prejuízo aos trabalhadores – pois de Bolsonaro não dá pra esperar nenhuma sensatez. A produção de armas não é serviço essencial.

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armas / coronavírus