Parodiando a velha sabedoria de dois revolucionários há mais de cem anos, ousamos dizer que há um espectro que ronda o mundo hoje: o espectro do feminismo…
Mulheres que dependem do seu próprio trabalho para poder garantir a sua sobrevivência e a de suas comunidades ecoam um grito comum que nos surge como esperança e inspiração: basta à crise global que o capitalismo impõe e que, em primeiro lugar, afeta cada vez mais a nós, trabalhadoras, negras, pobres, indígenas, periféricas e LBTs ao redor do planeta.
Essa crise, que não é apenas econômica, mas também social e ecológica, nos coloca um limite absoluto para a existência da vida humana. Nós, mulheres, que trabalhamos duas ou três vezes mais; que recebemos, em pleno século XXI, salários menores por trabalhos iguais; que somos cada vez responsáveis pela reprodução diária de nossos filhos e famílias com o desmonte dos sistemas de proteção social; que somos guardiãs dos recursos naturais que vem sendo crescentemente extintos; que temos nossos corpos violentados nas ruas e dentro de casa; que temos que enterrar nossos filhos em função da violência racista do Estado; também seremos a fonte da virada desse jogo lucrativo para uma ínfima minoria, o 1% que só se mantém no poder à base de destruição e morte.
Somos a primeira trincheira na defesa da vida e da maioria, dos 99%! Lutamos contra a austeridade neoliberal, a violência policial, os regimes tirânicos e os golpes fundamentalistas. Estamos desenhando um novo significado, vivo e dinâmico, para valores anticapitalistas tradicionais que vinham perdendo força: “greve” como protesto feminista em locais de trabalho e no ambiente doméstico, demonstrando que se paramos, o mundo inteiro para. “Internacionalismo” como solidariedade entre lutadoras do mundo inteiro, do Chile ao Iraque, da Índia a França, do México ao Sudão, que se identificam profundamente como protagonistas de revoltas e resistências populares.
No Brasil, somos mulheres que estiveram na linha de frente contra o golpe institucional que pavimentou o caminho para Bolsonaro subir ao poder. Sabíamos, há anos, que o projeto político fundamentalista de Eduardo Cunha, Marco Feliciano e tantos outros representantes do ódio organizado às mulheres, às negras e negros, às LGBTs, não atingiria apenas a nós, mas a todo o conjunto do povo trabalhador no Brasil.
Vimos nas ruas, durante a primavera feminista em 2015, que enfrentou a escalada da violência do Estado contra nossos corpos, esse antagonismo entre as mulheres em luta e a extrema-direita crescer. Testemunhamos ativamente esse conflito aberto explodir quando Marielle Franco foi assassinada pelas forças obscuras da milícia e saímos num único grito nas ruas jurando que a vida de nossa companheira nunca seria em vão, que honraríamos sua trajetória. Em 2018, fizemos parte daquelas que foram a Brasília discutir no STF a legalização do aborto; tal qual nossas irmãs argentinas, debatemos com a sociedade que o aborto é uma questão de saúde pública, e que sua criminalização tem por efeito apenas a morte de mulheres. E, nas últimas eleições, quando fomos parte da organização do histórico #EleNão. Ali, olhávamos para o lado e víamos milhões e milhões de companheiras que, como nós, tomava em mãos a responsabilidade por mudar o rumo que o neofascismo pretende dar ao Brasil.
Nós, mulheres da Resistência Feminista, acreditamos que apenas o engajamento organizado das ativistas brasileiras poderá dar respostas à altura das ameaças que a extrema-direita personificada neste atual governo propaga. Por isso, muitas de nós, impulsionadoras desse novo movimento, está hoje nas fileiras no PSOL. Ao mesmo tempo, acreditamos que nossa experiência de organização precisa, antes de tudo, estar enraizada onde vive a maioria das mulheres brasileiras: nos bairros, nos locais de trabalho, nas escolas e universidades. É nestes espaços que a Resistência Feminista pretende organizar seus núcleos, reuniões e plenárias para a construção coletiva e democrática das lutas.
Apostamos numa luta diária e pela base, para convencer aquelas que desconfiam do feminismo de que as ideias feministas são fruto dos melhores sonhos de liberdade e justiça, e, para convencer aquelas que apostam no feminismo como projeto individual de ascensão social, que apenas um feminismo anticapitalista, antirracista, que tenha como método a luta coletiva, é que pode ir às últimas consequências na superação das profundas desigualdades de que sofre a maioria das mulheres brasileiras.
Apostamos também que o calendário feminista no ano deve ser mais do que a simples formalidade de datas anuais. Queremos ser parte daquelas que impulsionam essas datas como enfrentamentos enérgicos aos ataques aos nossos direitos, mas não só aqueles que tradicionalmente são parte da agenda feminista. Queremos ser parte daquelas que enxergam o feminismo como a defesa dos direitos de toda a classe trabalhadora e dos seus setores mais oprimidos, e que é atuante o ano inteiro nessas lutas.
Se você quer se organizar por um Brasil e por um mundo pelos e para os 99%, venha fazer parte do nosso movimento! Nos procure na cidade onde você mora. É para dar força a esse projeto – nunca tão urgente e necessário – que surge a Resistência Feminista.
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