Enquanto escrevemos este artigo, ainda não se sabe qual candidato do Partido Democrata será o vencedor do caucus de Iowa. Com pouco mais de 3,1 milhões de habitantes e uma economia predominantemente agrícola, Iowa tem grande importância política para o Partido Democrata na escolha de seu candidato (a) que irá concorrer às eleições americanas. Isto porque se acredita que quem sair vitorioso em Iowa tem muitas chances de ser indicado como o candidato (a) dos democratas. Seis dos últimos oito candidatos democratas venceram em Iowa.
O que é um caucus?
Todo o sistema eleitoral americano é bastante complexo. As formas de escolher os candidatos dos dois principais partidos também.
No Partido Democrata há duas formas de escolher os delegados (as) à convenção do partido, em julho: as primárias, com votação em cédula e urna, e o caucus, que é realizado apenas nos estados de Iowa, Nevada e Wyoming.
Caucus, em uma tradução livre, é uma espécie de reunião ou assembleia de eleitores do Partido Democrata, que se reúnem em vários locais para votar nos candidatos que estejam concorrendo. Neste ano, tiveram 1.678 locais de votação em Iowa. Desta votação sairão os indicados do Estado a Convenção Nacional dos democratas e os 41 delegados que participarão da Convenção.
Como os(as) candidatos(as) são escolhidos(as)?
No caucus de Iowa, os 1.678 locais de votação têm plaquinhas com os nomes dos 11 candidatos (as) democratas que concorrem à indicação do Partido. Após debate, os eleitores se concentram em torno dessas placas, de acordo com sua preferência. Os candidatos que recebem menos de 15% dos votos são eliminados do processo eleitoral, mas seus eleitores podem se redistribuir entre os candidatos (as) remanescentes. No entanto, os eleitores dos candidatos (as) que atingiram os 15% não podem mudar seu voto. No final da votação, os 41 delegados de Iowa serão divididos proporcionalmente entre os candidatos que atingiram pelo menos 15% da intenção de votos em todos os 1.678 locais de votação.
A crise da contagem dos votos e do Partido Democrata
A direção do Partido Democrata já noticiou na imprensa que estão descartadas as hipóteses de fraude ou “hackeamento” no sistema de contagem dos resultados em Iowa. Ao que parece, a lentidão na obtenção dos resultados se deve a falhas e inexperiência no uso de um aplicativo, que foi introduzido neste caucus, sem o devido treinamento. Ao falhar o aplicativo a contagem teve que voltar a ser manual, isto é, cada local de votação tem que informar os seus resultados através de um intrincado processo de contagem dos votos que inclui fotos da disposição dos eleitores, ao redor das plaquinhas, e dos mapas de apuração de cada local. Uma gigantesca parafernália!
Excluída a crise tecnológica, resta a crise política do Partido Democrata que está sendo revelada neste primeiro processo de escolha dos candidatos (as).
O primeiro sintoma de crise foi à pulverização das candidaturas democratas. No início do processo 20 candidatos (as) se lançaram, e as votações estão começando com 11 candidatos (as). Num momento em que o Partido precisa demonstrar unidade e força para competir com Trump, nas eleições de novembro, aparece para os seus eleitores como fraco e dividido.
O segundo elemento de crise, e o mais grave, se revela nos resultados parciais do caucus de Iowa: Joe Biden, o preferido da cúpula democrata, e apontado pelas pesquisas como o provável vencedor na Convenção de julho, amarga um tímido 4º lugar na votação.
Com 62% da apuração, Buttigieg, ex-Prefeito de uma cidade do interior e gay assumido, tem 27% dos 41 delegados em disputa em Iowa, seguido de Sanders, com 25%, e que as pesquisas indicam como o vencedor do caucus, da senadora Elizabeth Warren (18%), de Joe Biden (16%) e pela senadora Amy Klobuchar (13%). Dos cinco primeiros colocados, os três primeiros não estão entre os preferidos da cúpula democrata. São expressão dos fenômenos independentes, a esquerda e a direita, cada vez mais comum em processos eleitorais.
A importância do caucus de Iowa não se dá pelo seu peso quantitativo, já que elege 41 delegados (as) dos 1.991 necessários para que um candidato (a) vença a indicação a presidência, na Convenção democrata. A importância de Iowa está no impulso midiático que significa vencer a primeira batalha eleitoral, mas principalmente porque os derrotados passam a ter poucas chances de conquistar votos nos próximos processos de eleição dos delegados (as), além de perderem apoio financeiro para a suas campanhas. Joe Biden, embora seja apontado como favorito nas pesquisas, pode ver suas chances se complicarem com uma colocação ruim no caucus de Iowa.
Enquanto isso os republicanos comemoram o desastroso processo de apuração de Iowa, espalhando pela mídia mundial que já há um vencedor no caucus: Donald Trump.
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