Por: Michele*, de Macaé, RJ
A Petrobras informou na noite do dia 31 de novembro pelos meios internos que, a partir de 1 de novembro, estaria bloqueando o acesso à internet, webmail, redes sociais, sites para armazenamento de arquivos online e proibindo o uso de dispositivos de armazenamento removíveis, como pendrive, HD externo, CDs, DVDs e cartões de memória, sob a justificativa de aumentar a segurança da informação na companhia. Na manhã de terça-feira (1), os trabalhadores da companhia tiveram essa surpresa.
Na Petrobras, muitos trabalham em um regime especial, em turno, em plataformas no meio do mar, navios, ou em campos terrestres. Essa medida fere o anexo 2 da NR-30, item 10.5.6.1, em que diz que “Nas plataformas devem existir meios e instalações para proporcionar condições de bem-estar aos trabalhadores a bordo”, no qual exemplifica o acesso à internet como um desses meios. Para esses trabalhadores, que passam quatorze dias longe de casa, o uso da internet e de dispositivos de armazenamento têm uma importância diferenciada. É um importante meio pelo qual se entra em contato com os familiares e se resolve problemas pessoais, como financeiros e estudos. Nesse sentido, é normal que se usem os computadores corporativos no horário de folga para isso, visto que na grande maioria das unidades não há uma sala de internet recreativa com computadores suficientes para a quantidade de trabalhadores e, por vezes com péssimo sinal de internet. Se ao menos houvesse wifi nessas unidades, mas até agora a Petrobras se recusa a instalar essa simples ferramenta.
Mas, o problema não é só esse. Seria apenas coincidência que justamente no momento em que os petroleiros estão discutindo o Acordo Coletivo de Trabalho e a organização de uma greve nacional da categoria a empresa implementa tal medida? O bloqueio às redes sociais e webmail certamente dificultaria a articulação dos petroleiros nacionalmente e, mais ainda, daqueles que trabalham em regime de confinamento.
Que mico, Parente!
No entanto, não foi tão fácil passar essa medida goela abaixo dos petroleiros e petroleiras. Desde o início da manhã, choveram reclamações e mensagens de protestos no portal da companhia e a pressão da categoria fez o presidente da Petrobras, Pedro Parente, recuar e suspender o bloqueio da internet, mas mantem as restrições impostas ao uso de pendrives e demais ferramentas de armazenamento de arquivos.
De acordo com o informe da companhia, o tema será reavaliado pela Diretoria Executiva e pelo Conselho de Administração. Que se suspenda totalmente essa decisão! É uma clara tentativa de cercear a comunicação entre nós, petroleiros e petroleiras, e ignora completamente as necessidades mínimas de bem estar e habitabilidade dos que trabalham em regime de confinamento.
Na verdade, essa medida faz parte da lógica de culpar nós, os funcionários de base, dos problemas da companhia. Se tem corrupção na empresa, obriga os trabalhadores a fazer um curso de combate à corrupção. Se tem vazamento de informação, bloqueia o acesso à internet. Como se os vazamentos de informações fossem culpa nossa. Como se bloquear o acesso dos seus funcionários à internet resolvesse o problema. Além disso, é uma medida que, se implementada, de fato pode servir para dificultar, por exemplo, processos trabalhistas de assédio moral e até mesmo poderia tornar mais difícil guardar informações de autoproteção e denúncia de desvios, por exemplo. Controle total para os funcionários, liberdade para as chefias, que na certa continuariam com acessos privilegiados quando solicitados.
*Michele é Técnica de Operação da Petrobras,
Foto: José Cruz/Agência Brasil
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