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BRASIL

O bolsonarismo e o fechamento do regime

Demian Melo
Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

A “ponta da praia” é uma base da Marinha na Restinga da Marambaia que durante a ditadura militar foi usada para a execução de prisioneiros políticos. Pois numa live, em sua rede social, Jair Bolsonaro sugeriu que os servidores dos órgãos federais ambientais que, segundo ele, atrapalham “o progresso” deveriam “atrapalhar na ponta da praia”. Sim, o presidente da República clamou pela morte de servidores federais que são estratégicos na preservação do meio ambiente, e isso num ano em que dois desastres ambientais sem precedentes aconteceram no Brasil.

Com o apoio do Judiciário, da operação Lava Jato, do impeachment de Dilma, da irresponsabilidade do PT, da maior irresponsabilidade do PSDB, do sub-letramento e falta de caráter da imensa maioria das camadas médias, de vigaristas profissionais que lucram com a fé cristã das pessoas comuns, além da cumplicidade de praticamente todo o sistema político a República da 1988 chega ao fim com a eleição da extrema direita.

O primeiro ano do governo já demonstra que o negócio é mesmo fechar o regime. Os inimigos declarados são: 1) os pilares da ordem liberal, a divisão dos poderes, a liberdade de imprensa, as liberdades civis; 2) o estado social previsto na Constituição de 1988; 3) a existência legal da esquerda. No que se refere à ordem liberal, o bolsonarismo mobiliza sua base social fanatizada com a narrativa de que o Congresso e o Judiciário impedem o “mito” de governar. Em relação ao estado social, não começou a ser solapado agora, nem mesmo com o breve e destrutivo governo Temer, mas qualquer comparação nesse quesito é 7 a 1 para o governo atual. Quanto a esquerda, bom, uma semana antes de ganhar as eleições do ano passado Bolsonaro prometeu enviar para a ponta da praia.

O bolsonarismo só pôde triunfar diante da crise. E os fascistas são mestres em se aproveitar de situações de crise e o desespero social para abolir liberdades básicas. Para a crise fornecem explicações simplistas e demagógicas, e no caso brasileiro essa foi alimentada durante anos pela mídia e a oposição de direita ao Lulismo. Para essa a raiz da crise estaria na corrupção, uma ideia cretina que não explica como significativos períodos de crescimento econômico brasileiro ocorreram no ambiente da tradicional corrupção, como foi o caso do período do chamado “milagre econômico” durante a ditadura militar; quando “caia a tarde feito um viaduto”.

Essa explicação demagógica da crise, por outro lado, é por isso mesmo fácil de entender: a crença é que os corruptos roubaram o dinheiro público e por isso o país parou de crescer. Nesse sentido a operação Lava Jato foi desde sempre parte desse esquema demagógico, coisa que a ala udenista da esquerda demorou um bocado para entender. Não é por acaso que a parte mais estúpida da esquerda udenista demorou a admitir que as manifestações de massa das classes médias em 2015 eram de direita, e, como se sabe, até bem pouco tempo morriam de amores por Sergio Moro e as “Dez medidas de combate à corrupção”.

Mas quem teve a maior responsabilidade na crise e na ascensão da extrema direita foi mesmo a classe dominante, a burguesia brasileira e seus prepostos que conscientemente permitiram que fosse pavimentado o caminho para a vitória eleitoral de Bolsonaro.