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MOVIMENTO

Greve Geral em Aracaju: da repressão na garagem à onda popular na 13 de julho; seguimos mobilizados

Alexis Pedrão*, de Aracaju, SE
Marcio Garcez

A greve geral ocorrida no último 14 de junho foi um marco importante na luta contra o governo Bolsonaro e seus projetos que retiram direitos dos mais pobres do Brasil. Foi possível realizar essa mobilização diante da unidade de todas as centrais sindicais e frentes políticas, mas também pela sequência de manifestações desde o início do ano, com destaque para a juventude nos dias 15 e 30 de maio. Em todo o país, tivemos paralisações, piquetes e manifestações unitárias grandiosas.

Entretanto, ainda com poucas avaliações coletivas, tivemos a impressão de não ter alcançado a mesma força da greve geral contra a reforma da previdência do governo Temer. Seja pelo número menor de rodovias que foram fechadas, seja pelo funcionamento do comércio ou ainda pela circulação parcial de ônibus. Em 2017, a mobilização foi muito maior. Então fica a questão: fizemos mesmo uma greve geral ou um forte dia nacional de lutas? A resposta deve ser fruto de muito debate e acúmulo coletivo. Na luta de classes é fundamental analisar as coisas como elas são e não pelo nosso desejo.

Bolsonaro e Belivaldo: mudança de qualidade na repressão

Até o momento, não sabemos o que aconteceu com os piquetes dos comerciários e da garagem da viação Atalaia, pois esses setores funcionaram normalmente. A garagem da progresso foi alvo de forte repressão policial e a garagem do modelo foi a única que conseguiu manter o piquete até o meio dia. Nos demais municípios teve fechamento de vias no Sertão, Laranjeiras e Malhada dos Bois. Nessa primeira experiência de greve geral no governo Bolsonaro mais uma vez ficou comprovado o crescimento da violência policial. Em todo o Brasil foi assim. No atual governo, a polícia se sente muito mais à vontade para reprimir manifestantes e a população em seu cotidiano. Nas periferias, inclusive, tem sido muito pior, pois além da repressão crescem as mortes praticadas pela polícia (1).

Ocorre que as polícias militares estão sob o comando direto dos governadores. Em nosso caso, Belivaldo Chagas. Por isso, a responsabilidade pelas agressões cometidas contra a manifestação pacífica em frente à garagem da Progresso é do governo de Sergipe. Nenhum policial dispara tiros, bombas e ameaça manifestantes sem o aval de seus superiores. Felizmente, nada mais grave aconteceu, mas foi por muito pouco. De toda forma, ficou a dúvida: por que o governo utilizou de toda força policial contra o piquete da progresso enquanto preferiu a conversa na garagem da Modelo se a pauta e a quantidade de manifestantes era a mesma? Em 2017, para quem não se lembra, Jackson também autorizou a violência contra a manifestação da garagem da Progresso(2). Agora, Belivaldo repetiu a receita e aumentou a dose. Das duas uma: ou a Progresso é mais importante para o governo que as outras empresas, ou há uma perseguição declarada contra os setores políticos da Frente Povo Sem Medo. Independente disso, temos a opinião de que há uma mudança de qualidade para pior no trato do governo e da polícia com manifestações.

Uma maré popular subiu na 13 de julho

Mesmo diante de uma manhã conturbada, com derrotas e vitórias, o movimento se unificou pela tarde e uma grande maré de lutadores e lutadoras tomou conta da 13 de julho, tradicional reduto da burguesia e classe média alta de Sergipe. Alguns falam em cerca de 10 mil pessoas. Já tínhamos feito o tradicional ato no Centro (15M) e outro que caminhou até o DIA (30M). Dessa vez, fomos afrontar os poderosos na avenida Beira-Mar. As bandeiras de todas as cores, inclusive as do Brasil, tremularam em defesa das aposentadorias e do nosso presente e futuro.

A repressão não deu trégua. Dessa vez, as motos da GETAM se encarregaram de jogar spray de pimenta na manifestação. Novamente, sem nenhuma justificativa. Apenas para intimidar e agredir as pessoas presentes na caminhada. Mas foi em vão. Nada podia segurar aquela onda verdadeira por justiça social. Então veio o encerramento cultural. De cima do trio, com muita alegria, artistas sergipanos mandaram o recado para o governo. Nem a chuva que caiu esfriou os ânimos de luta dos trabalhadores e da juventude naquele dia histórico.

Seguimos mobilizados

Para a próxima semana teremos nova rodada nacional e local de reuniões entre as centrais e frentes para preparar os próximos passos. Além da luta pelos direitos sociais, é preciso também manter firme a luta pelas liberdades democráticas. Por justiça para Marielle e Anderson e pela liberdade de Lula. As mensagens publicadas pelo “The Intercept” provaram definitivamente a conduta corrupta e imoral do juiz Sergio Moro. É preciso derrubar Moro do Ministério da Justiça e impedir a aprovação de seu pacote anti-negro e anti-pobre, travestido de combate à corrupção. Passados seis meses de governo Bolsonaro, o cenário está muito difícil, mas seguimos mobilizados.

(1)Número de mortes causadas por policiais militares volta a crescer. Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/numero-de-mortes-causadas-por-policiais-militares-volta-a-crescer/

(2)Nota de repúdio a repressão da greve geral dia 30 de junho de 2017. Disponível em: https://psolaju.wordpress.com/2017/07/04/nota-de-repudio-a-repressao-da-greve-geral-do-dia-30-de-junho-lutar-nao-e-crime/

 

*Alexis Pedrão é professor e militante da Resistência/PSOL.

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14J / aracaju