O significado da queda de Bashar al-Assad na Síria


Publicado em: 30 de dezembro de 2024

Mundo

Deepak Tripathi, do portal Counterpunch.

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A queda de Bashar al-Assad na Síria, encerrando mais de 50 anos da dinastia Assad (1971-2024), é um evento significativo no Oriente Médio. É difícil construir previsões definitivas de curto ou longo prazo na sequência de um evento tão importante. Mas isso merece um breve comentário sobre o que está por vir.

Em um país de 25 milhões de habitantes, com quase 75% de sunitas e apenas cerca de 15% de muçulmanos xiitas alauítas, o regime de Assad, de minoria alauíta, foi sustentado durante meio século por uma brutal repressão. O pai de Bashar, Hafez al-Assad, foi um importante líder árabe, juntamente com Gamal Abdel Nasser do Egito e Muammar Gaddafi da Líbia. Juntos, eles eram aliados próximos da União Soviética e formaram a frente antiocidental no mundo árabe. A dinastia Assad na Síria, sobretudo, era particularmente instável. Governou com dureza, criando medo e resistência, que explodiu numa guerra civil de larga escala no início da década de 2010.

Outros regimes árabes e grande parte do mundo consideraram os Assad difíceis de lidar. Quando a União Soviética se desintegrou, os Estados Unidos tentaram derrubar a ordem dominante síria. A Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, na administração Obama, declarou abertamente que “os Assad devem acabar”. No entanto, o Estado Islâmico naquele momento representava uma ameaça maior para os interesses regionais e ocidentais. E o esforço da América para remover a dinastia dos Assad falhou porque a oposição estava desunida e foi conveniente para as potências ocidentais lideradas pelos EUA deixar os militares sírios lutarem contra o ISIS.

Mudanças significativas, no entanto, têm ocorrido na geopolítica do Oriente Médio desde 7 de outubro de 2023. Com o apoio dos EUA, os militares israelenses agora dominam a região. As táticas de guerra israelitas em Gaza, onde se sabe que pelo menos 45 mil palestinos foram mortos, foram amplamente condenadas pelos tribunais internacionais, ONGs, organizações de direitos humanos e ativistas. No entanto, nenhum país ou agência pode tomar ações coercitivas diante do veto americano no Conselho de Segurança da ONU. O Hamas e outros grupos palestinos em Gaza e na Cisjordânia foram severamente enfraquecidos, bem como a milícia xiita Hezbollah no Líbano. Na guerra com múltiplas frentes de Israel na região, o Irã, o Yemen e a Síria foram todos atingidos. E para proteger Israel dos mísseis inimigos, navios de guerra estadunidenses e baterias de defesa aérea estão posicionados na região.

O presidente dos EUA que está encerrando seu mandato, Joe Biden, é um amigo próximo de longa data do Primeiro-Ministro Netanyahu e um aliado de Israel. Biden está contando seus dias finais na Casa Branca. O presidente e seus agentes frequentemente falam sobre o Oriente Médio, mas raramente algo significativo para uma mediação. O presidente eleito, Donald Trump, aguarda sua posse em 20 de janeiro de 2025. Trump é até mais agressivo. Em relação à política estadunidense no Oriente Médio, existe pouca diferença entre as administrações democrata e republicana.

Nesse cenário perplexo, como a política dos Estados Unidos pode ser explicada? A experiência estadunidense em conflitos anteriores oferece algumas pistas. As lições da Guerra do Vietnã terminando com a retirada estadunidense no século XX foi repetida na retirada dos EUA no Afeganistão e Iraque no século XXI. Washington tem desenvolvido grande aversão ao envio de tropas estadunidenses para combater em guerras em terras distante como consequência de perdas de vidas estadunidenses e de capital moral nestes conflitos. Tendo aprendido tais lições, a nova doutrina militar estadunidense consiste em destacar Israel para lutar por si próprio e pelos Estados Unidos, usando as armas estadunidenses mais novas. Esta doutrina faz de Israel uma aliada e um representante dos Estados Unidos para manter o Oriente Médio sob controle.

Nos últimos acontecimentos na Síria, o inimigo dos EUA foi derrubado. Os sírios celebram nas ruas de Damasco. As multidões derrubaram estátuas e murais associados à dinastia governante deposta. Os edifícios governamentais são incendiados. Os antigos rebeldes que venceram a guerra contra a ditadura estão no poder. Os vencedores, pertencentes ao movimento islâmico sunita Hayat Tahrir al-Sham (Organização para a Libertação do Levante), são uma mistura de várias facções armadas, lideradas por comandantes islâmicos. O HTS tem raízes na Al Qaeda, que os Estados Unidos consideram como um grupo terrorista. A Síria, depois de Assad, terá estabilidade? Ou o país se tornará outro Afeganistão, Iraque ou Líbia? Tais questões podem ser respondidas à medida que os acontecimentos forem se desenrolando.

Artigo originalmente publicado em The Fall of Syria’s Bashar al-Assad: What it Means
Tradução de Paulo Duque, do Esquerda Online
O artigo acima representa a opinião do autor e não necessariamente corresponde às opiniões do EOL. Somos um portal aberto às polêmicas e debates da esquerda socialista

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