Pular para o conteúdo
BRASIL

Estudantes da UEL protestam contra exibição de filme revisionista sobre a ditadura

Ângela da Silva Leonardo*, de Londrina, PR

As memórias de um tempo de silêncio tomaram os corredores do CLCH (Centro de Letras e Ciências Humanas) nesta quarta-feira (03). Performances traziam histórias de um Brasil que não pode ser esquecido e não pode ser apagado. Entre corpos amarrados em arames ou estendidos ao chão e sacos plásticos nas cabeças, recuperou-se um tempo de dor, morte e silêncio. A manifestação dos estudantes da Universidade Estadual de Londrina (UEL) aconteceu em meios aos discursos de apagamento da história que, por meio de um revisionismo e a manipulação de fatos, busca enaltecer o golpe militar de 64.

Segundo a acadêmica de História, Ariane Rigate, a ideia do evento surgiu logo após descobrirem a estreia do filme Brasil entre armas e flores, produzido pelo Brasil Paralelo. “Um filme sobre a ditadura empresarial-militar, de teor revisionista. Um filme que nega a trágica história ditatorial, sendo a principal ideia a de que os militares salvaram o Brasil do comunismo”, relatou Rigate.

Contrariamente a isso, os estudantes organizaram um cinema com exibição, ao ar livre, do filme Cabra Marcado Para Morrer, documentário de Eduardo Coutinho sobre o líder camponês paraibano João Pedro Teixeira, assassinado em 1962. Durante os três períodos, os corredores do CLCH ficaram lotados de estudantes que, indignados, lançaram gritos de ordem contra a ditadura.

Os estudantes permaneceram nos corredores com correntes humanas, à espera que os revisionistas saíssem do auditório. O que não esperavam era a chegada da Polícia Militar no campus. Nesse momento, todos sentaram-se. Foi o maior momento de tensão e preocupação. Porém a administração e o prefeito do campus interferiram e a polícia saiu. Diante dessa situação é que os revisionistas saíram, sob forte pressão daqueles que foram ali defender as liberdades democráticas.

Se para o historiador Bruni Leal, da UNB, “a história tem sido manipulada por setores desta ‘nova direita’ com o objetivo principal de legitimar os seus projetos políticos”. Para a estudante Ariane, é imprescindível haver resistência, como a ocorrida em sua universidade. “Na atual conjuntura é necessário demonstrar com clareza nossas posições. Ontem foi dia de luta, de lutar por aqueles que foram, pelos que permanecem e os que virão. Saímos vitoriosos e não vamos parar”, finaliza.

O negacionismo histórico foi se espalhando e encontrou nos conservadores e reacionários o caminho para disseminar mentiras por meio falsificações dos fatos e ocultação de um regime totalitário que assassinou lideranças do povo sob o falso pretexto da “ameaça comunista”. Por isso a manifestação dos estudantes demonstra que é preciso resistir e contrapor aos discursos e distorções que tentam silenciar e apagar a história.

É preciso lembrar para que nunca mais aconteça!

 

*Ângela da Silva Leonardo é professora municipal em Londrina, coordenadora do Coletivo Feminista Classista Marielle Franco, militante da Resistência/PSOL e Secretária Estadual de Negros e Negras do PSOL Paraná.