Foto O secretário de Segurança Pública de São Paulo, João Camilo Pires de Campo, e o comandante da Polícia Militar, coronel Marcelo Salles, falam sobre o massacre na Escola Raul Brasil, em Suzano, São Paulo. Rovena Rosa/Agência Brasil
“Quando o enquadramento externo é forte, as imagens, vozes e práticas que refletem a escolas muitas vezes dificultam que as crianças de classes desfavorecidas se reconheçam na escola”
Basil Bernstein
“Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor”
Paulo Freire
No dia 13 de março a cidade de Suzano (SP) teve sua rotina completamente alterada. A tragédia na escola estadual Raul Brasil foi noticiada em todo o mundo. Nos solidarizamos com todas aquelas e todos aqueles que foram atingidos direta ou indiretamente nesse ataque.
Neste momento de dor, é preciso repensar o papel da escola brasileira na sociedade. Discursos como o do senador recém-eleito Major Olímpio, que após o ataque defendeu publicamente o armamento dos professores, além de simplificarem os problemas educacionais, também vão na contramão do que a maioria da sociedade brasileira deseja.
A proposta do major beneficia apenas empresas que lucrarão com a venda de armas, mas em nada melhorará a vida das pessoas e muito menos diminuirá os problemas das escolas. Hoje, o prefeito da cidade de Suzano, Rodrigo Ashuchi (PR), defendeu na imprensa local a criação de um projeto que prevê policiais da reserva nos setores administrativos das escolas. Tal empreitada começaria pela escola Raul Brasil.
Reduzir o debate sobre educação à militarização é demonstrar o quanto os governos desconhecem os problemas que pais, alunos, funcionários, professores e diretores enfrentam todos os dias.
Professores e escolas que batalham para combater o bullying e as práticas de discriminação na escola, mesmo tendo todo apoio legal, são acusados de doutrinadores.
Construir ações de combate à intolerância religiosa, à LGBTfobia, ao machismo e ao racismo faz-se mais do que urgente. Construir respeitabilidade nas escolas atualmente é tido como “coisa de doutrinadores”. Projetos como o Escola Sem Partido, na verdade, fortalecem as ações de violência. De fundo, esse projeto que é criminoso, vai aumentar o bullying nas escolas porque exclui as minorias. A escola deve ser o espaço de acolhimento e transformação cultural e social. Defender uma escola pública laica, gratuita e de qualidade é a melhor medida para combatermos as violências.
As professoras e professores devem ser valorizados, as escolas necessitam de mais e melhores equipamentos. Ao invés de armas, os governos devem investir em laboratórios, ampliação do acesso às tecnologias, aumentar o número de funcionários e de professores.
Quem convive no espaço escolar sabe o papel que as “tias e tios” (forma que os alunos se dirigem aos Agentes de Apoio Escolar) cumprem na vida dessas crianças e adolescentes. Os jovens confiam demais nessas e nesses trabalhadores, e contam muitos dos seus dilemas.
A escola pública conta com a confiança da ampla maioria da população, principalmente das mães e pais que tem na escola a única garantia de um futuro melhor para seus filhos.
ATO EM SUZANO, EM MEMÓRIA DAS VÍTIMAS
Precisamos de políticas públicas responsáveis. Precisamos que toda a comunidade escolar seja ouvida. Não precisamos de repressão. Precisamos de psicólogos permanentes para acompanhar todos os que trabalham e estudam nas unidades escolares. Precisamos de assistentes sociais para acompanhar a rotina e as diversas situações sociais e econômicas que se encontram nas instituições de ensino. Precisamos de porteiros para auxiliarem a entrada e saída de todos.
As educadoras e educadores não são os culpados pelas crises da educação, ao contrário, somos nós que ainda conseguimos manter de pé a escola. A culpa dos problemas deve cair nas costas dos governos que abandonaram há anos as escolas.
Nós que somos professores aqui em Suzano estamos de luto. Perdemos nossos alunos e colegas de trabalho. E não vamos aceitar que os governos municipal, estadual e federal usem essa tragédia para construir políticas que trarão mais mortes!
* Fabio Torres é professor.
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