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MUNDO

Ataque racista: atirador dos EUA poupa vida e pede desculpas a homem branco

Gendron era partidário da tese racista segundo a qual as populações negra e imigrante estariam “substituindo” a população branca

Da Redação
Joshua Bessex, AP

No sábado, 14/05, os EUA foram palco de mais um crime de ódio contra a população negra. Dessa vez, um massacre na cidade de Buffalo, no estado de Nova Iorque, deixou 10 mortos e 3 feridos.

Payton Gendron, 18, supremacista autor do massacre, percorreu 330 km até o supermercado, escolhido por estar situado em uma região cuja população é predominantemente negra. A motivação racial do atirador é evidente e reconhecida pela polícia e pelo governo. Ele proferiu xingamentos racistas e mirava em pessoas negras – Das 13 atingidas, 11 eram negras, incluindo 8 das 10 vítimas fatais.

Foto: Reprodução

Ele transmitiu ao vivo o atentado em uma plataforma de jogos, enquanto proferia xingamentos racistas contra as vítimas. O vídeo foi retirado minutos depois, mas milhares de pessoas acompanharam ao vivo, tornando o ataque ainda mais doloroso para as vítimas e familiares e para toda a população. Nesta segunda, a partir das imagens transmitidas pelo assassino, a imprensa norte-americana destacou um fato que realça o racismo. Em um determinado momento, ao passar com a arma apontada por um homem branco deitado no chão, entre duas caixas do mercado (foto ao lado), Gendron desiste de atirar, poupa-lhe a vida e chega até a pedir desculpas, prosseguindo em busca de outras vítimas.

Gendron era partidário da tese racista segundo a qual as populações negra e imigrante estariam tomando espaço da população branca, assim como suas vagas de empregos, etc. Não por acaso, o assassino tinha o número 14 escrito em sua arma, em referência à frase de 14 palavras cunhada pelo supremacista branco norte-americano, David Lane: “We must secure the existence of our people and a future for White Children” (Devemos assegurar a existência de nosso povo e um futuro para as Crianças Brancas).

Espetáculo macabro: autor inspirou-se em atentado ocorrido em 2019 na Nova Zelândia

Antes do atentado, Gendron divulgou um manifesto em que apresentava seus planos de cometer um atentado para ser transmitido ao vivo e afirmava “concordar principalmente” com Brenton Tarrant, que matou 51 pessoas em um massacre em duas mesquitas na Nova Zelândia, em 2019. 

O massacre em Buffalo é uma dramática combinação do ódio racial e do supremacismo branco, da naturalização da violência e de sua espetacularização através das redes sociais além do acesso livre às armas, inclusive fuzis, como o modelo usado, semelhante a um AR-15. Um caldo de ódio, racismo e violência que custou dez vidas e a dor de toda uma comunidade negra norte-americana e que, se considerarmos a força resiliente dos apoiadores de Trump e de grupos supremacistas, não será o último a ocorrer no país.

Também serve de alerta para o Brasil, onde os crimes racistas são feitos pelo Estado, com o genocídio da população negra e jovem pelas policiais militar e civil e milícias. E onde ataques de atiradores contra grupos vulneráveis já começaram a ocorrer, e onde o armamento da população é estimulado pelo próprio presidente, inclusive com legislação liberando fuzis semi automáticos para colecionadores e frequentadores de clubes de tiro, locais em maioria controlados e que servem como pontos de encontro dos apoiadores mais fanáticos do bolsonarismo.