Por: professor Raphael Guedes, da Baixada Santista, SP
A reeleição de Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) com 77,74% dos votos válidos (172.215), a maior votação percentual da história de Santos, gerou uma grande preocupação para aqueles que defendem uma posição política de esquerda na cidade. Qual o motivo de tantos votos, inclusive nas regiões mais pobres?
Com o poder da mídia e do dinheiro
Paulo Alexandre teve a seu favor a máquina da prefeitura, seus famosos chequinhos e uma ampla coligação de partidos que lhe garantiu 70% do tempo de TV no programa eleitoral.
Sua campanha foi a que recebeu mais dinheiro, cerca de 700 mil reais declarados, a maioria de pessoas que trabalharam ou atuam na Prefeitura ou em empresas que prestam serviços ao município como a Prodesan, Cohab Santista e Fundação Pró-Esporte. Outro artifício muito bem explorado foi o medo de que Santos quebrasse como outros municípios da região e que por isso era importante votar num candidato do partido do governador, o que garantiria as verbas estaduais para a cidade.
Santos é parte de uma tendência nacional
A reeleição do prefeito também é parte de um fortalecimento nacional das candidaturas de direita e em especial do seu partido, o PSDB. O partido de Alckmin e Aécio Neves foi o partido que mais cresceu em números de prefeituras. Na Baixada Santista, por exemplo, elegeu 7 dos 9 prefeitos.
A maioria da população desiludida com o petismo optou em sua maioria por votar nas candidaturas da direita. Como foi dito em nossa avaliação nacional – Eleições 2016: vitória da direita e reorganização na esquerda – tantos anos de conciliação com os ricos e poderosos, de alianças espúrias com os partidos de Sarney, Maluf, Feliciano e Collor, o estelionato eleitoral, enfim, a estratégia de governar para e com a burguesia cobrou seu preço.
Em Santos, Paulo Alexandre conseguiu inclusive votação expressiva nas regiões populares que eram bastiões do petismo, como a Área Continental, Zona Noroeste, Morros, Centro, Encruzilhada e Jabaquara. A candidata Carina Vitral, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), que disputou a prefeitura pela chapa PCdoB/PT, ficou com 6,61% dos votos válidos (14.650), o que representa menos de um terço da última votação de 2012 de Telma de Souza (PT), quando quatro anos atrás obteve 41.623 votos.
O que não significa a morte do PT santista, uma vez que o partido conseguiu voltar para Câmara de Vereadores elegendo Telma de Souza e Chico, sindicalista do porto, únicos que não são de partidos integrantes da coligação que reelegeu o tucano.
A única candidata da esquerda socialista, Débora Camilo do PSOL, teve 3991 votos. Foi a maior votação da legenda em Santos, que acabou sendo uma das maiores vítimas da reforma eleitoral de Cunha: Débora teve apenas 13 segundos de programa eleitoral na TV e ainda foi barrada no debate na filial da Rede Globo na região, a TV Tribuna.
Outro dado a ser avaliado é o crescimento das abstenções e votos nulos e brancos. As abstenções foram de 23,66%, os votos nulos 10,46% e os brancos 3,80%. Assim, os “votos em ninguém” subiram de 25,48% em 2012 para 37,92%.
Pra barrar os ataques é preciso unidade
O que é certo do resultado é que podemos esperar muito mais ataques aos nossos direitos por parte de Paulo Barbosa, Alckmin e Temer, agora fortalecidos pelas urnas. Por isso, precisamos realizar aquilo que não conseguimos fazer nas eleições em Santos: unificar o conjunto das organizações da esquerda que não se vendeu, PSOL, PCB, PSTU e outros grupos socialistas como o MAIS, a ASS e os lutadores independentes para que atuem como um ponto de apoio para as lutas que virão.
Foto: George Gianni
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