Por: Cássia Millene*, de São Luis, MA
As religiões de matriz africana vieram para o Brasil juntamente com as negras e os negros sequestrada(o)s da África no período de escravidão. Os primeiros povos foram os bantos, seguidos dos povos da África Ocidental, principalmente do Golfo do Benin. O tráfico de escravos durou 350 anos e mais de quatro milhões de negras e negros foram trazida(o)s para o Brasil. “Essa(e)s negra(o)s trouxeram consigo o trabalho com o ferro. Foram mestres da mineralogia, mestres da agricultura tropical e foram os mestres da criação de gado extensiva”, de acordo com Alberto da Costa e Silva, diplomata e historiador, do Rio de Janeiro.
Trouxeram também a religiosidade, que lhes servia de forma de comunicação, por conta da oralidade e resistência, o Candomblé e o Vodum. No Candomblé temos uma forte ligação familiar. Os Orixás cultuados são ancestrais divinizados. E no Vodum, a coletividade, nunca o individualismo. Os Voduns são protetores das comunidades, que podem ser aldeias, famílias, ou reinos. (A Rota dos Orixás)
A presença das mulheres na religião é marcante. Elas participam de tudo, desde Orishás, que são mulheres com características ‘masculinizadas’ pela sociedade patriarcal e machista, como por exemplo as Guerreira (Yansã). Forças das águas doces (Oxum) e todas as demais orishás possuem, mesmo que não sendo a principal. Até na função de zeladoras (Yás/Yalorixás/Yabás) dos Ylês (terreiros/barracões). São elas as responsáveis pelo desenvolvimento espiritual e pela transmissão do conhecimento, como as histórias da origem ,até as doutrinas entoadas nas giras.
O primeiro terreiro de Vodum no Maranhão é a Casa das Minas datada de 1849 e fundada por uma negra escravizada do Daomé, mãe do rei de Gezo provavelmente. Quando Adandozé foi feito rei, ele procurou se desfazer do outro lado da família. Mandou vender a rainha, Nã Agomtimé, mãe de Gezo, um príncipe, e toda a comitiva como escravos.
Nos terreiros, as mulheres são a grande maioria e têm lugar de destaque, não podendo apenas ser ogãs, tocar os tambores e atabaques, que é apenas para homens, vivência local. Participam ativamente da vida e funcionalidade do Ylê em todos os aspectos. São respeitadas e consultadas sempre por todas as pessoas que frequentam o Ylê sobre os mais diversos aspectos de suas vidas.
As religiões de matrizes africanas são das poucas, se não as únicas, que ainda conservam como modelo funcional o hierárquico matriarcal, onde a centralidade da mulher no que tange ao poder decisório de tudo, ao lado dos homens que colaboram e participam, é respeitado em sua totalidade. Os chamados ‘Orixás de cabeça’, nossa proteção que em nada tem a ver com a do cristianismoe catolicismo, são três e na maioria das vezes, duas mulheres e um homem, para que haja equilíbrio, vivência local. Muitas das nossas características são herdadas de nossa(o)s guias.
Atualmente, existem vários Ylês zelados por homens, porém as mulheres ainda são maioria nas giras, ficando aos homens a função de ogãs.
*de terreiro desde sempre
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