Por: Raíssa Bezerra, de Recife, PE
Fomos surpreendidas e surpreendidos nesta semana com o resultado de uma pesquisa encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Um a cada três brasileiros acredita ser da mulher a culpa pelo estupro sofrido. Este resultado chamou a atenção por guardar em si o conteúdo nefasto da forte cultura do estupro construída entre o nosso povo, que além de impor uma realidade violenta em nossas vidas, nos faz vítimas duas vezes quando relegam sob nossas costas a tão pesada culpa pelo estupro ou assédio sofrido.
A cultura que incentiva os estupros está inserida na sociedade de diversas formas, em músicas e filmes, na família, escola, religiões e um longo, entre outras. A falsa ideia de que nosso corpo não é exatamente nosso. O machismo é uma realidade nas nossas vidas e os casos recentes são a ponta de um iceberg de violência. Em Recife, por exemplo, foram registrados de janeiro a agosto deste ano 965 casos de violência sexual. É necessário fazer um escândalo. É necessário dar um basta.
As mulheres são o front de parte importante das lutas em nosso país. A organização das mulheres trabalhadoras conseguiu arrancar vitórias importantes. A desobediência civil feminina que junto aos homens derrubou Cunha é só um dos exemplos. Estamos mobilizadas em defesa de nossas vidas.
No entanto, neste debate, é importante incorporar um tema. Qual é o papel dos homens nesta luta? Acredito ser essencial a incorporação imediata dos homens de nossa classe na luta contra a barbárie machista. É preciso que se rompa o comodismo de ser homem, é necessário uma postura firme e propositiva dos companheiros que lutam ao nosso lado por outra sociedade. Isso significa ser o cara chato entre aquele seu grupo de amigos homens. Não queremos ser as ‘do contra’ sozinhas. Significa repensar na relação com as companheiras, questionar as próprias posturas nos ambientes privados, opinar publicamente sobre este tema e incentivar outros colegas a o fazerem. Tomar o partido, sabe como é?
O protagonismo dos setores oprimidos na luta pela libertação não está questionado aqui. Não iremos relegar aos homens o papel principal da quebra dos nossos grilhões. Esse é nosso. O que está sendo frontalmente confrontado é que postura e lugar terão os companheiros de tantas lutas. Acredito ser pedagógica para a luta contra o machismo que violenta, mata e estupra a postura ativa dos homens, além, lógico, da poderosíssima organização das mulheres.
Veja galeria de fotos da campanha contra o estupro
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