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Colunas

República do Power Point

Silvia Ferraro

Feminista e educadora, covereadora em São Paulo, com a Bancada Feminista do PSOL. Professora de História da Rede Municipal de São Paulo e integrante do Diretório Nacional do PSOL. Ex-candidata ao Senado por São Paulo. Formada pela Unicamp.

Por: Silvia Ferraro, colunista do Esquerda Online

Não está soando muito estranho que na semana seguinte em que aumentaram os atos pelo Fora Temer, apareça uma força-tarefa da Lava-Jato, com um power point mal feito, com clima apelativo no Jornal Nacional, indiciando criminalmente o ex-presidente Lula?

Após o Impeachment, os atos pelo Fora Temer e por novas eleições tomaram as ruas de várias capitais. Foi surpresa pra muita gente que achava que com o golpe parlamentar, o povo ia se acomodar em casa, na sua vida pacata, aceitando todas as ‘boas novas’ do ilegítimo de plantão. Só que não! O que vimos foi a multidão de volta às ruas, uma maioria de jovens, mas também os mais experientes, de sem-teto a sem emprego, de precários a assalariados, o que vimos foi uma massa de gente inconformada querendo a cabeça do Temer. Bom que se diga, que a maioria não estava indo às ruas pedindo a volta da Dilma, mas reivindicando o direito de decidir, de escolher uma outra alternativa.

O governo, de salto alto, achou que era uma bobagem de umas 40 pessoas. Mas, os cem mil na Paulista no domingo (4), fizeram o Planalto repensar seus cálculos. Afinal, se mexeu em tantas peças do tabuleiro, se fez tanta ginástica para trocar um presidente, que não pode ser que agora haja protestos que atrapalhem a aprovação de todos os projetos que estão sendo arquitetados. Flexibilizar e aumentar a jornada de trabalho diária, aumentar o tempo para a aposentadoria, reduzir as verbas para a saúde e educação, enfim, um duro e amargo ajuste estrutural no país.

Impressionante como a Lava Jato aparece com suas pirotecnias em momentos chaves. É impossível não estabelecer a relação que existiu entre a Lava Jato e o Impeachment. A Lava Jato subsidiou a narrativa da corrupção, tão necessária para levar a indignada classe média às ruas. Sérgio Moro e a ‘República de Curitiba’ viraram heróis nacionais. Que existia corrupção sistêmica entre o mundo das empreiteiras e as relações com as empresas estatais e, portanto, com o governo petista, não tenhamos dúvida, porém, a tal Justiça Federal foi e continua sendo seletiva. A Lava Jato é direcionada por objetivos políticos e disso não tenhamos dúvida também.

Os suspeitos da operação Lava Jato são muitos, entre eles, Renan Calheiros (PMDB), Romero Jucá (PMDB), Antônio Anastasia (PSDB), o próprio Cunha (PMDB), e uma série de outros nomes. Mas, é inegável que a emergente moralidade da justiça burguesa tem alvo preferencial neste momento. Com a volta das mobilizações, estão com medo de um ‘volta Lula’ em 2018. Governos de conciliação de classes não mais interessam à burguesia na situação de crise econômica. Querem um legítimo representante de seu extrato social. Lula, por mais que tenha tentado ser um dos de ‘cima’, circulando nas altas esferas burguesas, continua sendo visto pela elite como um dos de ‘baixo’.

Não confio em Lula, mas confio muito menos em Sérgio Moro, Lava Jato, power point requentado, e na ‘convicção’ da justiça burguesa. O indiciamento de Lula neste momento está claramente a serviço de impedir a candidatura nas eleições de 2018. A classe dominante sabe que Lula seria o único nome que poderia desbancar um Aécio Neves, ou um Serra, estes sim, filhos legítimos de quem manda no país. Entender o interesse político de classe por trás da operação Lava Jato é chave para se posicionar contra o indiciamento e a prisão de Lula.

Eu não votarei em Lula em 2018. Lula mostrou não ser digno de representar os trabalhadores quando se aliançou com os burgueses. Mas, o direito de julgá-lo não cabe ao almofadinha do Sérgio Moro. Lula deve ser julgado pelos seus.