Por André Albuquerque
No início da semana, a Polícia Militar de Alagoas realizou uma operação intitulada “Área de Lazer” no trecho da orla da Ponta Verde cuja via, todos os domingos, é fechada para o lazer de centenas de jovens que frequentam o local. Durante a operação, a PM realizou a abordagem simultânea de 150 pessoas, conduzindo-as em vans e micro-ônibus até uma base próxima para averiguações.
O coronel responsável pela operação afirmou à imprensa alagoana que o critério utilizado para as abordagens são pessoas que “aparentam estar usando entorpecentes, que tenham tatuagens ou que estejam vestindo camisa de torcidas organizadas”. E concluiu dizendo que “esse é o perfil de pessoas que só vão para a orla para a prática de delitos”. Outro PM justificou a operação afirmando que “nos últimos meses houve uma mudança no perfil do público que frequenta a Rua Fechada”. As frases da PM alagoana lembram o discurso reacionário do Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro que no ano passado deteve 15 jovens à caminho de uma praia sob a justificativa de que “não é possível um jovem ir à praia sem dinheiro para comer”.
A operação do governo Renan Filho (PMDB) é claramente uma política de “higienização social”. As revistas e a condução até a base da PM são uma forma de humilhar e constranger centenas de jovens, em geral negros e pobres, tratando-os como criminosos. É uma resposta ao fato deles ousarem frequentar os lugares próprios da elite branca maceioense. A prática desse racismo institucional é somente a “ponta do iceberg”. A face mais cruel dessa polícia racista e elitista atinge a juventude dentro do próprio bairro nas invasões de casas e agressões nas favelas ou até mesmo na matança de jovens. De acordo com os dados do mapa da violência 2016, divulgados recentemente, Alagoas é líder no país em mortes por arma de fogo e o estado mais violento para a população negra: a cada 13 vítimas de homicídio, 12 são negras.
Como se não bastasse a violência urbana gerada pela desigualdade de renda e pela falta de investimentos públicos nas áreas sociais, a atual política de segurança pública está falida e não tem o interesse de realmente combater a criminalidade. Os governos através de suas polícias declaram guerra aos pobres e enxergam qualquer morador da periferia como suspeitos. São incapazes de imaginar que, ao invés de repressão e constrangimentos, a juventude precisa é de mais áreas de lazer, da realização e acesso aos eventos culturais, de incentivo à prática de esportes. Não é, portanto, coincidência que a Academia Maceió construída à beira mar da orla da Jatiúca pelo prefeito Rui Palmeira (PSDB) seja frequentada basicamente por jovens brancos e de classe média.
À juventude negra e periférica ficam reservados os famosos “rachinhas” nos campos de futebol improvisados nas praias poluídas da cidade de Maceió. E, ao que depender da polícia militar, o Apartheid vai continuar pra que fique bem claro qual é a praia do pobre e qual é a praia do rico. Não podemos nos intimidar!
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