Pular para o conteúdo
Especiais
array(2) { [0]=> object(WP_Term)#3887 (10) { ["term_id"]=> int(4310) ["name"]=> string(39) "Intervenção Militar no Rio de Janeiro" ["slug"]=> string(37) "intervencao-militar-no-rio-de-janeiro" ["term_group"]=> int(0) ["term_taxonomy_id"]=> int(4310) ["taxonomy"]=> string(9) "especiais" ["description"]=> string(0) "" ["parent"]=> int(0) ["count"]=> int(34) ["filter"]=> string(3) "raw" } [1]=> object(WP_Term)#3891 (10) { ["term_id"]=> int(4350) ["name"]=> string(13) "Marielle Vive" ["slug"]=> string(13) "marielle-vive" ["term_group"]=> int(0) ["term_taxonomy_id"]=> int(4350) ["taxonomy"]=> string(9) "especiais" ["description"]=> string(0) "" ["parent"]=> int(0) ["count"]=> int(207) ["filter"]=> string(3) "raw" } }

As últimas palavras de Marielle e o editorial do Jornal do Brasil

Reprodução edição 16/03/2018

Reprodução edição 16/03/2018

Últimas palavras, de quem? Para quem?

Kelly Adriane de Campos*, do Rio de Janeiro (RJ)

No dia 16/03/18, o Jornal do Brasil publicou em primeira página um artigo de autoria de Marielle Franco, que segundo o jornal, fora enviado horas antes de seu assassinato. O artigo escrito por Marielle é contundente ao afirmar que “as mortes na favela têm cor, classe social e território”. E que a “sensação de segurança” a partir da intervenção não passa de um discurso político-midiático.

Ao final do artigo, como uma nota de rodapé chamando a leitura do editorial, está escrito que por “por ela” (referindo-se à Marielle), aguardavam os bons resultados da intervenção e que aqueles que ela achava que eram vítimas da intervenção, seriam os beneficiados. No editorial, o jornal polidamente nega tudo que foi dito por Marielle em seu artigo, afirmando todos os bons e corretos motivos para a realização da intervenção, de forma escancarada.

No rodapé, Jornal do Brasil defende a intervenção militar, respondendo ao artigo de Marielle.

O que surpreende é que não há questão em aberto, há uma afirmação clara e o posicionamento do jornal a favor da intervenção e em resposta ao artigo. Apresentam então, uma “pegadinha” no enunciado do artigo, diria até, uma falsa questão. Pois não se trata ali das “Últimas palavras de Marielle”, mas sim que a última palavra é a do próprio jornal, do editorial e do que está para além da certeza absoluta de que a Intervenção traz bons resultados. Bons resultados, para quem?

Sendo assim, o que supostamente seria dar voz e palavra à Marielle através da publicação do artigo, o Jornal do Brasil faz uma inversão, fazendo prevalecer “a sua própria verdade”, e o que interessa a eles próprios. Portanto, as palavras, o artigo escrito por Marielle, se transfigura na manipulação da palavra feita pelo editorial, que não suporta o que deveria ser a função do jornalismo: fazer ressoar a palavra de quem se colocou à trabalho, escutando, fazendo circular a palavra entre muitos, dando voz aos diferentes segmentos e movimentos. Vozes que não costumam ser escutadas e Marielle levou às últimas conseqüências, pagando um preço alto, com a própria vida. Mas não deixou de dizer o que era preciso dizer. Fez a palavra dela própria e de tantos outros ecoar, não se acovardou e seguiu corajosamente.

Portanto, o Jornal do Brasil, o seu editorial, está a serviço de quem? De quem é a última palavra?

“Não te aflijas com a pétala que voa:
Também é ser deixar de ser assim.
Rosas verás só de cinza franzida,
mortas intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos,
ao longe, o vento vai falando em mim.
E por perder-me é que vão lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.”
(Cecília Meireles)

* Kelly é musicoterapeuta e psicanalista, e trabalhadora da rede de saúde mental do município do Rio de Janeiro.

 

LEIA O ARTIGO DE MARIELLE

Reprodução Jornal do Brasil 16/03/2018
Reprodução Jornal do Brasil 16/03/2018