Por: Luiz Henrique, de Belém, PA
Todo belenense sabe muito bem que período de chuva, combinado com lua cheia, maré alta e uma cidade sem saneamento, são ingredientes mais que perfeitos para alagamentos. Para piorar a situação, imagine uma rua à beira da baía do Guajará que tradicionalmente já alaga com qualquer chuvinha. E foi exatamente nessas circunstâncias, e nessa mesma avenida, que o Carnaval de Belém foi realizado, ou o que se conseguiu realizar dele.
A chuva não perdoou. O sábado (3) já amanheceu com o tempo fechado, e a chuva só foi piorando com o passar do tempo. Ao final da tarde, já era um verdadeiro dilúvio e a cidade foi para o fundo. As quatro escolas de samba do grupo 1 que deveriam se apresentar no sábado foram impedidas, pois o cenário havia se transformado em um caos. A av. Marechal Hermes estava completamente alagada, sem quaisquer condições para que os foliões ou os carros alegóricos pudessem desfilar. No início da noite, já estava tudo cancelado e adiado para o dia seguinte. Que começassem as rezas e as simpatias para que a chuva desse trégua e o Carnaval pudesse ocorrer no domingo.
Mas essa catástrofe não ocorreu apenas por intempéries naturais. A ação (ou omissão) humana tem grande culpa no cartório. A começar pelo desprefeito Zenaldo Coutinho, que alterou o local do desfile para uma rua que não tem as mínimas condições de receber o desfile das Escolas de Samba. Enquanto isso, há um local construído com o objetivo único e exclusivo de receber o Desfile, que é a Aldeia Cabana. Todavia, como esta foi construída no mandato de Edmilson Rodrigues, atual deputado federal pelo PSOL, o tucano se recusou a utilizá-la, para evitar a lembrança do antigo gestor.
Por segundo, a humilhação que o povo belenense sofreu neste fim de semana só foi maior pois não há qualquer política de saneamento nos seis anos de mandato de Zenaldo. A cada período de chuva, os alagamentos só aumentam e os transtornos se tornam maiores para o povo. Mesmo sabendo que o tempo da chuva vai chegar, a Prefeitura é incapaz de realizar a limpeza dos canais e das galerias de esgoto da cidade. O resultado é uma verdadeira Veneza paraense.
E, para completar, a catástrofe do Carnaval é também reflexo da falta de investimento total na cultura local, por parte do poder municipal. O desfile das Escolas de Samba foi jogado no lixo, as tradicionais festas na quadra junina idem, os artistas populares não possuem incentivo algum, não há qualquer reconhecimento dos nossos Mestres do Carimbó, que morrem a cada ano na extrema pobreza, assim como inexiste programação cultural voltada aos jovens da nossa capital.
O alento que podemos ter, é que mesmo com todas as adversidades, o desfile ocorreu no domingo, mostrando toda a garra das Escolas de Samba e das comunidades que passam meses se preparando para o grande dia. Superando todos os obstáculos, desde a chuva, até o descaso da Prefeitura, as oito Escolas (Deixa Falar, Xodó da Nega, A Grande Família, Bole Bole, Quem são Eles, Piratas da Batucada, Rancho não Posso Me Amofiná e Escola de Samba da Matinha) fizeram um bonito desfile, recuperando a tradição carnavalesca da cidade.
Isso mostra que devemos confiar em nós, pois se dependesse do prefeito, estaríamos afundados, com a nossa Cultura jogada no lixo e o nosso orgulho na lama.
Foto: Arquivo | Diário do Pará
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