Pular para o conteúdo
BRASIL

Natal: Camelôs seguem em luta no Alecrim

Por Rielda Alves e Lucas Alvergas, de Natal/RN

Nessa sexta-feira (27), os camelôs realizarão sua sexta assembleia onde irão discutir os rumos do movimento.

Há várias semanas as trabalhadoras e trabalhadores camelôs do Alecrim, conhecido bairro comercial e popular da cidade, estão em mobilização contra um projeto apresentado pelo prefeito Carlos Eduardo Alves (PDT) em parceria com o grupo empresarial 25 de março – empresa com atuação no mercado de São Paulo. O projeto prevê a construção de um Shopping Center de sete pavimentos e duzentas lojas nas proximidades do atual camelódromo, o que gerará grande impacto na vida das pessoas que trabalham nas redondezas, pois na prática o projeto acabará expulsando da região inúmeros trabalhadores ao reordenar completamente a estrutura urbana da região. Além disso, a proposta é a demolição de prédios históricos da redondeza, como o Teatro Municipal Sandoval Wanderley, há anos vítima do descaso da prefeitura com as políticas culturais. A intervenção desse projeto no bairro foi tão impactante que gerou a importante campanha “Salve o Alecrim”.

Segundo o representante executivo do Grupo25 em Natal, Minás Aravanis, o Alecrim tem “um cotidiano similar a Rua 25 de março em SP, sua principal área de atuação”. Ele ressalta ainda a construção de “uma grande praça de alimentação” que em sua visão pretende “criar um espaço de alimentação com qualidade e preço justo”.

Num cenário de duros ataques e retirada dos direitos da classe trabalhadora e aumento crescente do desemprego a nível nacional, Natal é a terceira capital com a maior taxa de desempregados do Brasil, com 17,3%, como aponta Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE. As taxas na capital são superiores as taxas de todo o estado e da região metropolitana que foram de 15,6% e 15,8%, respectivamente. Havendo também uma perda de 35mil postos de trabalho nos últimos dois anos, a retirada das/os trabalhadores do Alecrim aprofundaria a crise e a situação precária dessa população.

Apresentado sem nenhum diálogo com a população ou com os camelôs, o projeto enfrentou forte oposição e levou os trabalhadores a se mobilizarem para defender sua permanência no local.

Para falar mais sobre isso, o Esquerda Online entrevistou Andreza Santos, camelô e militante do #MAIS:

EO: Porque as trabalhadoras e trabalhadores do Alecrim estão em luta?

Andreza: O que está acontecendo é que da noite para o dia a gente recebeu uma noticia de que todos os camelôs do alecrim teriam que ser retirados. E pra onde vamos? Todos para casa! Mais um ataque do prefeito de Natal. Ele não veio nos informar nada. Saiu uma matéria na mídia dizendo que todos os camelôs do Alecrim iriam sair do seu local de trabalho porque vão construir um shopping que foi vendido para os empresários. Então nesse shopping, se o trabalhador tiver 10mil reais ele vai poder comprar o direito de chave além $800 de aluguel por mês.  Mas todos nós sabemos que não temos essa condição de pagar 10mil por um direito de chave. E até já foram vendidos alguns pisos para grandes empresários. E pra onde nós vamos? Vamos pra casa? Então estamos todos preocupados. Estamos nos mobilizando pra ver se a gente consegue impedir essa proposta do governo.

EO: Atualmente, quantos trabalhadores sobrevivem do comércio informal  no Alecrim? Quantas famílias extraem daí seu sustento?

Andreza: Mais de três mil famílias. Contando mais com seus dependentes, porque são mais de três mil que estão no dia a dia por aqui, fora os que a gente deixa em casa. Filhos, mães, esposas, maridos, mais de três mil desempregados.

EO: Como você está vendo o apoio e a mobilização da população em geral pela causa dos camelôs?

Andreza: O apoio está sendo grande e a revolta maior ainda, porque como a pessoa chega a privatizar um bairro histórico como é o Alecrim?! E o comércio informal do alecrim não existe há apenas um ou dois anos, ele  faz  parte da história de Natal.

EO: e aqui tem muita disposição de luta? Os trabalhadores estão participando das assembleias?

Andreza: Então, estamos incansáveis, pois seja de noite ou de dia, estamos a disposição das assembleias, quando acontecem as assembleias os trabalhadores fecham a banca e participam, então estamos avançando né?!

EO: E quais são os próximos passos da luta? Vocês tiveram retorno da prefeitura ou algum órgão do governo?

Andreza: Com o prefeito exatamente a gente não conseguiu, mas conversamos com o secretário de Serviços Urbanos – SEMSUR – Jonny Costa, e conquistamos alguns avanços, pois o primeiro passo q eles queriam era que, já no dia 5 passado, fosse retirados os trabalhadores, e a gente conseguiu impedir que nos tirassem imediatamente, adiando para o dia 11 de novembro o início do processo de reorganização e retirada dos camelôs. E as discussões com a prefeitura ainda não acabaram.

A mobilização fez com que a prefeitura recuasse, mas a gente precisa seguir atentos em relação à construção deste shopping no Alecrim, é importante continuar debatendo com a população e mobilizando camelôs e demais trabalhadores do bairro. No dia 27 vamos realizar nossa sexta assembleia. Precisamos continuar em mobilização para impedir esse projeto e garantir nosso direito ao trabalho e condições de vida.

Fotos: Catarina Santos