Por: Thiago Zanini, de Campinas, SP
É importante que as leis e regulamentações estatais estejam ligadas, cada vez mais, à ciência do que à religião. Com isso, permite-se que se quebrem tabus impostos na sociedade que atrasam desenvolvimentos científicos, tecnológicos e medicinais. A maconha já é uma comprovada planta medicinal, com inúmeros efeitos benéficos como um fármaco, seja ela em seu estado natural, ou sintetizada em laboratório.
Quanto aos fins medicinais da maconha, ressalta-se as propriedades terapêuticas do THC e do canabidiol no tratamento da dor, com baixos efeitos colaterais em relação aos remédios tradicionais; relata-se uma melhora dos sintomas de náuseas e vômito de pacientes causados pela quimioterapia; controle dos sintomas de pacientes com esclerose múltipla e outras patologias neurológicas e neurodegenerativas, como a Doença de Parkinson e Alzheimer.
Ressalto o trecho de um estudo sobre o caso: “Os agonistas de canabinóides que atuam através dos recetores CB1 e proteínas G levam à inibição da libertação de glutamato, isto sugere que a atividade destes recetores pode reduzir a excitotoxicidade e subsequente lesão neuronal causada por uma elevada libertação de glutamaot. Além disso, demonstrou-se que, após a lesão do cérebro, a concentração de 2-AG tende a aumentar para exercer o seu papel neuroprotetor. A administração de 2-AG após a lesão mecânica no hipocampo, permite uma recuperação mais rápida e reduz a morte neuronal. Além disso, os canabinóides têm sido propostos como agentes terapêuticos potentes no tratamento de esclerose múltipla, por desempenharem um papel importante na regulação da inflamação autoimune do sistema nervoso central. Além disso, verificou-se que um agonista do recetor canabinóide não seletivo inibe o influxo de leucócitos para o SNC retardando a progressão da doença autoimune”.
No caso de pacientes com SIDA (baixa imunidade), o consumo de maconha causa uma inibição da náuseas, melhora o apetite, reduz a ansiedade, alivia dores, melhora o sono e inibe a candidíase oral. A cannabis também tem sido utilizada no tratamento de distúrbios de depressão, ansiedade e distúrbios do sono.
Na semana anterior, a revista em questão publicou um estudo a respeito de testes com THC em ratos de laboratório. Importante ressaltar que, apesar de serem roedores, o desenvolvimento cognitivo desses animais muito se assemelham com os dos seres humanos, não à toa é que se utilizam esses animais nos testes farmacêuticos, medicinais e até físicos.
Nesse estudo, analisavam desempenho de ratos dentro de labirintos e sua capacidade de se localizarem, locomoverem e raciocinarem dentro desses espaços. No caso dos ratos de meia idade e idosos, o uso de pequenas doses diárias de THC lhes permitiam uma melhora cognitiva, que impulsionava sua memória e lhes davam bons resultados no teste. Porém, no caso dos ratos muito jovens, esse efeito era o oposto, diminuindo sua capacidade de aprendizado e a memória a curto prazo.
A regulação da maconha como uma planta medicinal é um marco na ciência e um ganho para a sociedade. Porém, não pode parar por aí. A legalização da maconha tem se mostrado importante para a regulamentação do uso em sua escala recreativa. Da maneira como está posta a maconha em nossa sociedade, qualquer um, em qualquer faixa etária e nível de exposição, pode fazer uso dela.
Também é importante ressaltar o risco à saúde por conta da baixa qualidade da maconha que chega aos usuários. O tráfico como produtor e comercializador da droga traz prejuízos a todas as esferas da sociedade, intensificando a violência urbana, além dos altos custos que a guerra às drogas ocasiona aos cofres públicos.
Legalizar é uma questão de Estado, políticas pública, financeira e de saúde.
Foto:(Georgia Army National Guard photo by Maj. Will Cox/Released)
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