Matheus entre a vida e a morte: a covardia está de farda nas ruas

Por: Gibran Jordão*, de Goiânia, GO
Coord. Geral da Fasubra e membro da Sec. Executiva da CSP-Conlutas

Começo a escrever esse texto e não paro de pensar que notícias vamos ter nos boletins médicos do Hospital de Urgências de Goiânia nesse domingo(30). O estudante Matheus Ferreira está gravemente ferido com traumatismo cranioencefálico, respirando com ajuda de aparelhos na Unidade de Tratamento Intensivo. Acompanhei de perto o socorro que os ativistas do movimento prestaram a Matheus, como também o socorro do corpo de bombeiros que demorou a atender os apelos. É preciso dar toda solidariedade a Matheus e a toda a sua família e amigos. É um dever denunciarmos a violência policial e seus objetivos.

Não foi planejado, mas acabei participando da manifestação que ocorreram em Goiânia na greve geral dessa sexta. Não sei quantas pessoas participaram em números exatos, mas era grande, bem maior do que temos costume de fazer em conjunturas normais. Era a força da greve geral nas ruas da conservadora cidade de Goiânia, uma verdadeira afronta para as autoridades e para os tucanos que estão no poder a quase duas décadas em Goiás.

As centrais sindicais e movimentos sociais se concentraram em pontos diferentes, mas se encontraram às 11h, na Praça do Bandeirantes, no Centro da cidade. Para quem não conhece Goiânia, são tradicionais as manifestações nessa praça, localizada no cruzamento da Avenida Anhanguera com a Av. Goiás. Anhanguera é o nome dado pelos índios ao Bandeirante e quer dizer “Diabo Velho”. Goiás é uma derivação de Goyases, que é o nome da tribo indígena que vivia nessa região, na qual todos foram assassinados pelas tropas dos bandeirantes. No encontro dos Goyases com o Anhanguera, triunfa a estátua do Bandeirantes, soberba no meio do cruzamento das duas avenidas.

Matheus foi covardemente golpeado por um cassetete de madeira, que quebrou em sua cabeça. As fotos e vídeos que circulam na internet demonstram que o capitão da PM atingiu o estudante com toda sua força. Trata-se de um oficial experiente que sabia exatamente o que estava fazendo e que tem consciência do que um cassetete de madeira maciça pode destruir.

Matheus tombou aos pés do “Diabo Velho”, foi vítima da violência covarde do estado. O capitão da Polícia Militar que cometeu esse absurdo precisa ser preso e exonerado imediatamente. O governo de Marconi Perillo precisa ser responsabilizado por permitir e autorizar a repressão violenta contra os movimentos sociais. Assim como o governo ilegítimo de Michel Temer e o Congresso Nacional também são responsáveis por essa guerra social que estão provocando com as reformas da Previdência e Trabalhistas, entre outros ataques.

A violência policial tem o objetivo central de expressar a força de repressão do estado burguês que só existe para defender até as ultimas consequências os negócios da burguesia. Em tempos de crise econômica, quanto mais os negócios vão mal, mais violenta será a força policial. Quanto mais o nosso movimento crescer e incomodar, maior será a repressão.

Todas as organizações políticas, sindicais, populares e de juventude que estão na luta contra Temer e seus ataques precisam ter a máxima atenção para o tema da violência policial. A grande mídia vai sempre tentar desmoralizar nosso movimento, para ganhar a opinião pública para legitimar a repressão. Os serviços de inteligência da polícia vão se infiltrar no movimento para precipitar ações desnecessárias, gerando confusão que “justifique” a repressão. O choque muitas vezes vai provocar, intimidar e promover truculências para amedrontar pais e mães de família que querem estar nas manifestações, mas que vão passar a pensar duas vezes. Assim, com varias ações planejadas, vão tentando desidratar o movimento. E podem conseguir com mais dificuldade, ou mais facilidade. Evitar que as ações da polícia tenham sucesso e impedir que ganhem a opinião pública não é uma tarefa fácil, mas é parte de nossas responsabilidades.

A greve geral foi vitoriosa, mas vamos ter que fazer muito mais se quisermos derrotar Temer e suas reformas. A frente única formada pelas centrais e movimentos sociais precisa continuar e acordar um novo calendário de lutas unificado. Ao mesmo tempo, todas as organizações e ativistas não organizados precisam aumentar o grau de atenção e responsabilidade nesse momento.

Lembrem-se todas as vezes que estivermos marchando juntos em unidade. A covardia vai estar nas ruas de farda esperando o nosso primeiro deslize e falta de atenção para destruir nosso movimento.

Nós queremos que o nosso movimento ganhe mais e mais adesões. A luta contra as maldades de Temer tem que ser obra de centenas de milhares de trabalhadoras e trabalhadores. Isso significa que, mesmo preparando a nossa autodefesa, temos que calcular e medir mil vezes antes de qualquer ação mais radical, para não dar oportunidades e munição para as forças de repressão atuarem contra o movimento.

Nos enfrentamentos mais violentos da luta de classes nas ruas, fatos impactantes podem definir como a opinião publica vai se posicionar fortalecendo ou não o movimento. Precisamos aprender com os últimos grandes acontecimentos no país.

Em 2013, quando Alckmin autorizou a PM de São Paulo a abrir fogo contra a manifestação do passe livre, acabou errando na mão, gerou comoção e o movimento ganhou imenso alcance de massas, surgindo, assim, o que chamamos hoje de jornadas de junho. Por outro lado, vamos todos recordar também em como a morte do cinegrafista da Band foi utilizada sistematicamente para culpar e enfraquecer o apoio da opinião pública ao movimento e, de alguma forma, tiveram sucesso.

No 1 de maio, a cidade do Rio de janeiro vai ter um ato unificado e um dos objetivos centrais é denunciar a violência policial. Seria muito importante a construção de um ato em Goiânia essa semana. Como também em todo o país, em solidariedade a Matheus e de denúncia à violência policial. Esses atos podem ser o primeiro passo das ações unificadas que vamos precisar fazer no mês de maio.

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