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OPRESSÕES

Estudantes de medicina fazem alusão a estupro em foto com jaleco e calças abaixadas

Por: Letícia Pinho, de São Paulo, SP

Nesse fim de semana, estudantes de medicina da Universidade de Vila Velha, do Espírito Santo, publicaram uma foto nas redes sociais onde aparecem vestindo jalecos, com as calças abaixadas e as mãos simbolizando uma vagina. Em uma das postagens no Instagram, utilizaram a hashtag “#PintosNervosos”. No dia seguinte, o tema foi denunciado e divulgado nas redes sociais. A informação que se tem é que são estudantes do último ano de medicina da UVV e que seriam futuros ginecologistas.

 

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Postagem com fotos dos estudantes nas redes sociais tinha hashtag #PintosNervosos, com calças abaixadas e o uso dos jalecos

O Sindicato dos Médicos do Espírito Santo (Simes) comunicou o Conselho Regional de Medicina (CRM) sobre o caso, para que sejam tomadas medidas. A Universidade de Vila Velha se posicionou repudiando a ação e afirmando que será instaurada uma comissão de sindicância para apuração dos fatos e responsabilização daqueles que tenham transgredido as normas e códigos de ética que regulamentam as ações dos alunos.

 
Não se trata apenas de uma foto “polêmica”. Imagens como essa não estão descoladas da realidade machista em que vivemos e, num país com altíssimos índices de violência contra as mulheres, reforçam a cultura do estupro e naturalização da violência. Considerando apenas os boletins de ocorrência registrados no ano de 2015, ocorreu um estupro a cada 11 minutos. Esse número é assustador, mas ainda não é um dado de todos os estupros que acontecem. Os dados são baseados numa realidade de subnotificação. Apenas 35% das vítimas formaliza algum tipo de denúncia.
 
A imagem de médicos, vestindo jaleco que é um símbolo da profissão, com as calças abaixadas e uma vagina na altura do seu pênis é apologia a estupro, dá conotação sexual fetichizada à uma relação médico-paciente. Mulheres sofrem assédios e estupros todos os dias, inclusive em consultórios e clínicas médicas, como o terrível caso de Roger Abdelmassih que violentou dezenas de pacientes. Ou na USP, no caso do estudante de medicina Daniel Tarciso que é acusado de estuprar pelo menos 6 colegas da faculdade. Ele lamentavelmente foi absolvido pela justiça, numa decisão controversa que não levou em conta o relato das vítimas. O movimento feminista da universidade segue denunciando e pressionando para que ele não exerça a profissão. 
 
Ao longo das últimas duas semanas as mulheres mostraram que não se calarão diante do machismo seja vindo de artistas famosos ou de futuros médicos. Denunciaramos o assédio feito pelo ator José Mayer e obrigaramos a rede Globo a recuar e afastá-lo, denunciamos as agressões feitos por Marcos, participante do Big brother Brasil e ontem também forçamos a Globo a recuar expulsando o agressor do programa. Existe um fortalecimento das mulheres, do movimento feminista, denunciando a reprodução do machismo e pautando uma agenda política na sociedade.
 
É lamentável ver uma imagem como essa, mas a nossa denúncia e repercussão negativa do caso mostra que há uma contrapressão feminista real e que não está disposta a parar. 
 
Nota da Universidade de Vila Velha: 

“Diante o ocorrido neste domingo, a Universidade Vila Velha declara que repudia qualquer tipo de ofensa a uma profissão tão importante e fundamental como a medicina. Nosso compromisso com a educação não condiz com conduta apresentada nas publicações.

Hoje à tarde já está havendo uma reunião da coordenação do curso de Medicina para ouvir os alunos da foto e , em seguida, será instaurada uma comissão de sindicância para apuração dos fatos e responsabilização daqueles que tenham transgredido as normas e códigos de ética que regulamentam as ações dos alunos.

Deixamos claro que os atos dos alunos foram iniciativas pessoais e em desacordo com orientações que recebem dos professores e coordenadores da instituição.
UVV”
Foto: Reprodução Facebook/Instagram