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EDITORIAL

PT e PSDB. Encontro juntos?

Esta pergunta não é uma ironia e nem uma brincadeira de mau gosto. No próximo dia 18 de abril, as Fundações e Institutos ligados ao PT e PSDB (Fundação Fernando Henrique Cardoso e Instituto Teotônio Vilela), realizarão um encontro para discutir a política nacional e outros assuntos relacionados ao momento que vivemos no país. O encontro acontecerá na Fundação Perseu Abramo, ligada ao projeto petista.

A motivação inicial deste encontro se deu devido a pesquisa qualitativa feita pela Fundação Perseu Abramo na periferia de São Paulo, ela revelou um cenário complicado para o PT, de perda de influência, de relações orgânicas e baixa consciência política. Mas ambos partidos sinalizam horizontes mais amplos para a ocasião, segundo Márcio Pochmann, da Perseu Abramo, o objetivo é ‘reunir a inteligência brasileira para pensar o Brasil além do curtíssimo prazo’. Estarão na pauta a reforma política e a situação das instituições democráticas, em especial a relação entre os poderes Legislativo e Judiciário.

A estratégia de governabilidade?

Infelizmente, estamos diante de mais um fato que comprova que as lideranças do PT não estão dispostas a fazer nenhum balanço autocrítico dos mais de 13 anos no poder. O projeto de conciliação de classes segue como a estratégia central da cúpula dirigente que possui maior influência e o controle do partido.

Os setores mais conscientes do movimento de massas, que se colocaram contra o golpe parlamentar, contra as manifestações reacionárias e que estão lutando de todas as formas para fortalecer o campo de resistência aos ataques do governo ilegítimo de Michel Temer, não podem aceitar que a saída para o país seja uma nova reedição de alianças com os partidos de direita.

Os interesses dos trabalhadores e da juventude estão sendo jogados no ralo pelo Governo Temer. O projeto petista teve sua parcela de responsabilidade. Estamos diante de uma ofensiva burguesa brutal, os principais direitos e conquistas da classe trabalhadora brasileira estão sendo dilapidados, destruídos completamente. As poucas, porém, importantes conquistas que tivemos com a Constituição de 1988 estão sendo devoradas, na verdade a Constituição está sendo modificada através das reformas propostas pelo governo de Temer.

Se o referido encontro vai debater propostas estratégicas, pensar o Brasil no longo prazo, este é um motivo que torna ainda mais escandalosa a sua realização junto com o PSDB. É uma vergonha, o PSDB está no governo de Temer, não há proposta comum, seja a curto, médio ou longo prazo. A estratégia do pacto entre o empresário e o trabalhadores  da busca pela governabilidade a qualquer custo faliu. A direção lulopetista parece ter esquecido que o golpe parlamentar foi orquestrado pelo PMDB e PSDB.

 

Dizer não a colaboração de classes

A experiência com os governos de alianças com a burguesia, liderados pelo PT, gerou confusão e desilusão em vários setores do movimento de massas. Uma parcela importante dos que estão indo às ruas, não concorda com a política de colaboração de classes. Muitos, preocupados com o crescimento da direita, depositam em Lula a expectativa de uma alternativa viável.   Também é verdade, e a pesquisa feita pela Fundacao Persel Abramo, revela um dado importante, o PT perdeu parte importante de sua base.  Na periferia de São Paulo, antigo reduto petista, ex-eleitores veem semelhanças entre Lula, Dória e Silvio Santos.

Ao longo da história, a experiência nos mostra que governos desta natureza, cedo ou tarde, levam o movimento de massas a desmoralização, a desorganização, a desmobilização e a derrotas políticas dramáticas.

O PT andou de mãos dadas com o PMDB, tinha neste partido seu principal aliado, que não hesitou em se aliar ao principal partido de oposição, o PSDB, para levar adiante o Impeachment.

Neste momento tão difícil, de ofensiva contra a maioria do povo, após treze anos de alianças com a direita e após o golpe parlamentar, é importante que os trabalhadores e jovens que buscam uma alternativa política parem e reflitam sobre o significado desta aproximação entre tucanos e lideranças do PT. Qual projeto é possível com PSDB? Como é possível ‘salvar’ o Brasil de mãos dadas com FHC, Dória, Serra, Aécio e companhia?  O que esperar de uma saída pensada junto com os tucanos? O PSDB apoia ou não a retirada de direito dos trabalhadores?

Não podemos confiar nesta política. Infelizmente a direção do PT conduziu o partido e suas bases a um caminho de derrotas. Temos que jogar todas as forças na luta agora, nossa classe precisa da greve geral e da frente única dos trabalhadores. A prioridade é a aliança com a burguesia para 2018 ou derrotar o governo Temer? Ao que parece, para as cúpulas de PT e PSDB é mais interessante deixar Temer se desgastar com as reformas impopulares antes de 2018, para que possam disputar as eleições e promover a mudança no sistema político em situação mais favorável.

Contra este projeto só uma alternativa. O caminho é mais difícil, porém aliado aos interesses da nossa classe. Nos resta aprender com os erros e traições do passado recente, precisamos de uma alternativa política com independência de classe, sem alianças com a burguesia. Uma Frente de Esquerda Socialista que unifique PSOL, PSTU, PCB, MTST e todas as organizações de esquerda sem legenda e os movimentos sociais combativos. É urgente que tenhamos também uma pré candidatura unificada. Só assim apontaremos para a construção de uma nova alternativa de poder para a classe trabalhadora brasileira.

Foto: Ricardo Stuckert. Retirada do Jornal GGN. O Jornal de Todos os Brasis.