Por Gleice Barros do ABC, SP.
No dia de sua posse, 20 de janeiro, Donald Trump disse ‘O establishment protegeu a si próprio, mas não as pessoas desse país (…). [A partir de hoje] tudo muda’. Passados dois meses, o magnata e presidente dos Estados Unidos enfrentou na última semana o primeiro embate parlamentar. E perdeu.
A primeira tentativa de Trump em aprovar mudanças no sistema de saúde fracassou. E o imbróglio veio de seu próprio partido. Diversos senadores do partido republicano se recusaram a votar na proposta de reforma do sistema de saúde que colocaria um limite ao programa aprovado ainda na gestão de Barack Obama. Trump apresentou o projeto com alterações feitas à primeira versão apresentada pelo líder republicano na Câmara dos Representantes, Paul Ryan, que foi construída em poucas semanas. Analistas dizem ter sido uma precipitação, já que o projeto em questão tenta impor limites ao programa Obamacare que passou por cerca de um ano de construção em 2009.
Apesar de o Obamacare incomodar os republicanos, o projeto de lei de Trump, construído em pouco tempo e sem apoio popular, não foi suficiente para agregar todo o partido em torno de sua aprovação. A Casa dos Representantes discutiu na véspera da votação no plenário e, já aí, os republicanos impuseram um adiamento. Em seguida, veio a negativa na câmara.
Republicanos contra Trump?
A derrota de Trump expõe a crise interna no partido republicano, cujas alas conservadora e moderada se somaram para dizer não à reforma. A ala conservadora alega que o plano não é suficiente para resolver o problema orçamentário criado pelo Obamacare, enquanto setores mais moderados dizem ser contra devido ao impacto que as mudanças podem ter na base eleitoral.
O fato é que a derrota de Trump em seu primeiro embate com o legislativo do país soou como uma desmoralização. Mesmo a partir de um discurso, ainda em tempos de campanha eleitoral, de superação do funcionamento político burocrático historicamente presente nos EUA, este primeiro embate prova que Donald Trump precisará de mais do que apenas sua capacidade administrativa e empresarial para lidar com as contradições de uma base partidária que há meses demonstra desconfiança em suas promessas de campanha.
Vale lembrar que na reta final da campanha presidencial em 2016, parte significativa dos republicanos pressionaram Trump para que amenizasse seu discurso polêmico e radical e alguns até queriam que ele retirasse seu nome do páreo presidencial.
Reação presidencial
Após este embate, como de costume, Trump esbravejou sobre a falta de lealdade de seus correligionários e culpou Paul Ryan. Nesta quinta (30), declarou, no Twittter “O Freedom Caucus [ala conservadora radical dos republicanos] vai prejudicar toda a agenda republicana se não entrarem para o time e rápido. Precisamos combater eles e os democratas em 2018!”. A fala se refere às eleições chamadas midterm, que ocorrem dois anos após as eleições presidenciais e nas quais se renova toda a Câmara dos Representantes e um terço do Senado.
Como de costume, Trump promete não baixar a guarda para os que o desafiaram, mas em meio a um início de gestão bastante turbulento (com os rumores do envolvimento russo nas eleições presidenciais em seu favor, além da edição de decretos restritivos de direitos como o dos imigrantes), parece que Trump terá que se encaixar de alguma forma no establishment para aprovar seu programa retrógrado. Claro que nesse jogo, quem sairá perdendo serão os americanos trabalhadores.
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