Por: Camila Lisboa, de São Paulo, SP
Há exatos 57 anos, o mundo olhou para a África do Sul e indignou-se. O massacre de Shaperville matou 69 negros e negras e essa ação criminosa e racista escancarou o Apartheid e a forte discriminação racial no país.
Em uma manifestação pacífica, 20 mil protestavam contra a Lei do Passe, essa lei obrigava que negros e negras sul-africanos andassem com um caderno que controlava os locais em que podiam circular. O objetivo desta lei era consolidar a forte segregação racial que tomou conta do país, imposta pela elite branca, que conduzia o país sob uma aberta perseguição à maioria negra.
A dureza com que a polícia sul africana enfrentou o ataque foi repudiada internacionalmente e a opinião pública internacional passou a questionar e repudiar o estado de Apartheid instalado no país. Em 1969, a própria ONU oficializou o dia 21 de março como Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial, em alusão ao ocorrido em Shaperville.
O racismo e o preconceito ainda é muito presente no país. Apesar de a lei do Apartheid ser obsoleta em termos legais, é verdade que ainda a África do Sul vive sob forte segregação racial, que diferencia fortemente a população branca da população negra, e a maior tradução são as diferenças sociais entre negros e brancos no país.
Em 2012, uma forte greve dos trabalhadores mineiros de Marikana, na África do Sul, escancarou essas diferenças. E os combates mortíferos que a polícia travou contra a onda grevista, de mais de 600 mineiros, seguiu revelando que a cultura do Aparthied persiste na África do Sul.
A luta internacional dos povos contra o racismo e a discriminação segue na ordem do dia. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sustenta um discurso de ódio contra povos e raças no mundo inteiro, colocando ao mundo inteiro a possibilidade de vários retrocessos no que diz respeito aos direitos de sobrevivência, o direito de existir com uma raça, uma etnia, um povo, uma religião.
No Brasil, o racismo não se desenvolveu sob a forma da discriminação aberta, consolidou-se através de uma formação social que superexplorou a mão de obra escrava e criou o mito de que as diferenças entre negros e brancos não existiam, quando, na verdade, até hoje os negros e negras amargam as consequências sociais de séculos de escravidão e humilhação.
Em um contexto de forte questionamento ao racismo, em que milhares foram às ruas nos Estados Unidos, dizer que Vidas Negras Importam, e que uma parcela importante do ativismo brasileiro se indigna com a atitude racista e estúpida de um segurança do Habibs que matou uma criança negra que pedia comida na porta do estabelecimento, a memória da indignação de Shaperville deve estar em nossas bandeiras, em nossas ações e em nossa luta.
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