Por André Freire, Colunista do Esquerda Online
No inicio do ano voltei a morar na minha cidade natal, o Rio de Janeiro. Esse retorno tem me propiciado reencontros muito legais, com velhos amigos. Nessa semana, na manifestação unitária do dia nacional de lutas e paralisações, tive um desses encontros, com um amigo de muitos anos, que segue defendendo o PT e Lula.
Nossa conversa, sempre amistosa, foi muito interessante. Começamos por um grande acordo, nossa raiva do governo ilegítimo de Temer, de quanto são absurdas as suas medidas reacionárias como a reformas da previdência e trabalhista, que será necessária uma ampla unidade para lutarmos para derrotar todos estes ataques, entre outros acordos importantes para o momento em que vivemos em nosso país.
Nossos acordos, que permitiram estarmos juntos naquela importante manifestação, esbarraram em uma diferença importante entre nós, que é parte dos debates que acontecem entre os que lutam contra o governo golpista: qual é a alternativa política de oposição temos que construir?
Meu amigo tomou a ofensiva na discussão. Afirmou que os governos do PT, especialmente os de Lula, melhoraram a vida do povo, com medidas concretas, as que foram possíveis na correlação de forças que exista em nosso país. Que justamente por isso, os setores mais conservadores deram o golpe e tiraram Dilma do governo.
Meu amigo segue: que a mesma unidade que foi fundamental para construir aquela linda manifestação, deveria se repetir na construção de uma ampla unidade da esquerda para as eleições de 2018. Que, evidentemente, essa unidade deveria ser encabeçada novamente por Lula. Para ele, essa seria a única chance de derrotarmos a direita nas eleições.
Ele é também é crítico aos 13 anos do governo do PT, defende que a possibilidade de um novo governo do Lula seria a chance de mudarem o rumo, corrigir os erros, limitar as alianças eleitorais somente a Ciro Gomes e aplicar um programa de mais enfrentamento contra o capital, principalmente com a TV Globo, etc… De fato, ele tinha fortes argumentos.
Quero confessar, que em um primeiro momento, fiquei meio na defensiva. Afinal, sem dúvida nenhuma, a unidade é uma necessidade diante da onda de ataques dos patrões e seus governos sobre a classe trabalhadora, a juventude e o conjunto dos explorados e oprimidos.
Mas, logo, me recuperei, e de forma calma e firme, eu acho, fui contrapor seus principais argumentos. Comecei dizendo que considerava muito positivo para os trabalhadores e para a esquerda se realmente Lula e o PT tivessem realmente dispostos a rever sua política de alianças e seu programa de governo.
Que seria ótima uma frente de esquerda ampla, que colocasse na ordem do dia a unidade da classe trabalhadora, da juventude e da maioria do povo. Que nessa frente não caberia os grandes empresários, os políticos corruptos e reacionários dos partidos da velha direita. Que teríamos de apresentar como programa dessa alternativa as autênticas propostas que sempre foram defendidas pelos movimentos sociais e que, inclusive, foram as bases da fundação do PT e da CUT.
Que deveríamos defender a suspensão e a auditoria da dívida, que defendêssemos acabar com as privatizações e a reestatização das empresas privatizadas, a redução da jornada de trabalho sem redução de salários, entre outras medidas.
Meu amigo, embora um pouco surpreso, com uma cara que demonstrava me considerar um pouco “esquerdista”, acabou concordando comigo. Eu, me sentindo mais fortalecido, segui: afirmei que o PT teve 13 anos para avançar na aplicação desse programa, mas parou somente na adoção de medidas mínimas, que foram importantes, mas não mudaram para valer a vida do povo, e nem esteve disposto a sobretaxar os lucros astronômicos das grandes empresas e também as grandes fortunas.
Queria seguir, dizendo que onde o PT está na administração de governos de estados importantes vem aplicando medidas muito semelhantes ao governo ilegítimo de Temer, como o congelamento de investimentos sociais e dos salários dos servidores; que mesmo depois do golpe parlamentar, o PT se coligou com o PMDB em centenas e centenas de cidades nas eleições municipais do ano passado, que na eleição dos presidentes das assembleias legislativas apoiou o PSDB (em SP) e PMDB (no RJ)… Ou seja, a política do PT segue a mesma.
Mas, não pude continuar, pois meu amigo me interrompeu, dizendo que uma candidatura da extrema esquerda não teria chances de ganhar as eleições em 2018. Que até podia concordar comigo em muito do que eu falava, mas o fundamental era derrotar a direita nas próximas eleições.
Eu retruquei, dizendo que o argumento das chances eleitorais não podia ser o principal, e que em muito esse discurso foi o que fez o PT começar seu curso de adaptação ao status quo, inclusive com muitos de seus dirigentes se envolvendo em escândalos de corrupção, como sempre fez a velha direita.
Que as eleições passadas para a prefeitura do Rio de Janeiro demonstraram que é possível superar o PT pela esquerda, como foi feita pela bela campanha militante e mobilizadora de Marcelo Freixo.
Bem, a conversa acabou sendo interrompida, pois a passeata já estava saindo, e ele precisa ir embora, e eu me somar à coluna da frente de esquerda e socialista, junto à militância do MAIS, da NOS e outras organizações socialistas que compõe este importante espaço.
Trocamos nossos números de telefone, para seguir a conversa. Embora não tenhamos chegado a um acordo, considero essa conversa muito interessante, pois ela acaba sendo um pequeno retrato dos debates que muitos de nós teremos com vários ativistas no próximo período.
Estou convicto, que a esquerda socialista deve se jogar com tudo na construção de uma nova alternativa, realmente independente. Nosso esforço deve ser concentrado na construção de uma Frente de Esquerda e Socialista, que na o PSOL, PSTU, PCB, organizações socialistas ainda sem legalidade e movimentos sociais combativos, como o MTST.
Essa tarefa fundamental não será feita se aliando a Lula. Pois, a direção do PT mantém o seu programa rebaixado e a sua política de alianças com parte dos grandes empresários e os políticos e os partidos da velha direita.
Mas, outra certeza que tenho, é que essa nova alternativa política da esquerda socialista deve ser construída em permanente diálogo com os trabalhadores e jovens que ainda acreditam em Lula. Temos que ser sempre muito pacientes neste diálogo, mas também muito firmes na necessidade de superarmos a experiência de conciliação de classes, defendidas até hoje pela direção do PT..
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