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Somar a força de nossas ideias em uma organização política, de esquerda, revolucionária e socialista

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

“Que eu me organizando posso desorganizar, que eu desorganizando posso me organizar”.
Chico Science

Por: André Freire, colunista do Esquerda Online

Neste ano, lembramos o primeiro centenário da Revolução Russa, de 1917. A primeira que derrotou a classe dominante e buscou superar o sistema capitalista, dando os primeiros passos fundamentais para construção de outra sociedade, sem exploradores e explorados, sem oprimidos e opressores, uma sociedade socialista.

A burocratização dos ex-Estados do chamado “socialismo real”, fruto da degeneração dos regimes stalinistas de partido único, especialmente na ex-URSS e na Europa do leste, e a posterior restauração do capitalismo nesta importante parcela do mundo, acabou gerando muitas diferenças, dúvidas e confusões nos ativistas, sobre a atualidade da luta pelo sistema socialista e sobre a necessidade de construirmos organizações políticas para dar esta batalha cotidianamente.

A atual e brutal crise econômica capitalista, que assola o mundo já há uma década, vem demonstrar que a permanência deste sistema explorador e opressor só trará mais miséria, fome e decadência para humanidade. A cada dia que passa, fica mais evidente a necessidade de derrotar e superar o atual sistema econômico e social, como única forma de evitar a completa barbárie que ameaça diretamente a existência da espécie humana e do próprio planeta.

Se existe uma causa justa e necessária na atualidade é, sem dúvida nenhuma, a luta anticapitalista. Uma causa que não promete progresso individual, mas é a única capaz de libertar a nossa consciência diante de toda a decadência econômica, social, cultural e moral, tão presentes nas grandes cidades, em todas as partes do mundo.

Portanto, é preciso superar definitivamente a campanha ideológica das forças imperialistas e capitalistas de que o “socialismo morreu”. O que morreu “no Leste” foram regimes que eram a degeneração completa das verdadeiras ideias socialistas.

Diante da maior crise da história da economia capitalista, não existe nada mais atual e necessário do que reafirmar, com ainda mais força, que existe uma alternativa que pode libertar os trabalhadores, a juventude e a maioria do povo da exploração e opressão. E o nome desta alternativa segue sendo, e cada vez mais, a luta pela sociedade socialista, não apenas em um só país, mas em todo o mundo.

Tome partido nesta luta
Existe uma dimensão muito importante da luta anticapitalista, que é atuação ativa nos distintos movimentos sociais combativos. O ativismo nos sindicatos, nos movimentos populares da cidade e do campo, no movimento estudantil e de juventude, nas lutas contra as perversas e absurdas opressões – como o machismo, o racismo e a Lgbtfobia – são e serão condições necessárias para fundir as ideias socialistas com a consciência das mais amplas massas dos explorados e oprimidos.

É impossível derrotar o “monstro” capitalista sem que o socialismo seja, em primeiro lugar, o horizonte de transformação da maioria dos que lutam contra a exploração e a opressão. Esta é a condição para que, quando a maioria dos trabalhadores, da juventude e do povo se levante contra o sistema vigente, tenhamos condições de dar a esta luta uma verdadeira perspectiva de revolução social.

Para este árduo trabalho é necessária uma ferramenta específica. É preciso agrupar os lutadores e lutadoras ao redor de suas ideias. No caso particular de nosso projeto de transformação, é fundamental agrupar os homens e mulheres ao redor das propostas socialistas, em direção à transformação social e da destruição do capitalismo, que só poderá ser atingida com muita luta direta e organização do povo trabalhador para derrotar os ricos e poderosos, que nunca abrem mão de seus privilégios.

Para isso, é necessária outra dimensão de combate, que deve caminhar sempre junto com as lutas diretas contra o sistema capitalista, que é a construção de organizações políticas – partidos, legais ou não – dos trabalhadores, da juventude e do conjunto dos explorados e oprimidos, que se agrupem em torno das ideias da transformação socialista da sociedade.

Uma organização que agrupe trabalhadores, trabalhadoras, operários, operárias, jovens, mulheres, negros, negras, LGBTs, que de forma voluntária e democrática se associam para uma luta comum, ou seja, ganhar a maioria dos explorados e oprimidos para a necessidade de acabar com o capitalismo e construir o socialismo.

Mesmo com toda a importância que damos, e devemos dar ainda mais, para as lutas de resistência contra o sistema capitalista e as suas terríveis mazelas, nossos anos de experiência já demonstraram que não surgirá automaticamente destas mobilizações um novo projeto alternativo, de transformação revolucionária da sociedade.

Para isso, é necessário um combate organizado por este projeto de sociedade, com objetivo de ganhar o povo trabalhador para ele, afinal é ele que será o grande agente dessa transformação. Por essa tarefa inadiável, e somente por ela, que se torna necessária e fundamental a construção de organizações (partidos) marxistas e revolucionáriás e o engajamento dos lutadores e lutadoras nesta construção.

Organização socialista e a luta do nosso povo
Outro perigo muito comum de nossa luta é quando chegamos à conclusão sobre a importância inadiável da construção de organizações marxistas revolucionárias, mas passamos a construí-las de forma desassociada das reais pautas e lutas em andamento.

Não basta apenas ter ideias justas e corretas. É preciso lutar conscientemente e cotidianamente para que estas propostas se fundam com “corações e mentes” dos reais agentes da transformação socialista da sociedade – o povo trabalhador, em conjunto com todos os explorados e oprimidos.

Portanto, outra condição fundamental para o desenvolvimento de nossos objetivos estratégicos é que a construção das organizações marxistas revolucionárias seja realizada de forma absolutamente colada aos trabalhadores e à juventude, sempre ao lado de suas reivindicações mais sentidas e mobilizações concretas.

É necessário um combate ativo a toda e qualquer pressão que nos afaste de nosso projeto original de transformação social. Fugir da mera acomodação social nos gabinetes eleitorais, nos aparelhos sindicais e partidários.

Cada vez mais é preciso estar ao lado das angústias e sofrimentos dos trabalhadores, para estar à altura de se postular como uma alternativa política para suas lutas. Sem essa condição, o máximo que conseguiremos é construir novas seitas políticas, o que pouco contribui de fato para a luta de emancipação dos explorados e oprimidos.

Democracia para forjar a unidade política
Para o enfrentamento contra o sistema capitalista em crise – contra a política imperialista, a burguesia, seus governos e instituições de seu regime apodrecido – é necessário que as organizações marxistas revolucionárias tenham a máxima unidade política em sua ação e intervenção.

Mas, esta justa e necessária unidade política só poderá ser conquistada se for forjada em um amplo processo de discussão democrática entre os seus membros. Só assim é possível chegar a uma política correta para nossa atuação, corrigir erros inevitáveis, ajustar as rotas para avançar em nossos objetivos. Não existem organizações e direções perfeitas e infalíveis.

Só o debate livre e permanente de ideias no interior de nossa organização e também com os setores mais avançados e combativos do ativismo; a busca por sínteses políticas e, quando for necessário, para a ação unificada; definições pelo voto da maioria dos seus militantes; podem garantir que preservemos a necessária unidade de ação, sem ameaçar a também necessária democracia interna da luta das ideias entre revolucionários.

Não existem fórmulas mágicas. Só a inserção cada vez maior nas lutas de resistência do nosso povo, a informação e a formação política marxista e o verdadeiro exercício cotidiano e paciente da construção de nossa ferramenta política, poderá garantir que sejam apenas nossos objetivos estratégicos de transformação que guiem nossa ação revolucionária.

Abandonar a luta pela dificuldade dela, ainda mais tendo a consciência de sua justeza e importância fundamentais, é fraquejar diante da catástrofe que o capitalismo já está condenando a humanidade. Mais do que nunca, é hora de “arregaçar as mangas” e nos dedicar à construção dos instrumentos políticos necessários para a transformação socialista da sociedade. Viva a Revolução Socialista!

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