A Meta, dona do Instagram e do Facebook, anunciou nesta terça-feira (7) que está encerrando o seu programa de verificação de fatos, começando pelos Estados Unidos. O anúncio segue a sequência da reaproximação de Mark Zuckerberg – dono da empresa -, a Donald Trump, que assumirá um novo mandato como presidente dos EUA no próximo dia 20, eleição a qual o empresário aclama como “vitória da liberdade de expressão”.
No vídeo em que a notícia é anunciada, Zuckerberg informa que a Meta deixará de contar com jornalistas para passar a fazer uso de um sistema em que o conteúdo é revisado pelos próprios usuários, aos moldes do Twitter (ou o que alguém tentou chamar de “X”), plataforma que não coincidentemente pertence a outro grande apoiador da extrema-direita, Elon Musk.
O sistema do qual a Meta abriu mão é chamado de “verificadores de fatos”. A checagem de fake news em postagens não era feita pela equipe da Meta, mas sim por agências credenciadas junto à Rede Internacional de Verificação de Fatos (em inglês, International Fact-Checking Network — ou IFCN), uma entidade dedicada à checagem de fake news.
O sistema do qual a Meta abriu mão é chamado de “verificadores de fatos”. A checagem de fake news em postagens não era feita pela equipe da Meta, mas sim por agências credenciadas junto à Rede Internacional de Verificação de Fatos (em inglês, International Fact-Checking Network — ou IFCN), uma entidade dedicada à checagem de fake news.
O bilionário afirma em seu vídeo que muita coisa aconteceu ao longo dos últimos anos, com um grande debate sobre danos potenciais de conteúdos online, e com governos e mídias tradicionais pressionando por cada vez mais “censura”, e diz que muito disso é claramente político.
O que Zuckerberg chama de “político” foi a luta de viés democrático que se iniciou contra a extrema-direita nesse período. Para quem não lembra do caso envolvendo a empresa americana Cambridge Analytica e o Facebook, em 2018 um ex-funcionário da primeira empresa, Christopher Wylie, revelou ao Guardian que, em 2014, dois anos antes da eleição americana de 2016 e três anos antes do Brexit, se iniciou um esquema no qual a mesma coletou dados ilegalmente do Facebook (finjam surpresa), e que esses dados podem ter sido utilizados para influenciar em processos como o Brexit e as eleição de Trump em 2016.
Segundo a investigação dos jornais The Guardian e The New York Times, a Cambridge Analytica teria comprado acesso a dados de informações pessoais dos usuários do Facebook e utilizado esses dados para criar um sistema que permitiu identificar de forma prévia e influenciar as escolhas dos eleitores nas urnas.
A partir desse escândalo diversas iniciativas foram tomadas pelas plataformas em relação às políticas de privacidade e segurança. Se avançou no debate de direitos humanos, combate ao discurso de ódio, avanços esses que hoje o dono da Meta afirma atrapalhar a “democracia”.
Os mecanismos instaurados pela Meta e classificados como censura por Mark foram simplesmente de aviso e informação. O trabalho de checagem de fatos não removia ou censurava postagens, apenas adicionava aos posts informações sobre contextos que auxiliavam o combate de teorias conspiracionistas, informações controversas ou fake news.
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se anteriormente, mesmo não sendo permitido discurso de ódio nessas plataformas, as redes sociais já são lugar de perseguição política, racismo e LGBTfobia, agora Zuckerberg passa a permitir, agravando o papel da internet na organização do ódio contra as minorias
Zuckerberg afirma que os verificadores, ou pessoas responsáveis por verificar as informações, se mostraram excessivamente tendenciosos politicamente, e agora, como solução, o bilionário vai “eliminar restrições em tópicos como imigração e gênero”. Ou seja, se anteriormente, mesmo não sendo permitido discurso de ódio nessas plataformas, as redes sociais já são lugar de perseguição política, racismo e LGBTfobia, agora Zuckerberg passa a permitir, agravando o papel da internet na organização do ódio contra as minorias.
É preciso ter claro o quanto bilionários como Mark Zuckerberg e Elon Musk lucram com o avanço da extrema-direita e do neoliberalismo, e não têm nada a perder. Foi o fortalecimento desses setores que permitiram que, aqui no Brasil, Jair Bolsonaro planejasse um golpe militar, e sabemos à serviço de quê estaria esse projeto.
Mark Zuckerberg afirma com convicção: “Nós vamos trabalhar com o presidente Trump para combater governos ao redor do mundo que estão atacando as empresas americanas”. Mas esse discurso não é novo. O neoliberalismo foi criado justamente para submeter as economias nacionais subdesenvolvidas às novas exigências do imperialismo, que se atualizam conforme parece pertinente ao mercado e às grandes empresas internacionais.
O projeto neoliberal prega a farsa do Estado mínimo enquanto seus governantes intervêm nos setores da economia que lhe interessam, avançando com as privatizações de nossos serviços básicos e desregulamentando os mercados – o que inclusive permite que esse mesmo mercado especule nossas vidas, aumentando e abaixando o dólar conforme interesses políticos. Deu pra perceber quem vem balançando essas bandeiras e quem lucra com o ódio pregado pela extrema-direita, não é?
Ao dizer em seu vídeo que países da América Latina possuem tribunais secretos e que a Europa vem institucionalizando a censura, Mark Zuckerberg continua a movimentação de Elon Musk de deslegitimar nossa democracia e a de qualquer país do mundo que ouse contradizer os mandamentos neoliberais que este trouxe em seu vídeo, questionando até mesmo os países europeus – que têm a legislação mais avançada em termos de proteção de dados. Nossas democracias se encontram ameaçadas, mais uma vez.
Como se não pudesse piorar, o bilionário também anunciou a volta do “conteúdo cívico”, ou seja, recomendações de conteúdos políticos. Importante destacar a forma que os algoritmos das plataformas funcionam, porque por muitas vezes pessoas podem acreditar que os conteúdos políticos são distribuídos de forma imparcial.
A autora Letícia Cesarino, antropóloga e estudiosa do funcionamento das plataformas digitais, aponta em suas obras que as plataformas utilizam algoritmos que frequentemente priorizam conteúdos sensacionalistas ou polarizadores, o que amplifica o discurso da extrema-direita. Além disso, a velocidade com que informações se disseminam facilitam a circulação de teorias da conspiração e de discursos com aparência anti-sistema. Ou seja, os conteúdos políticos priorizados são, em sua maioria, os da extrema-direita e suas teorias conspiracionistas.
A descrição da autora relembra muito até mesmo a forma de se comunicar do vídeo de Zuckerberg. Ele utiliza palavras como “uma nova era” e “ir contra a tendência global” de todos os países que pensam em defender suas leis, instituições e democracias. O empresário mudou o local de suas empresas, movendo as equipes de segurança e confiança e moderação de conteúdo para a Califórnia e revisão de conteúdo para Texas, buscando driblar até mesmo o judiciário norte-americano.
O anúncio de Zuckerberg não é só uma mudança em nosso cotidiano no mundo virtual, é uma ofensiva política à nível internacional e com um projeto político muito claro: fortalecer a extrema-direita, atacar nossos direitos e lucrar com nossas vidas – e dados.
O anúncio de Zuckerberg não é só uma mudança em nosso cotidiano no mundo virtual, é uma ofensiva política à nível internacional e com um projeto político muito claro: fortalecer a extrema-direita, atacar nossos direitos e lucrar com nossas vidas – e dados. Como todas nossas batalhas recentes, só pode ser respondida de forma coletiva, em defesa das democracias do mundo.
A nossa luta é pela maioria. A extrema-direita conquista opiniões todos os dias se utilizando da estrutura providenciada pelas grandes empresas para disputar entendimentos e ganhar popularidade, tudo isso disputando eleições e ocupando os cargos de poder que decidem nosso futuro. É esse projeto que avança com o genocídio dos povos indígenas, que vêm sendo cada vez mais atacados em suas terras pelo avanço da tese do marco temporal; do povo negro pelas mãos da polícia; incita crimes de ódio contra a população LGBTQIAPN+ e aumenta o indíce de feminicídio; que quer restringir ainda mais o direito ao aborto legal, seguro e gratuito no nosso país; que quer flexibilizar nossos direitos conquistados em anos de luta dos trabalhadores.
Precisamos lutar por uma forte regulamentação das redes sociais em nosso país e no mundo, que responsabilize aqueles que cometem crimes reproduzindo o discurso de ódio virtualmente e que responsabilize as empresas pela desinformação que pretendem permitir. Essa luta é fundamentalmente na unidade dos movimentos sociais, antirracista, feminista, indígena, de juventude e de trabalhadores, porque para o tamanho de nossos inimigos não é possível enfrentar essa ameaça com a fragmentação de nossas lutas.
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