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MUNDO

Bilionários são ruins para a economia, mas taxá-los é bom

Omar Ocampo, do Portal CounterPunch, com tradução de Paulo Duque, da equipe do Esquerda Online
Forbes

O campo enfoca em como o aumento das riquezas dos bilionários estadunidenses tem se mostrado ruim para a economia dos EUA, particularmente para a vida da classe trabalhadora. Em nosso contexto, a reflexão sobre o aumento das fortunas dos bilionários brasileiros também mostra como a brutal concentração de renda também tem reflexos sobre nosso povo. “O surpreendente aumento mostra como a nossa economia beneficia principalmente os ricos, ao invés do povo trabalhador comum que produz sua riqueza”.

Segundo a lista da Forbes, existem 2781 bilionários com uma riqueza contabilizada em 14,2 trilhões de reais, surgindo 265 novos bilionários em apenas um ano; os EUA possuem 813 bilionários e o Brasil 69.

Um novo e perturbador marco foi confirmado na última edição da World Billionaires List  [Lista Mundial de Bilionários] da Forbes. A classe bilionária dos EUA é agora maior e mais rica do que nunca, com 813 oligarcas de dez dígitos juntos detendo 5,7 trilhões de dólares.

Esse é um aumento de 1,2 trilhão de dólares em relação ao ano anterior – e um aumento gigantesco de 2,7 trilhões desde março de 2020.

O surpreendente aumento mostra como a nossa economia beneficia principalmente os ricos, ao invés do povo trabalhador comum que produz sua riqueza [dos bilionários]. Pior ainda, esses indivíduos extremamente ricos frequentemente utilizam seus patrimônios para minar nossa democracia.

Os bilionários têm um enorme poder para influenciar o processo político. Eles gastaram 1,2 bilhão de dólares nas eleições gerais de 2020 e mais de 880 milhões de dólares nas eleições intermediárias de 2022. Até quando seus candidatos preferidos não estão com mandato, nossas instituições ainda têm maior probabilidade de responder às suas preferências políticas do que as do eleitorado médio, especialmente quando se trata de impostos.

A maior parte dos estadunidenses, incluindo os 63% de republicanos, apoia impostos mais altos para os ricos, enquanto nossos representantes falham consistentemente no cumprimento [dessa proposta]. Um exemplo fundamental [do privilégio dado aos ricos] foram os cortes de impostos de Donald Trump em 2017 para as empresas e os ricos – a legislação mais impopular sancionada nos últimos 25 anos.

Embora os apoiadores tenham prometido que os cortes fiscais iriam beneficiar a todos os estadunidenses, um recente relatório do Center on Budget and Policy Priorities revelou que os principais beneficiários [dos cortes fiscais] eram o 1% do topo.

E as boas notícias? Tais cortes devem acabar no próximo ano. Assim, teremos uma oportunidade para uma nova reforma fiscal – uma que traga mais dinheiro para os serviços que confiamos, enquanto protegemos nossa democracia de extrema concentração de riqueza.

O Billionaire Minimum Income Tax (BMIT) [Imposto de Renda Mínimo Bilionário] do Presidente Joe Biden é uma das propostas promissoras. Aumentando a taxa de imposto superior e tributando ganhos de capital não realizados, o BMIT busca reparar um sistema em que os bilionários pagam uma taxa média de imposto mais baixa do que o povo trabalhador. Isso arrecadaria 50 bilhões de dólares ao ano durante a próxima década, tornando nosso sistema fiscal um pouco mais equitativo.

O Billionaire Income Tax (BIT) [Imposto de Renda Bilionário] do Senador Ron Wyden (Partido Democrata), de nome semelhante, é mais direto. Teria como alvo os ganhos de ativos que possam ser facilmente monitorados pelo público, como as participações acionárias de um bilionário em uma empresa de capital aberto.

Outra ideia? Um imposto progressivo bem elaborado sobre a riqueza bilionária.

Um modesto imposto de 5% sobre toda a riqueza acima de 1 bilhão de dólares arrecadaria mais de 244 bilhões de dólares somente neste ano. E isso é provavelmente uma subestimativa, já que alguns bilionários mantêm suas riquezas escondidas da Forbes. A Wealth-X, uma empresa privada de pesquisa, identificou 955 bilionários em seu censo do ano passado, 142 a mais do que a Forbes acabou de registrar.

Um imposto sobre a riqueza não prejudicaria o investimento e a inovação – a maior parte da inovação nos EUA é impulsionada por pessoas que mantêm riqueza inferior a 50 milhões de dólares. Mas para os bilionários, isso funcionaria “como uma restrição à sua taxa de acumulação de riqueza”, segundo o Patriotic Millionaires, um grupo de pessoas ricas que apoiam impostos mais elevados para os ricos.

Certamente, um imposto sobre a riqueza por si só não é suficiente para garantir a segurança da nossa democracia. Nós também precisamos de uma reforma no financiamento de campanhas para limitar os gastos políticos. E sindicatos mais fortes poderiam impedir a ocorrência da extrema concentração de riqueza, em primeiro lugar. Os sindicatos não aumentam o poder coletivo dos trabalhadores e permite a disparidade salarial entre trabalhadores e CEOs.

Finalmente, precisamos de uma melhor execução fiscal. A Inflation Reduction Act [Lei de Redução da Inflação] deu ao Internal Revenue Service (IRS) [Departamento da Receita Federal] mais recursos para rastrear os ricos sonegadores de impostos e, agora, a agência está projetando um lucro inesperado nas receitas fiscais durante a próxima década [13].

Este é um primeiro grande passo para fortalecer nossa democracia e democratizar nossa economia. Agora, demos o próximo passo e corrijamos o próprio código tributário.

Texto original em Counter Punch.