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BRASIL

Rosana Valle com Campos Neto na defesa dos juros altos contra o povo 

por Raphael Guedes,de Santos (SP)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rosana_Valle

A deputada federal Rosana Valle (PL) tem assumido cada vez mais o papel de porta-voz do bolsonarismo. Em uma entrevista à CNN Brasil na quinta-feira (06/07) da semana passada, Rosana saiu em defesa de Campos Neto, o presidente bolsonarista do Banco Central, e sua insistência em manter a taxa de juros do país em 13,75%, a maior do mundo.

Na tentativa de defender o indefensável, a deputada acusa o presidente Lula e a esquerda de serem antidemocráticos ao protestarem contra Campos Neto. Para ela, questionar a taxa de juros é um ataque à autonomia do Banco Central, que, segundo ela, representa um avanço democrático e a garantia de que a autoridade monetária do país não será utilizada com fins políticos.

Rosana parece viver em um mundo invertido. Não é possível falar em defesa da democracia e, ao mesmo tempo, apoiar o bolsonarismo, expressão atual do fascismo brasileiro. A realidade é que a suposta independência do Banco Central resulta em uma perda de controle por parte do governo eleito sobre as políticas monetárias e a direção da economia, entregando o poder de decisão a uma pequena minoria do sistema financeiro. Essa situação se torna ainda mais questionável com a presidência de Campos Neto, infiltrado do bolsonarismo no BC. Como afirmou Guilherme Boulos, líder do PSOL na Câmara, essa independência do Banco Central é uma farsa.

A falsidade dos argumentos “técnicos”

Além disso, os argumentos utilizados por Rosana Valle para justificar a manutenção das altas taxas de juros são questionáveis. Ela defende as medidas do Banco Central como decisões técnicas para conter a inflação e manter a estabilidade da moeda, alegando que as altas taxas são resultado da inadimplência nos créditos bancários, da baixa poupança e da elevada dívida bruta.

No entanto, os dados recentes mostram uma redução significativa da inflação no Brasil. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou uma taxa acumulada de 5,79% em 2022, em comparação com os 10,08% de 2021.

No mês de junho, o IPCA apresentou uma variação de -0,08%, o menor índice para um mês de junho desde 2017. A inflação tem seguido uma trajetória decrescente desde fevereiro, e a taxa acumulada em 12 meses está em 3,16%, abaixo da meta estabelecida pelo Banco Central.

Com isso, o país registra a menor inflação acumulada em 12 meses desde setembro de 2020. E o relatório Focus do Banco Central revisou para baixo a estimativa do IPCA para este ano, que agora é de 4,95%, caindo pela oitava semana consecutiva sua projeção da inflação.

Diante desses dados, desmonta-se o argumento supostamente técnico de que a manutenção da taxa de juros é necessária para conter a inflação, uma vez que a inflação tem apresentado uma queda considerável enquanto a taxa Selic permanece em níveis elevados.

Outro argumento, de que os juros estão altos “porque ainda temos muita inadimplência nos créditos bancários”, é ainda mais problemático. A realidade é que com as taxas de juros elevadas, os empréstimos e financiamentos se tornam mais onerosos para a maioria dos trabalhadores.

O crédito rotativo do cartão de crédito, utilizado amplamente pelos trabalhadores brasileiros, é um exemplo disso. O Banco Central revela que o custo desse tipo de empréstimo em um banco estatal era de 220,22% ao ano antes do aumento das taxas de juros, e agora chegou a 414,6% ao ano. Como resultado, as taxas de juros altas aumentam o custo financeiro das famílias, levando a um pagamento maior de juros ao financiar compras, como alimentos em supermercados por meio do cartão de crédito. Consumindo uma parte significativa da renda dos trabalhadores, dificultando ainda mais o pagamento das dívidas, elevando a inadimplência.

A quem interessa a manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano? 

A verdade é que a manutenção da taxa de juros em valores absurdos tem como objetivo sabotar a economia do país, na perspectiva de favorecer a volta do bolsonarismo ao poder, associado à ganância do mercado financeiro, que sempre viveu e sempre viverá da extorsão da maioria do povo.

A manutenção de juros elevados beneficia uma minoria privilegiada, como banqueiros e rentistas, em detrimento da maioria da população. As altas taxas de juros dificultam o acesso ao crédito para famílias e pequenas empresas, tornando os empréstimos mais caros e prejudicando o crescimento econômico.

As altas taxas de juros contribuem para a perpetuação das desigualdades sociais e econômicas no país. A política monetária deveria ser orientada para estimular o desenvolvimento econômico inclusivo, com taxas de juros mais baixas, que facilitem o acesso ao crédito e incentivem o investimento produtivo. A redução das taxas de juros poderia impulsionar a economia, gerar empregos e promover uma distribuição mais equitativa de recursos.

Os juros abusivos prejudicam principalmente o povo, que paga taxas altas ao financiar compras e empréstimos, enquanto os muito ricos escapam dessa situação. Além disso, o povo sofre com a redução do crescimento econômico, falta de empregos e salários mais baixos. Recursos que deveriam ser destinados a áreas sociais são transferidos para o pagamento de juros da dívida pública aos especuladores e banqueiros.

Quais são os interesses por trás da defesa de Rosana Valle?

Rosana Valle, ex-jornalista da TV Tribuna (afiliada da Globo), foi eleita pela primeira vez pelo PSB, partido de Márcio França. Na última eleição, aceitou um convite de Tarcísio Freitas para se juntar ao PL, combinando sua campanha com o apoio a Tarcísio e Bolsonaro. Desde então, ela ganhou destaque no PL e foi nomeada presidente do PL Mulher de São Paulo por Michelle Bolsonaro.

Uma possível explicação para essa mudança de partido e o papel questionável que Rosana Valle desempenha pode estar relacionada ao mega fundo eleitoral do PL. O partido recebeu o maior fundo partidário, com R$ 205 milhões em 2023, e também deve receber o maior fundo eleitoral em 2024. A adesão à legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro pode garantir recursos significativos para a deputada. Isso pode facilitar sua possível campanha para a prefeitura de Santosii, onde atualmente lidera as pesquisasiii.

Dessa forma, a deputada mais votada da Baixada Santista, em sua busca por poder, vai deixando uma marca reacionária em seu mandato. Atualmente é a principal representante do bolsonarismo na Baixada Santista, assumindo assim uma agenda que vai cada vez mais contra os interesses da maioria do povo.

Raphael Guedes é professor de História e membro da coordenação Baixada Santista da Resistência/PSOL.