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MOVIMENTO

20 anos da Fábrica Ocupada Flaskô

Alexandre Mandl

No dia 12 de junho de 2023 a luta da Fábrica Ocupada Flaskô completa 20 anos. Com certeza, um período de muitas conquistas dos quais essas linhas pretendem esboçar alguns pontos de seu profundo legado histórico. Em 2003, diante do cenário de fechamento de fábricas, abandono patronal, e pela luta de seus empregos, nós, trabalhadores e trabalhadoras ocupamos e retomamos a produção da Flaskô, uma fábrica de bombonas plásticas na cidade de Sumaré-SP, mostrando que nunca se deve duvidar da capacidade de organização e luta da classe trabalhadora.

Redução da jornada de trabalho sem redução de salários: de 44 horas semanais para 40, e depois de 40 para 30. Geramos novos postos de trabalho. Mantivemos as carteiras de trabalho assinadas. Realizamos uma gestão operária democrática, com todas as decisões tomadas coletivamente em assembleia e pelos trabalhadores eleitos ao conselho de fábrica. Reduzimos níveis de adoecimento do trabalho, acabamos com os acidentes, e mesmo assim, aumentamos o faturamento, a produção e a produtividade. Mostrando que quando não se tem uma apropriação privada da riqueza, podemos socializar melhor o tempo de trabalho e a distribuição financeira da produção. Viramos uma fábrica excelente. Criamos precedentes.

Fomos duramente combatidos. Fizemos caravanas anualmente, intervimos em audiências públicas, participamos de muitos congressos sindicais e encontros dos movimentos sociais. Pautamos a estatização sob controle operário, justamente por combater a propriedade privada dos meios de produção reivindicando que esse patrimônio seja público e coletivo. Que as empresas estratégicas ao desenvolvimento nacional exigem uma política industrial de defesa do parque fabril com garantia do emprego de seus trabalhadores. Cobramos a adjudicação e a compensação tributária, para que a União atue de forma propositiva diante das dívidas gerada pelos patrões.

Lutamos pelo pleno uso social da propriedade, não somente da fábrica em si, mas do terreno e galpões subutilizados. Organizamos a luta por moradia no terreno da fábrica, constituindo a ocupação Vila Operária e Popular, com 564 famílias recém regularizada num combate histórico. Organizamos a Fábrica de Cultura e Esporte, com programas envolvendo diferentes atividades nos galpões que estavam abandonados, com EJA, formação, esporte, cultura e lazer. Realizamos espaços de sociabilidade, festivais, cozinhas solidárias, horta comunitária, rádio comunitária, pesquisas acadêmicas. Uma efetiva administração popular e democrática do espaço urbano.

Há 20 anos, quando se tomava a decisão histórica de ocupar a Flaskô, somando-se ao Movimento das Fábricas Ocupadas que se iniciava em Joinville/SC, com a luta nas fábricas Cipla e Interfibra, vivíamos um momento de intensificação da luta de classes, de angústias e dramas diante da crise econômica e política que vivíamos, mas combinada com muita expectativa e esperança com a eleição do Presidente Lula.

Agora novamente vivemos um momento com esse duplo caráter. Uma profunda crise potencializada desde o golpe contra a Presidenta Dilma e as manobras capitaneadas por Temer, vivemos a consolidação de um período reacionário dirigido pela extrema direita militar, empresarial e bolsonarista.

Nesse sentido, resgatar esses 20 anos da Flaskô é de fundamental importância para relembrar a importância da frente única como método, da ação concreta na luta de classes, da ocupação como instrumento de denúncia do significado da propriedade privada dos meios de produção e de que, justamente, a classe trabalhadora organizada pode administrar e gerir muito melhor, sob o prisma da qualidade do trabalho, da solidariedade e da camaradagem, do pleno uso social da terra e da fábrica.

Faremos algumas atividades para comemorar essa história e contamos com vocês!
Ocupar, produzir e resistir; ontem, hoje e sempre!

Viva a luta da Fábrica Ocupada Flaskô!
Viva a luta do Movimento das Fábricas Ocupadas!

*Alexandre Mandl é  advogado do Movimento das Fábricas Ocupadas. Membro do Conselho de Fábrica da Flaskô. Membro da RENAP (Rede Nacional de Advogadxs Populares) e do IPDMS (Instituto de Pesquisa Direitos e Movimentos Sociais)