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Considerações sobre os 5 anos da Resistência-PSOL

Valerio Arcary e Gabriel Casoni, da Direção Nacional da Resistência-PSOL
Arquivo Resistência-PSOL

1. Foram somente cinco anos, mas pareceram muito mais. A Resistência surgiu de uma grande cisão com o PSTU em 2016, e da unificação de vários agrupamentos em 2018. Essas duas decisões explicam sua existência. Olhando para trás a grande questão é saber se elas passaram à prova da história. É verdade que há rupturas que são política, programática e até, teoricamente, imaturas e desnecessárias, portanto, lamentáveis. Infelizmente, não são incomuns. Grupos políticos podem se dispersar por rivalidades pessoais entre as lideranças, e as mais variadas disputas pelo controle de espaços e posições de poder, sem que haja clareza sobre as diferenças políticas. São conflitos previsíveis e contornáveis. Mas, assim como há rachas imprudentes e até desleais, há rupturas sérias e honestas, ainda que dolorosas. Acontece que a construção de correntes marxistas nunca foi linear. Caminhando pela estrada ocorrem aproximações e desentendimentos em função das avassaladoras pressões da luta de classes. A partir de 2015/16, a classe trabalhadora se fraturou. Uma parcela importante, entre aqueles com direitos, contratos e renda média perdeu esperança no governo Dilma Rousseff, foi envenenada pela Lava Jato, e atraída pelo discurso radical da extrema-direita. Quem se deixou iludir, imaginando que existia no horizonte a perspectiva de uma situação revolucionária, quando o perigo era exatamente inverso, a ameaça de uma situação reacionária, errou. Quem não denunciou o impeachment como um golpe institucional, errou. Quem não se uniu à campanha Lula Livre, errou. A divisão do PSTU se confirmou, pela evolução das posições nos últimos anos, como inevitável.

2. As unificações colocam, igualmente, riscos. Já ocorreram unificações apressadas que não se consolidam, e acabam precipitando explosões. A unificação que originou a Resistência foi um processo que passou à prova. Nos últimos anos, a Resistência conheceu vigorosas polêmicas táticas sobre qual seria a melhor linha diante dos desafios, inclusive com a formação de tendências internas para Congresso e Conferência. Nunca houve monolitismo. Mas as posições da militância não corresponderam a alinhamentos com as antigas organizações. Demonstrou-se que os antigos agrupamentos se dissolveram, ao mesmo tempo que se conseguiu manter um livre, vivo e intenso debate. A pluralidade interna não impediu que as resoluções aprovadas por maioria fossem respeitadas por todos. Confiança é algo muito delicado que demanda maturidade e paciência. O tempo é uma medida chave na luta política. Não adianta ter, apaixonadamente, razão sozinhos. Paciência exige ter a lucidez de que, embora o tempo seja de urgência, não adianta tomar decisões desconhecendo a consciência, o humor, o estado de espírito das massas, da vanguarda e da própria militância. A Resistência é somente uma corrente revolucionária em construção, muito aquém das necessidades colocadas pela luta de classes. Mas assumimos, com humildade, a nossa cota de responsabilidade na reorganização da esquerda radical no Brasil. Reconhecemos a existência de outras coletivos revolucionários, e estamos dispostos a explorar a possiblidade de unificação.

3. Não são poucos os ativistas que continuam estarrecidos com as crônicas divisões que se multiplicaram na esquerda radical. A triste tendência de fragmentação, antessala de desmoralizações, prevaleceu nos últimos anos. Esta dinâmica se explica por muitos fatores, objetivos e subjetivos. Não foi monocausal. Mas devemos reconhecer que a mudança de situação política, com uma inversão desfavorável da relação social de forças, estabeleceu um contexto muito difícil em que todos os partidos e correntes tiveram que fazer, severamente, balanços duros sobre seus erros. A derrubada do governo Dilma Rousseff por um golpe jurídico-parlamentar, construído nas ruas por mobilizações reacionárias de massas, como não se viam desde o período anterior ao golpe de 1964, abriu o caminho para a apoteose da Lava Jato, a posse de Temer, a prisão de Lula, a avalanche da extrema-direita, eleição de Bolsonaro e quatro anos terríveis. A explicação “circular” de que eles venceram porque nós perdemos é um fatalismo inútil. A reação triunfou porque a esquerda cometeu muitos erros. A vitória eleitoral de 2022 não anula a necessidade de autocrítica. O caudilhismo de Lula não basta. As ideias contam. Se o PT não mudar e seguir apostando na governabilidade conservadora, os perigos que nos cercam são devastadores.

4. Mas o PSOL está também diante de enormes desafios. Os primeiros cem dias de governo sinalizam que não será possível governar a “frio” nos próximos quatro anos. Ou Lula decide romper a inércia e se apoiar na mobilização social, ou estaremos diante, novamente, do perigo bolsonarista. Não é somente o PT que está diante do desafio de avaliação para explicar porque não foi possível levantar uma grande mobilização contra o impeachment em 2016. Evidentemente, pela sua liderança no governo e seu peso social majoritário, a responsabilidade do PT é muito maior. As placas tectônicas da esquerda brasileira só irão se mover quando amadurecer a experiência política e clarificação das diferenças dentro do PT. A presença de uma corrente fascistóide de massas no Brasil é uma ameaça fatal. Derrotá-la é o maior desafio. Não será possível sem uma reunificação da classe trabalhadora, isolando o bolsonarismo nas classes populares. Mas a honestidade política exige, também, que as correntes revolucionárias enfrentem uma apreciação crítica de suas posições na oposição de esquerda aos governos de coalizão dirigidos pelo PT durante treze anos. Assim como foi, dramaticamente, errada a defesa incondicional de Lula e Dilma, foi, também, errada a forma de oposição de esquerda que resultou na linha Fora Todos, quando a contrarrevolução foi às ruas com a bandeira Fora Dilma. O que a história confirmou foi que o PSOL, ao se reposicionar no terreno da luta pela Frente Única de esquerda, ainda que dividido, se fortaleceu em plena situação reacionária, e ocupa hoje um lugar, qualitativamente, distinto. Não foi sem disputas internas. Algum ressentimento mútuo é compreensível, porque ninguém é de ferro, e as derrotas doem. Mas não nos devem cegar diante do futuro. A força do PSOL, mesmo sendo um partido eleitoral, não se reduz ao seu papel parlamentar. É maior que isso. O PSOL, embora minoritário, é um partido com influência de massas. O papel do PSOL será decisivo nos próximos anos. Ele pode e deve crescer muito, tanto organicamente, atraindo correntes que estão exteriores, como em influência. Para isso, terá que seguir sendo um instrumento útil ao combate contra extrema direita e para fortalecer as pautas e as lutas da classe trabalhadora e dos setores oprimidos. Ao mesmo tempo, deve manter seu perfil político e programático próprio, bem como preservar sua independência política, não ocupando cargos no governo. A defesa de transformações estruturais no país exige disposição para o enfrentamento com a classe dominante. A Resistência luta, dentro do campo Semente, como uma corrente marxista-revolucionária. Mas quem defende estreitar o PSOL, desconsiderando a impossibilidade de uma definição ideológica estratégica, comete um erro irreparável. Um PSOL forte será decisivo. Mas só poderá ser forte se for plural, agrupando militâncias que viveram outras experiências e tradições.

5. A Resistência faz aniversário de cinco anos. Parece pouco, mas é muito. Estamos diante de muitos perigos. Não existem organizações infalíveis. As oscilações da conjuntura podem favorecer desvios oportunistas ou ultra-esquerdistas. Ao longo dos últimos anos, buscamos combinar flexibilidade tática com firmeza estratégica. Fomos favoráveis ao apoio eleitoral a Lula desde o 1o turno para derrotar Bolsonaro, sem renunciar, porém, à crítica à indicação de Alckmin a vice. Atuamos pelo fortalecimento político e eleitoral do PSOL, mas fomos contra a federação do partido com a Rede. Rejeitamos qualquer política sectária perante o governo Lula, mas nos opomos à entrada do partido no governo de frente ampla. Seguimos considerando que a batalha contra a extrema direita é central e que a aposta na mobilização social é o caminho para avançar na relação de forças. Conscientes das nossas limitações, nos orgulhamos do caminho percorrido até aqui. Demos a nossa modesta contribuição na luta de classe, não sem erros, mas também com acertos importantes.  Viemos de longe. Valeu a pena. Honestidade intelectual é importante. Ela é o cimento da força moral. Os trotskistas brasileiros cometeram muitos e variados erros políticos e, também, por isso, estão fragmentados. Todas as correntes inspiradas na tradição de Leon Trotsky são ainda minoritárias e imperfeitas. Nossa história revela nossas fragilidades. Mas houve, também, grandeza.