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BRASIL

Razão e sensibilidade: é preciso reajustar o salário mínimo para R$ 1.320!

Henrique Canary, de São Paulo (SP)
Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante anúncio e assinatura das primeiras medidas econômicas do governo, no Palácio do Planalto

O nervosismo que o mercado não demonstrou com a tentativa de golpe de Estado em Brasília no último dia 08 demonstra agora com a questão do reajuste do salário mínimo. Nem bem os cacos de vidro foram varridos no Palácio do Planalto e já começaram as pressões para que o governo não reajuste o salário dos atuais R$ 1.302 para R$ 1.320, valor que havia sido prometido pelo senador Wellington Dias (PT-PI) ainda durante o processo de transição de governo. 

O maior valor parecia ponto pacífico. No entanto, na última quinta-feira (12), o ministro da Economia Fernando Haddad defendeu em entrevista que o governo se limite aos R$ 1.302, montante definido ainda por Bolsonaro. Segundo Haddad, esse valor já garante um aumento real. Assim, o governo não estaria descumprindo uma de suas promessas de campanha: “Não tem nenhum pacto rompido. O compromisso de campanha era com o aumento real, que já aconteceu. O presidente cumpre sua palavra nesse ano, e cumprirá nos próximos três anos. Precisamos reestimar o que vai acontecer com a rubrica para submeter à decisão política”.

Haddad afirmou ainda que o valor destinado ao aumento no Orçamento 2023 (R$ 6,8 bilhões) já foi consumido pelo setor previdenciário, o que impossibilita a expansão do percentual. Assim, o governo necessitaria de mais R$ 7,7 bilhões (além dos R$ 6,8 bilhões) para bancar o aumento do salário mínimo para R$ 1.320 ainda em janeiro.

O caso é problemático, em primeiro lugar, porque Haddad parece não ser consequente com o que ele mesmo afirma: trata-se, além de uma questão econômica, de uma questão política. Ora, o país está assolado por um movimento golpista que visa a derrubada violenta da ordem constitucional vigente. Os grupos de whatsapp seguem a todo o vapor com fake news e campanhas de desmoralização do novo governo. Nessas condições – exatamente nessas condições – o governo prefere não entregar ao povo pobre R$ 18 de aumento? Não é razoável e é um evidente erro político.

A oposição bolsonarista já está fazendo a festa com a situação, dizendo que essa é a primeira promessa não cumprida de Lula e comparando os R$ 18 com o aumento de juízes e políticos. Claro que se trata de uma enorme hipocrisia. Os bolsonaristas ficaram calados quando a inflação de alimentos e combustíveis estava destruindo a olhos vistos o valor real do salário mínimo e agora tentam se passar por bonzinhos. Ainda assim, é preciso ter cuidado porque esse tipo de discurso pode muito bem pegar num setor de massa e desmoralizar o governo perante aqueles que mais necessitam de medidas de combate à pobreza. Ninguém precisa da corrosão da base de sustentação do governo, muito menos agora. 

Isso por um lado. Por outro, R$ 18 não é pouco dinheiro porque nunca é cedo demais para começar uma política de revalorização do salário mínimo. E se foram prometidos R$ 18, comecemos por R$ 18, mas comecemos de uma vez por todas!

O caso todo será discutido hoje (16) em uma reunião que contará com a presença de Lula, Haddad e do ministro do Trabalho Luiz Marinho. Depois, na quarta-feira (18), haverá uma reunião com as centrais sindicais onde o assunto deverá voltar à pauta e a política de valorização do salário mínimo será debatida em termos mais amplos.

É muito importante que o governo mantenha a sensibilidade política e social que vem demonstrando até aqui e garanta o aumento do salário mínimo para R$ 1.320. O povo pobre e trabalhador que elegeu Lula conta com esse dinheiro e precisa dele. Quanto ao mercado, que engula seu nervosismo e trate de fazer alguma coisa útil pelo país, de preferência, deixando de existir. Mas se não for possível, pelo menos que não interfira na agenda social do governo e deixe Lula cumprir as promessas de campanha. Junto com a mobilização de massas, esse é o único caminho para derrotar definitivamente o fascismo no país.