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BRASIL

Todo camburão tem um pouco de navio negreiro

Danilo Novais*
exposição de viaturas históricas
Reprodução

Em uma data de suma importância para a população negra, a prefeitura de Suzano resolveu permitir, de forma racista, a exposição de camburões, um dos maiores símbolos de violência que o Estado usa para assassinar pessoas pretas por todo o Brasil. É no mínimo curioso que no dia da Consciência Negra, o prefeito de Suzano, Rodrigo Ashiuchi, permita que se realize uma “exposição” de viaturas históricas da polícia militar na cidade, provando mais uma vez o caráter racista do governo na cidade. Talvez ele esteja muito ocupado apoiando teorias da conspiração contra nosso sistema eleitoral, já que circula um vídeo nas redes sociais do presidente do PL, Valdemar Costa Neto junto ao prefeito de Suzano questionando as urnas eletrônicas.

De acordo com a Rede de Observatórios da Segurança, publicado no último dia 17, com dados da violência policial no Brasil, pessoas negras são as que mais morrem em ações policiais, independentemente do tamanho da população negra do local. Só em São Paulo, é registrado uma morte de pessoa negra provocada pela polícia a cada dois dias. 

O camburão nada mais é do que a representação da violência do Estado contra o povo pobre e preto. Quantas vidas já foram desfeitas nesses carros? Quantos assassinatos já ocorreram nesses porta-malas? Quantos homens, mulheres e crianças já não sofreram algum tipo de violência nesses veículos? Pois é, o camburão significa medo, morte e violência. 

E mais uma vez, às vésperas do Dia da Consciência Negra, o Estado racista mostra sua face de uma forma cruel, numa tentativa de intimidação. Não podemos nos esquecer que João Alberto Silveira Freitas, um homem negro, que foi assassinado por dois seguranças brancos dentro de um supermercado um dia antes da Consciência Negra em Porto Alegre no ano de 2020. E agora aqui, em nossa cidade, a intimidação veio em forma de “exposição”. Exposição de câmara de gás de pessoas pretas.

Mas se tem uma coisa que o 20 de novembro nos ensina, é que somos resistência. Que Zumbi foi e continua sendo resistência. 

Por Zumbi dos Palmares, por Luisa Mahin, por Marielle Franco, por João Alberto, por Genivaldo de Jesus e por todos aqueles que foram e são violentados todos os dias pela força policial repressora do Estado. 

Viva Zumbi!

* Danilo Novais é militante Resistência/PSOL de Suzano