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BRASIL

Investimento: 50 grandes empresários doam R$ 22 milhões para Bolsonaro no segundo turno

Henrique Canary, de São Paulo, SP
Reprodução/Redes sociais

À medida que se aproxima o segundo turno das eleições e a diferença entre Lula e Bolsonaro nas pesquisas se mantém basicamente a mesma, aumenta o desespero não só na equipe do atual presidente, mas também entre seus apoiadores mais ricos. Essa preocupação com a possibilidade de uma derrota se manifestou numa verdadeira explosão de doações milionárias feitas à campanha de Bolsonaro nos últimos 10 dias.

Segundo dados parciais publicados pelo TSE, entre os dias 10 e 20 de outubro, Bolsonaro recebeu nada menos do que R$ 26,4 milhões em doações, quase todas elas de altíssimo valor. Para se ter uma ideia, para a campanha do primeiro turno inteira, Bolsonaro havia arrecadado entre doadores privados cerca de R$ 25 milhões, menos do que arrecadou nesses últimos 10 dias.

O maior doador da campanha de Bolsonaro é o advogado e pastor evangélico da Igreja Evangélica Bola de Neve Church de Belo Horizonte Fabiano Zettel, que fez uma doação de R$ 3 milhões para a campanha de Bolsonaro e outra de R$ 2 milhões para Tarcísio de Freitas, candidato bolsonarista ao governo de São Paulo. Zettel se diz um empresário das áreas “societária e de fusões e aquisições, principalmente nos setores imobiliário e financeiro” e investidor “em projetos imobiliários e de mineração” e que realizou as doações de acordo com “suas convicções pessoais e valores cristãos de família conservadora”. Lembremos que, segundo a lei, uma pessoa só pode doar em uma campanha até 10% da sua renda do ano anterior. Assim, a renda de Zettel em 2021 precisa ter sido de, pelo menos, R$ 50 milhões. Esse é o nível de riqueza de alguns apoiadores de Bolsonaro. Outros grandes doadores da campanha de Bolsonaro são os três sócios da Localiza Rent a Car, empresa de aluguel de carros. Juntos, José Salim Mattar (aliás, ex-secretário de desestatização de Bolsonaro), Antônio Claudio Brandão e Flávio Brandão doaram R$ 3 milhões à campanha do atual presidente.

Os números da campanha de Bolsonaro e Lula são bastante interessantes e revelam em muito a natureza de cada uma das candidaturas. Lula dispõe de um volume maior de recursos (cerca de R$ 126 milhões), mas que advém fundamentalmente do financiamento público, dependendo assim muito pouco de doações privadas. Cerca de 97% dos recursos do petista (R$ 123 milhões) provém dessa fonte e apenas R$ 1,4 milhão foram arrecadados entre doadores privados. Isso é possível porque nas eleições de 2018 o PT elegeu 54 deputados federais, o que lhe garantiu uma boa parcela do fundo eleitoral, destinado a financiar as campanhas dos partidos.

Já Bolsonaro conta com um total de cerca de R$ 100 milhões para sua campanha, sendo que R$ 77 milhões provém de doações privadas, enquanto apenas R$ 17 milhões são contribuição do PL. Mas se engana quem acha que existe um grande movimento espontâneo de pequenas doações a Bolsonaro e que os grandes doadores são exceção. Na verdade, as doações ao fascista se concentram em cerca de 50 doadores, que, juntos, são responsáveis por pelo menos R$ 22,3 milhões em doações. Desses 50 doadores, 33 são ligados ao agronegócio e 10 realizam suas atividades econômicas em Mato Grosso. As famosas vaquinhas virtuais, que arrecadam de pequenos doadores na internet, somaram para Bolsonaro apenas R$ 257 mil, o que é praticamente nada em uma campanha presidencial desse porte.

Como dissemos mais acima, o raio-x do financiamento de cada uma das campanhas diz muito sobre os candidatos. Uma parcela importante das pessoas se indigna quando houve falar em financiamento público de campanha. E há razões para tal. O fundo eleitoral de R$ 4,9 bilhões é um exagero completo e só se explica pela degeneração do sistema político brasileiro, que não pode existir sem dragar uma enorme quantidade de recursos para o enriquecimento de alguns caciques partidários. No entanto, o modelo anterior, de financiamento majoritariamente privado, não é uma alternativa, pois implica em um sistema de dependência dos políticos em relação ao poder econômico. Assim, apesar das evidentes distorções, o financiamento público é mais democrático por ser mais transparente e não implicar em comprometimento do político eleito. A campanha de Lula está aplicando exatamente esse princípio ao usar fundamentalmente recursos públicos. Já Bolsonaro está aplicando o velho método do que “quem paga a banda escolhe a música”. Todas essas doações milionárias têm, na verdade, muito pouco de ideológico. “Valores cristãos?” “Família conservadora”? Na maioria dos casos, para os grandes doadores, isso não passa de desculpa. Na verdade, toda a fortuna entregue por essa gente à campanha de Bolsonaro é um mero troco do que eles ganharam no seu governo e ainda podem ganhar em um eventual segundo mandato. Rico não joga dinheiro ao vento. Rico faz investimento. É isso que eles estão fazendo hoje com a campanha de Bolsonaro.

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