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BRASIL

Quem é Matheus Gomes, jovem negro, 5º deputado estadual mais votado do Rio Grande do Sul

Vereador em Porto Alegre, Matheus fez mandato atuante com a Bancada Negra e é alvo de ameaças

Bruno Rodrigues, de Porto Alegre, RS
Ederson Nunes / Câmara Municipal Porto Alegre

O resultado do primeiro turno para as eleições presidenciais, que colocou Bolsonaro no segundo turno, não foi fácil de ser digerido. Contudo, no marco deste cenário, temos o legítimo direito de comemorar a vitória de Lula e algumas importantes vitórias eleitorais. Sem dúvida, uma delas foi a eleição de parlamentares de esquerda, como Matheus Gomes (PSOL), eleito com mais de 82 mil votos deputado estadual no RS.

Matheus é um jovem negro, militante desde o ensino médio e que fez parte do DCE da UFRGS. Em 2013 ficou publicamente conhecido na cidade como “guri dos protestos”, por conta de sua atuação destacada nas mobilizações de rua, junto ao Bloco de Lutas, contra o aumento das tarifas. Em 2020 foi eleito o vereador mais jovem de Porto Alegre e atualmente, com apenas 31 anos, é uma importante liderança da esquerda gaúcha.

Como vereador, Matheus integrou uma bancada negra na Câmara Municipal, com cinco mandatos do PSOL, PT e PCdoB. A eleição da bancada foi um marco na cidade e expressão da luta antirracista em todo o mundo e mostrou uma reação ao racismo em Porto Alegre, cidade que presenciou um homem desfilar em um parque público com o traje da Ku Klux Klan. Logo na posse, os cinco mostraram a que vieram, recusando-se a levantar durante a execução do hino do Rio Grande do Sul, por se tratar de um hino racista. “Nós, como bancada negra, pela primeira vez na história da Câmara de Vereadores, talvez a maioria daqui que já exerceram outros mandatos não estejam acostumados com a nossa presença, não temos obrigação nenhuma de cantar um verso que diz: ‘povo que não tem virtude acaba por ser escravo’”, afirmou Matheus, que é historiador e concluiu o mestrado neste ano.

Não por acaso, Matheus tornou-se alvo da violência política, assim como diversos parlamentares negros, mulheres e LGBTQIA+s em todo o país. Ele já foi oito vezes na delegacia registrar ameaças recebidas, sendo a última em janeiro deste ano, quando por e-mail, ameaçaram-no dizendo que “estavam mais perto”. Em entrevistas, ele afirma que “não sai de casa sem tomar cuidado”.

Matheus tem sido uma voz em defesa da unidade da esquerda e tem feito do seu mandato de vereador uma trincheira de luta contra o prefeito Sebastião Melo, contra os aliados de Bolsonaro no estado e o governo privatista de Eduardo Leite. Também tem encampado lutas da cultura e da defesa das escolas de samba da cidade, do meio ambiente e contra os interesses da especulação imobiliária e pelo direito da população aos espaços públicos.

Nos últimos dias, quando o prefeito decidiu suspender o direito ao passe livre para a população da capital no dia das eleições, uma clara manobra para dificultar o voto da população mais pobre, Matheus foi um dos principais vereadores a colocar seu mandato a serviço de barrar medida do prefeito. Melo chegou a enviar um áudio a seus apoiadores, criticando a denúncia e citando Matheus, e ao final, após uma forte campanha, teve que recuar.

Matheus foi o quinto deputado mais votado no estado e o primeiro na cidade de Porto Alegre, um verdadeiro tapa na cara da elite racista do estado. Assim, sua chegada à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, cujas cadeiras em sua totalidade são ocupadas por homens brancos, representa uma conquista enorme, pois é a expressão concreta da luta do povo negro contra o racismo, a fome, a desigualdade e o genocídio cotidiano.

Matheus assumirá o mandato em 2023 para compor uma bancada do PSOL com Luciana Genro, parlamentar reeleita com mais de 110 mil votos. Matheus também comporá uma bancada negra e antirracista ao lado de Bruna Rodrigues, do PCdoB, e Laura Sito, do PT.

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