A “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de Direito”, lançada por juristas e professores da Faculdade de Direito da USP, atingiu a marca de 650 mil assinaturas, por volta das 20h30 desta segunda-feira, 01. O total foi alcançado em apenas uma semana, desde a última terça-feira, quando o texto foi aberto para assinaturas em uma plataforma na internet.
O manifesto amplo e suprapartidário foi organizado pela Faculdade de Direito da USP e foi lançado inicialmente com cerca de 3 mil assinaturas de juristas, médicos, professores, personalidades, empresários e artistas. Entre as assinaturas, as do cantor Chico Buarque, do padre Júlio Lancelotti e do ex-jogador Casagrande. O manifesto é impulsionado pelo grupo Prerrogativas e pelo 342 Artes e será lido em um ato no dia 11 de agosto, nas escadarias da Faculdade de Direito, pelo ex-ministro do STF Celso de Mello, por ocasião do aniversário de criação dos cursos jurídicos no país.
O ato de leitura no dia 11 promete ser um grande protesto, pois já foi abraçado pelo movimento estudantil, que fará um dia nacional de luta nesta data, e pela campanha nacional Fora Bolsonaro, que unificou a data, transferindo o protesto inicialmente marcado para o dia 06 para um único dia nacional de luta, no dia 11, com atos nas capitais.
Ontem e hoje
O protesto em São Paulo inspira-se na Carta de 1977, quando, em 11 de agosto, a leitura do manifesto, na Faculdade de Direito da USP, nas comemorações dos 150 anos da fundação dos cursos jurídicos brasileiros, pelo professor de direito Goffredo da Silva Telles Junior marcou um ponto de inflexão na luta contra a ditadura militar. A então “Carta aos Brasileiros” foi lida no mesmo Largo de São Francisco. “Imbuídos do espírito cívico que lastreou a Carta aos Brasileiros de 1977 e reunidos no mesmo território livre do Largo de São Francisco, independentemente da preferência eleitoral ou partidária de cada um, clamamos às brasileiras e aos brasileiros a ficarem alertas na defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições. No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários”, diz o texto que já recebeu 650 mil apoios.
A leitura da carta em 1977 ocorreu em meio a uma jornada de luta, após meses de mobilizações estudantis pelas liberdades democráticas. Em maio de 1977, cerca de 8 mil estudantes haviam protestado no Largo de São Francisco, no primeiro grande ato de rua contra o regime militar. Diante da repressão, os jovens sentaram no Viaduto do Chá, e leram em coro a carta “Hoje consente quem cala”, na qual pediam o fim da ditadura e exigiam a libertação imediata de sete operários e estudantes, militantes da Liga Operária, presos em uma panfletagem do Primeiro de Maio. Uma jornada que seguiu pelos meses seguintes, com dias de luta, e desafiou os generais e abriu o caminho para as lutas dos anos seguintes, com as greves do ABCD e a agonia do regime.
Agora, novamente, cartas e protestos de rua se somarão para defender as liberdades democráticas e impedir as ameaças golpistas feitas pelo bolsonarismo, cujos discursos convocam o não reconhecimento das eleições, para manter-se no poder. Nesta luta, o fortalecimento dos dois de luta marcados, no dia 11 de agosto e 10 de setembro, são fundamentais. Neste cenário, também assume grande importância atos de unidade de ação, inclusive com setores que apoiaram o golpe de 2016 ou mesmo Bolsonaro, e que neste momento estão contrários ao seu governo e sua escalada golpista, unidade que deve ser feita com diferenciação e independência, mantendo erguidos o programa da classe trabalhadora, que interrompa a destruição bolsonarista, reverta o legado do golpe de 2016 e devolva os direitos retirados pelo andar de cima.
Leia a carta.
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