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BRASIL

Misoginia e negacionismo: a amizade de Bolsonaro com o ex-presidente da Caixa

Pedro Guimarães pediu demissão, após denúncias de assédio sexual

da redação

Em meio ao recente escândalo do MEC, cujos desdobramentos estão longe de um desfecho, Bolsonaro teve que lidar com uma nova bomba explodindo. Dessa vez, o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Duarte Guimarães, foi acusado de assédio por diversas funcionárias do banco, no que culminou com um pedido de demissão ainda nesta quarta, 29. 

Guimarães assumiu a presidência do banco em janeiro de 2019, logo que Bolsonaro tomou posse, por indicação de ninguém menos que Paulo Guedes, um dos principais ministros. Desde então, as relações de Guimarães com Bolsonaro têm se estreitado bastante. Assim, Pedro tem sido visto junto com o presidente em viagens oficiais, lives e até em motociatas.

Abaixo, listamos alguns exemplos dessa proximidade entre o ex-presidente da CEF e Bolsonaro:

Guimarães e a FEBRABAN

Há uma investigação em curso no MPF contra Guimarães, depois que este usou seu posto na presidência da CAIXA para ameaçar a desfiliação do banco público da FEBRABAN, quando esta entidade assinou o manifesto “A praça é dos três poderes”, capitaneado pela FIESP.

Lançado em agosto de 2021 e arregimentando mais de 240 assinaturas de entidades da burguesia industrial e bancária, o manifesto pressionava o presidente Bolsonaro a arrefecer suas tensões contras as demais instituições, o que incomodou Guimarães. 

Guimarães vice de Bolsonaro

Até a explosão do escândalo de assédio, Guimarães vinha acumulado certo prestígio com Bolsonaro tanto pelo seu alinhamento canino com o governo, como pelo seu desempenho à frente de um órgão importantíssimo para o país, considerado exitoso pelo Planalto.

A tal ponto que, segundo assessores do Planalto, antes do nome do general Braga Neto se consolidar como vice de Bolsonaro para a tentativa de reeleição neste ano, o nome de Guimarães foi cogitado. 

Amigos misóginos

De fato, Guimarães era desses que se comportava como um verdadeiro bajulador de Bolsonaro, acompanhando o presidente várias de suas agendas. Guimarães chegava até a afirmar bobagens como a de que sairia do país caso Bolsonaro não fosse reeleito.

Em uma dessas lives, realizada como Guimarães ao lado, Bolsonaro afirmou o seguinte:

“Essas narrativas de que somos negacionistas, não acreditamos em vacina… Aquela história toda pra boi dormir, como fizeram na minha campanha em 2018, dizendo que eu era racista, que eu era misógino… Misógino é quem não gosta de mulher. Você é misógino, Pedro?”  

A pergunta foi seguida de uma risada de ambos em tom de deboche e cumplicidade.

Silêncio de Bolsonaro

É óbvio que a queda de Guimarães representou uma bomba no Planalto, ainda mais em se tratando de uma queda motivada pelos inúmeros casos de assédio contra funcionárias do banco. Em especial porque, segundo pesquisa recente do Datafolha, a rejeição de Bolsonaro é de 57% entre as mulheres. 

Contudo, como forma de afago ao seu amigo, em vez de demiti-lo, pressionou pelo pedido de demissão de Guimarães, como forma de saída honrosa. O assediador, no entanto, buscava um afastamento do cargo, o que mostra a total falta de noção sobre a gravidade dos seus crimes.

Bolsonaro simplesmente não se manifestou sobre o caso e não condenou publicamente Guimarães. Não fosse a proximidade das eleições e a necessidade do voto feminino, certamente teria o mantido no cargo e minimizado as denúncias. Prevaleceria a proteção entre homens brancos, que são ampla maioria no governo Bolsonaro, um governo machista, onde predomina a ideia de que os corpos das mulheres são propriedades suas.

Antonio Cruz/Agência Brasil