Depois de dois meses no comando da empresa, José Mauro Coelho pediu demissão da presidência da Petrobrás na manhã desta segunda-feira, 20/06. O pedido ocorreu na semana seguinte ao anúncio de mais um reajuste de preços, em 5,18% e 14,26%, respectivamente, da gasolina e do diesel.
Na sequência do reajuste, Bolsonaro e seu principal aliado na Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), iniciaram uma verdadeira escalada retórica condenando o reajuste de preços, culpabilizando a própria empresa e o seu presidente.
Em tom de deboche, o presidente da Câmara chegou a fazer a seguinte afirmação em uma de suas redes sociais: “A República Federativa da Petrobras, um país independente e em declarado estado de guerra em relação ao Brasil e ao povo brasileiro, parece ter anunciado o bombardeio de um novo aumento nos combustíveis.” E, mais recentemente, resolveu subir o tom: “Não queremos confronto, não queremos intervenção. Queremos apenas respeito da Petrobras ao povo brasileiro. Se a Petrobras decidir enfrentar o Brasil, ela que se prepare: o Brasil vai enfrentar a Petrobras. E não é uma ameaça. É um encontro com a verdade.”Bolsonaro seguiu na mesma toada, jogando a culpa dos possíveis desdobramentos do reajuste para o colo da própria empresa: “O Governo Federal como acionista é contra qualquer reajuste nos combustíveis, não só pelo exagerado lucro da Petrobrás em plena crise mundial, bem como pelo interesse público previsto na Lei das Estatais. A Petrobras pode mergulhar o Brasil num caos. Seus presidente, diretores e conselheiros bem sabem do que aconteceu com a greve dos caminhoneiros em 2018, e as consequências nefastas para a economia do Brasil e a vida do nosso povo.”
Bolsonaro ainda levantou a possibilidade de realização de uma CPI da Petrobras, para supostamente investigar os sucessivos aumentos de combustíveis. Contudo, todo este alarido feito por Lira e Bolsonaro não passa do mais puro jogo de cena a poucos meses das eleições. Os dois se fazem de desentendidos, jogando toda a culpa do aumento na empresa, enquanto os acionistas privados se esbaldam com mais um aumento de preços. Afinal, Bolsonaro e Lira são defensores do atual modelo de preços da empresa, o PPI (Preço de Paridade de Importação), política que baliza a partir do Dólar e das flutuações do mercado mundial os preços praticados aqui.
Esse modelo, instaurado por Pedro Parente e Michel Temer poucos meses depois do golpe de 2016, acaba por subverter o princípio da estatal ao beneficiar somente seus acionistas, em prejuízo do povo brasileiro, que acaba ficando tendo que arcar com os custos dessa política.
Ou seja, não basta que o presidente da Petrobrás caia, sem que junto caia o PPI. Como explica Natália Russo, dirigente sindical petroleira do Rio de Janeiro, e da Coletiva Feminista: “O presidente da Petrobrás renunciou ao cargo. De novo, não resolve! O que está afundando a estatal e o bolso dos brasileiros é o PPI, que coloca no Brasil o preço dos combustíveis em dólar. A culpa é do Bolsonaro que não muda essa política, quem deve cair é ele!”
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