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BRASIL

Benny, Renata e Monica: semana foi marcada por ataques a parlamentares negras e LGBTQIA+

Na mesma semana em que tentaram cassar o mandato do vereador Renato Freitas (PT), de Curitiba, em um processo marcado pelo racismo, ocorreram ataques homofóbicos, racistas e machistas a parlamentares do PSOL, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Com o aumento das ameaças golpistas de Bolsonaro, seus aliados também sobem o tom no parlamento e nas redes sociais, anunciando a violência política, em especial a de gênero, que deve marcar o processo eleitoral. Neste cenário, o ódio bolsonarista se volta contra os corpos das mulheres negras e LGBTQIA+, cuja presença e atuação no parlamento incomoda o bolsonarismo. Ao mesmo tempo, os ataques também refletem o desespero destes setores, que sabem que nem todos serão reeleitos. Desta forma, apostam na polarização, como forma de alcançar visibilidade dentro do eleitorado de extrema direita.
Confira os principais ataques, que merecem todo o nosso repúdio, às parlamentares Benny Briolly e Renata Souza, do PSOL do RJ, e Monica Seixas, do PSOL de SP, que merecem toda a nossa solidariedade.

da redação

Benny Briolly, vereadora, Niterói, RJ

Briolly foi eleita no pleito de 2020, com 4.458 votos, tornando-se a primeira vereadora trans a assumir um mandato na Câmara de Niterói. Antes mesmo de tomar posse, Benny vem sendo continuamente perseguida e ameaçada. No instagram, ela denuncia que acumula mais de 20 ameaças de morte, já foi vítima de ataques igualmente racistas e transfóbicos por um vereador bolsonarista na Câmara Municipal de Niterói, já tendo ainda diversas vezes sua fala interrompida “por pessoas que apontavam contra ela crucifixos, imagens de Nossa Senhora, Jesus Cristo e a bandeira do Brasil, além de gestos violentos como armas, vaias e xingamentos.” Por ameaças, ela já precisou deixar o país e adotar esquema rígido de segurança.

O mais recente ataque ocorreu na terça-feira (17), Dia Internacional Contra a Homofobia, a Transfobia e a Bifobia, e foi proferido diretamente da tribuna da Assembleia Legistativa do Rio de Janeiro, pelo deputado Rodrigo Amorim (PTB). A fala assusta em razão do nível de ódio e violência racista e transfóbica contra Benny. Amorim, além de referir-se à deputada no masculino, usou contra ela palavras inaceitáveis durante uma Sessão Ordinária no plenário da Assembleia Legislativa do RJ. Ele chega a se referir a Benny como “aberração”. Amorim foi eleito após quebrar uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco com Daniel Silveira, eleito deputado federal, e ao lado de Wilson Witzel, eleito governador.

Benny tem recebido toda a solidariedade e afirmou em suas redes: “não seremos interrompidas! Fomos eleitas pela população de Niterói como a Mandata mais votada, representamos uma política real e que emana do povo. Exigimos respeito!”. A assessoria da vereadora afirmou que pretende tomar medidas judiciais e institucionais contra Amorim. Nesta sexta, 20, a vereadora denunciou-o na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (foto ao lado).

Nas redes, a solidariedade foi potente, como a mensagem da co-vereadora Carolina Iara, da Bancada Feminista do PSOL, de São Paulo (SP).

Renata Souza, deputada estadual, RJ

O mesmo deputado Rodrigo Amorim também usou a tribuna da ALERJ para fazer insinuações caluniosas e difamatórias contra a deputada estadual, Renata Sousa. “Quanto a senhora lucrou vendendo as memórias e confidências de Marielle?”, provocou.

“Dentre as diversas ofensas proferidas contra mim e outras mulheres pretas durante a sessão plenária de hoje, as acusações infundadas que têm como objetivo manchar a memória de Marielle Franco são as que mais doem em mim. Entrei na política com a Mari, no chão da Maré, a gente fazia política na laje, na laje da casa da minha mãe, que posteriormente se tornou a minha casa, e chego na Alerj também ao lado de Marielle para atuar na defesa dos direitos humanos, das mulheres, dos pretos e pretas e da população pobre e de favela. Os ataques são diversos, não começam e também não se findam no dia de hoje, mas nós vamos juntos varrer esses ratos bolsonaristas para o esgoto de onde eles vieram”, respondeu Renata em suas redes sociais.

Amorim está pessoalmente rompido com o clã Bolsonaro, no entanto usa a tribuna que o cargo de deputado lhe permite para proferir tais ataques, com o objetivo de ganhar notoriedade junto à base bolsonarista, tendo em vista que em outubro seu nome será novamente submetido ao voto popular. Em referência a isso, em atividade na UFRJ, Guilherme Boulos afirmou: “Eu tenho certeza que você no ano que vem você vai estar lá de cabeça erguida, já aquele vagabundo que quebrou a placa da Marielle, eu tenho minhas dúvidas se ele vai estar lá”.

Monica Seixas, codeputada estadual, SP

Também nessa semana, a co-deputada estadual da Bancada Ativista de SP, Monica Seixas (PSOL), ao pedir uma questão de ordem durante uma sessão na ALESP que então estava sendo presidida pelo deputado Wellington Moura (Republicanos), um direito regimental do qual pode se valer qualquer parlamentar, foi vítima da truculência machista.

No dia seguinte, Moura subiu à tribuna para se queixar do pedido, assim dirigindo-se à co-deputada: “vou sempre colocar um cabresto na sua boca! Não vou permitir que vossa excelência perturbe a ordem dessa assembleia”. Ao que foi respondido por Seixas, “Não toleraremos e não passará impune!”

Por sinal, não é o primeiro caso de violência machista protagonizado pelo deputado Moura. Quando presidiu a sessão que analisou o pedido de afastamento do deputado Fernando Cury, acusado de assediar a deputada Isa Penna, Moura interrompeu Isa Penna por duas vezes quando ela formulava questões de ordem. Moura, que pertence à igreja Universal, também pediu à deputada Isa Penna que perdoasse seu assediador.

O caso revela que, apesar da vitória na cassação do deputado Mamãe Falei, cassado nesta semana por unanimidade, a Alesp ainda está marcada pelo machismo e misogínia, inclusive de vários que o julgaram, e que atuaram para perdoar o deputado que assediou a deputada Isa Penna. Eles também precisam ser cassados. Nas redes, Monica Seixas convocou seus seguidores “Ajude a pressionar pela cassação do mandato desse deputado racista e machista!”

Em 2022, eleger bancadas negras, feministas, LGBTQIA+, indígenas e de esquerda nos parlamentos

Os últimos anos foram marcados por profundos ataques aos direitos sociais e por violência política, inclusive dentro das casas parlamentares. A maior expressão disso foi o assassinato da vereadora Marielle Franco. 

O ano 2022 pode ser o ano da queda de Bolsonaro, e também pode ser o ano no qual começaremos a varrrer dos parlamentos o machismo, racismo, LGBTQIfobia e o reacionarismo, do qual gente como Rodrigo Amorim e Wellington Moura são representantes.

Como temos defendido no Esquerda Online, será indispensável combinar a campanha eleitoral em si com o máximo de mobilização popular, através das pautas de defesa dos direitos sociais, da luta contra as opressões, etc. Parte dessa luta, passa por eleger uma forte bancada de mulheres negras, LGBTQIA+s, indígenas, anticapacitistas e socialistas, por todas as casas legislativas do país, ampliando a diversidade. Cada vaga retirada da direita e conquistada para a esquerda, será uma vitória enorme contra os retrocessos e as opressões e por nossos direitos e para deter a violência política. Para que as Bennys, Renatas e Mônicas e Renatos não estejam só.