Ao cogitar o nome do eleitoralmente moribundo Geraldo Alckmin como vice na chapa de Lula, o PT, mais do que apresentar uma genial tática eleitoral que possa vir a se traduzir em votos, pretende é deixar claro para a burguesia brasileira duas questões, duas possibilidades, por assim dizer: 1) que um futuro governo Lula terá a intenção de restaurar, para a burguesia – e a julgar por hoje, a despeito e mesmo contra esta – o seu regime contrarreformista de 1988 tal como ele funcionou até o golpe burguês de 2016; e 2) que esta mesma burguesia poderá, novamente por meio da vice-presidência, lançar mão de um novo golpe de Estado caso os rumos do futuro governo petista a desagradarem nos seus objetivos econômicos imediatos.
Se o PT cede antecipadamente à burguesia, como se quisesse a chancela desta para a sua eventual vitória eleitoral contra ela, a oposição de esquerda, a saber, o PSOL, por sua vez, privado de um porta-voz nacional desde que seu principal nome se lançou prematuramente a governador em São Paulo, parece mais preocupado com as táticas para as eleições parlamentares, de modo a preservar/aumentar os mandatos proporcionais que sustentam concretamente os aparatos de suas correntes internas.
Se uma ala do partido corretamente crítica a aliança com Alckmin, mas, antecipadamente, já dá indícios de que pode apoiar a chapa do velho regime desde que ela vagamente acene com medidas programáticas à esquerda (da série: “mente pra mim, diz que me ama, diz que vai largá-la pra ficar comigo”), outra ala, tentando posar como mais à esquerda, segue na verdade presa a um udenismo moralista e flerta abertamente com o antipetismo lavajatista.
Enquanto isso, boa parte da militância de esquerda, apática diante do deserto do real, opta por entusiasticamente lutar a “luta de classes” (ou a luta de identidades) em um reality show global.
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