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BRASIL

PSDB: 26 anos de destruição dos serviços públicos paulistas

Desfiliação de Geraldo Alckmin, anunciada nesta sexta-feira, 17, não apaga legado no partido, de ataques aos trabalhadores e ao povo pobre paulista

Camila Lisboa*, de São Paulo, SP.
Reprodução

Cartazes contra José Serra e Geraldo Alckmin, em manifestação de professores, em 2013

Com a proximidade das eleições de 2022 e diante de uma situação de enorme mal estar social, as conversas, debates e discussões sobre as alternativas eleitorais já tomam conta dos locais de trabalho, de moradia, das redes sociais, reuniões de família, etc. Essas conversas são aquecidas pelas publicações de pesquisas de intenção de voto e pela permanente abordagem midiática sobre o tema.

Em algumas realidades específicas, como a dos serviços e servidores públicos do estado de São Paulo, a discussão eleitoral é permeada pela possibilidade de “escolher o seu patrão”. E se há alguma coisa com que os/as professores/as, metroviários/as, ferroviários/as, servidores/as estaduais de uma forma geral, estão preocupados é se as décadas de PSDB no estado de São Paulo vão continuar ou não. A preocupação é extremamente justa porque o legado do PSDB sobre os serviços públicos é desastroso.

O PSDB está no comando político do estado desde 1995, com a eleição de Mário Covas. Desde então, os poucos momentos em que este partido não esteve nessa posição foram quando os vice-governadores assumiram, por afastamento do cargo para outras disputas eleitorais1. A exceção desses momentos, Mario Covas (1995 a 2001), Geraldo Alckmin (2001 a 2006 e 2011 a 2018), José Serra (2007 a 2010), Alberto Goldman (2010) e João Dória (2019 até o momento) compõem a insuportável dinastia tucana no estado mais rico e mais populoso do país.

Se tomarmos como exemplo apenas os últimos quatro anos do governo de João Dória, a lista de maldades é longa. Uma das marcas de sua gestão foi a aprovação dos Projetos de Lei 01/2019 e 529/2020. O primeiro deles – o primeiro projeto colocado em tramitação pela gestão Dória – incluiu no Plano de desestatização do estado empresas estratégicas como a EMPLASA, PRODESP e DERSA. O segundo projeto citado determinou o fim de 10 autarquias públicas, entrega de nove parques públicos para o setor privado e a interferência na receita das três principais universidades públicas do estado.

Os referidos PL’s são um símbolo da lógica privatista dos governos tucanos e uma espécie de conclusão de um processo que atravessa anos de sucateamento dos serviços públicos, para criar o ambiente favorável para o discurso da privatização. É esta realidade enfrentada pelos trabalhadores e usuários das empresas de transporte sobre trilhos – Metrô e CPTM – e também da Companhia de Saneamento Básico, a Sabesp.

O processo de precarização do contrato dos professores estaduais, o rebaixamento salarial e ataque às conquistas, as reformas educacionais e a repressão à organização sindical e às greves são fatos do histórico de relação do PSDB com os professores do estado. Esta que é uma das categorias mais importantes do estado, por todo o significado da educação na luta contra a desigualdade social.

Não é possível virar o jogo em aliança com um dos principais inimigos dos serviços públicos paulistas

São por esses fatores que a grande maioria dos servidores e usuários desses serviços olha com péssimos olhos a possibilidade de uma aliança de Lula com Alckmin. Os trabalhadores e povo pobre paulista sabem que Alckmin é inimigo do povo, inimigo dos serviços públicos. Seus posicionamentos nos últimos grandes fatos políticos do país foram totalmente alinhados com o projeto político e econômico dos grandes grupos empresariais brasileiros. Apoiou o golpe parlamentar, não apresenta nenhum precedente otimista.

A profunda crise brasileira atual revela o caráter do projeto neofascista de Bolsonaro e também a tolerância do ultraliberalismo tucano com o autoritarismo. Quando vemos Dória vociferar contra o genocida, não podemos nos esquecer da recém aliança com título de péssimo gosto, o Bolsodória. 

O programa da virada do jogo em São Paulo e no Brasil precisa questionar e se comprometer a fundo com a reversão das consequências do ultraliberalismo e da destruição dos serviços públicos para o povo. Não é possível fazer isso com um dos principais representantes da privataria tucana a frente de uma chapa. Não é possível fazer isso com um dos maiores representantes da destruição dos serviços públicos paulistas.

Por isso, assim como Guilherme Boulos, enxergamos essa possibilidade de aliança como um mau sinal, um mau sinal da disposição de se enfrentar com os interesses daqueles que sempre governaram para os empresários, para a especulação imobiliária, para o agronegócio.

A eleição municipal de 2020 foi uma importante experiência da capacidade de um discurso e um projeto que vai à raiz dos problemas terem audiência popular. O perfil e espírito de esperança que tomou conta da campanha de Guilherme Boulos, do PSOL, podem e devem ser repetidos em 2022. Tanto para o governo do estado, com a experiência mais do que provada de Guilherme Boulos, quanto no Brasil, com a candidatura de Lula. Nesta tarefa, não cabem os tucanos.

*Coordenadora-geral do Sindicato dos Metroviários de São Paulo e militante da Resistência Feminista.

 

Notas

1  Foi assim em 2006, quando o então governador Geraldo Alckmin se afastou para disputar a presidência da república e assumiu Claudio Lembo, do extinto PFL. E também foi assim em 2018, quando o mesmo Geraldo Alckmin afastou-se pelo mesmo motivo de disputa eleitoral presidencial e o governo foi assumido por Márcio França, do PSB.