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O PSOL deve apoiar Lula no primeiro turno?

Gabriel Casoni

Gabriel Casoni, de São Paulo (SP), é professor de sociologia, mestre em História Econômica pela USP e faz parte da coordenação nacional da Resistência, corrente interna do PSOL.

“De abril a setembro de 1917, os bolcheviques reclamaram dos socialistas-revolucionários e dos mencheviques que rompessem com a burguesia liberal e tomassem o poder em suas próprias mãos”
Leon Trotsky, no Programa de Transição.

O marxismo revolucionário compreendeu a importância da Frente Única (FU) da esquerda para enfrentar períodos de ofensiva burguesa e do fascismo. Essa tática consiste na indispensável unidade das forças da classe trabalhadora (em suas mais diversas expressões) para lutar e vencer. A Frente Única é uma tática eminentemente defensiva: cerrar fileiras para resistir e derrotar a ofensiva do inimigo de classe. É também um instrumento genuíno dos explorados e oprimidos, pois não inclui setores da classe dominante (uma vez que esses últimos até podem ser contra Bolsonaro, mas mantém a defesa da destruição dos direitos sociais e trabalhistas – o programa liberal-capitalista).

Contra o fascismo e o imperialismo, são válidas as unidades pontuais e concretas com lideranças e segmentos burgueses. Deve-se apoiar, por exemplo, as medidas do STF contra Bolsonaro, assim como os pedidos unificados de impeachment com o MBL. Mas a Frente Única vai além dessas unidades episódicas: trata-se da construção do comando de luta unificado do povo trabalhador e oprimido, reunindo todas as organizações ligadas à classe trabalhadora, das mais moderadas às mais radicais. Os socialistas devem cobrar das direções moderadas da esquerda (Lula, PT, PCdoB, CUT) compromisso ativo com a luta antifascista. A Campanha Fora Bolsonaro, que construiu os quatro grandes últimos atos da esquerda, é um exemplo de Frente Única. No dia 07 de setembro, estaremos novamente nas ruas.

O desdobramento lógico da Frente Única para a luta (derrotar o neofascismo no caso concreto do Brasil nesse momento) é — no terreno do poder — a defesa de um governo da classe trabalhadora e do povo pobre e oprimido, sem alianças com a burguesia, para realizar as transformações estruturais para e com a maioria do povo. Em termos eleitorais, isso significa a defesa de uma candidatura unificada da esquerda sem alianças com a direita e velhos golpistas. Certamente, as direções moderadas e reformistas da esquerda (como Lula), que são as forças majoritárias na classe trabalhadora, não querem uma candidatura e um governo independentes dos explorados e oprimidos. Coerentes com sua estratégia e programa conciliatórios com o grande capital, buscam conformar candidaturas e governos em alianças com setores da classe dominante – o que prepara novas derrotas estratégicas no futuro.

O que socialistas fazem diante desse impasse? Há duas opções apenas: (a) decidem priorizar a denúncia dessas direções moderadas majoritárias, caindo no mais absoluto isolamento diante das massas trabalhadoras, que vêem nessas lideranças a alternativa (no caso do Brasil, Lula) para derrotar o fascismo e outras alternativas da direita; (b) decidem apresentar a proposta de uma candidatura unificada da esquerda (sem alianças com a direita) com um programa de esquerda, mesmo sabendo que as lideranças moderadas não querem essa alternativa independente. O objetivo dessa linha tática — a defesa de um governo operário e popular — não é convencer as lideranças conciliadoras da esquerda de uma linha anticapitalista (o que é impossível), mas sim abrir um diálogo paciente com os setores mais conscientes da classe trabalhadora e da juventude (que tem ilusões e expectativas, maiores ou menores, nessas direções reformistas) da necessidade de uma alternativa dos explorados e oprimidos. Trata-se da batalha pela independência de classe sob uma forma adequada às condições concretas da luta política. Em termos mais simples, o objetivo é abrir um canal de diálogo com setores mais amplos dos trabalhadores e da juventude — e não ficar apenas pregando aos convertidos.

Alguns críticos argumentam: mas quando Lula confirmar uma chapa com setores burgueses, vocês vão defender, ainda sim, um apoio do PSOL ao petista no 1o turno? Depende. O inegociável é a crítica política e programática a essas alianças com a burguesia, que deve ser feita em quaisquer condições. Fazer a crítica dentro ou fora da candidatura Lula é uma opção tática, que dependerá das condições concretas da luta político-eleitoral em 2022.

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eleições 2022 / psol