Pular para o conteúdo
Colunas

É preciso combater a ameaça de golpe, mas sem desesperar

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

Gabriel Casoni

Gabriel Casoni, de São Paulo (SP), é professor de sociologia, mestre em História Econômica pela USP e faz parte da coordenação nacional da Resistência, corrente interna do PSOL.

Bolsonaro não tem força nem social nem política para aplicar um golpe militar/fascista no Brasil nesse momento. Não tem amparo no imperialismo norte-americano ou em qualquer outra potência externa para isso. Não tem apoio no capital financeiro nem na quase totalidade dos grandes empresários, assim como não tem suporte popular majoritário para um assalto fascista. Tampouco tem amparo na grande mídia, na Igreja Católica e no meio artístico e intelectual. O centrão também não tem qualquer simpatia com a ideia de um golpe bolsonarista, pois perderia poder. 

Se Bolsonaro tentar, de fato, um aventura golpista na atual relação de forças, provavelmente seria derrotado. Pois não basta ter coragem para agir para um golpe, é preciso também força política e social para mantê-lo. 

Haveria apoio a uma aventura bonapartista em setores militares, num setor da pequena-burguesia, em camadas lúmpens e milicianas, e em algumas igrejas-empresas evangélicas. Ou seja, no núcleo duro bolsonarista. Mas isso não é suficiente para um golpe militar, longe disso. Se Bolsonaro tentar, de fato, um aventura golpista na atual relação de forças, provavelmente seria derrotado. Pois não basta ter coragem para agir para um golpe, é preciso também força política e social para mantê-lo. 

Ter consciência desse quadro, para evitar o desespero infundado, que é parte do que Bolsonaro quer produzir com suas ameaças, não diminui a gravidade da campanha antidemocrática em curso, que visa mobilizar as bases neofascistas em torno de um projeto golpista, ao mesmo tempo em que busca aterrorizar a oposição, para gerar medo. 

Derrotar o golpismo de Bolsonaro, não subestimá-lo, não acreditar que ele vai respeitar um processo eleitoral sem tumultuar e tentar deslegitimar e, se tiver forças,  impedir as eleições; enfim, tratá-lo e combatê-lo como fascista que ele é, é chave. Manter as forças das ruas com a esquerda, ampliando a mobilização pelo Fora Bolsonaro e pelas demandas mais sentidas do povo trabalhador é o caminho para a vitória. Esperar sentado pelas eleições, com um neofascista insano na presidência, é muito perigoso, e pode ser fatal. Lula deveria mudar de postura e assumir uma linha combativa, convocando a mobilização do povo contra o golpismo e a defesa dos direitos e demandas dos trabalhadores.