Ao New York Times, Lula, artistas e lideranças mundiais cobram fim dos bloqueios a Cuba

Em carta publicada no NY Times, Lula, Chico Buarque e centenas de artistas e intelectuais de todo o mundo pedem o fim das ‘medidas coercitivas’ à Cuba.

da redação
Montagem: Pedro Ravasio/EOL

Mais de 400 artistas, intelectuais e lideranças mundiais publicaram hoje, 23, carta no periódico New York Times, em apelo ao Presidente Biden, para que sejam cessadas as medidas coercitivas de bloqueio econômico impostas à Cuba.

Intitulada “Let Cuba Live”, ou Deixe Cuba Viver, a carta pede que Biden revogue a ampliação das medidas de bloqueio anunciadas ontem, 22, bem como as políticas já impostas por Trump e o fim das mais de 200 sanções vigentes nos últimos 60 anos. No momento em que a Ilha sofre com os impactos da pandemia, dólares se fazem necessários para compra de medicamentos, alimentos e combustíveis.

Dentre os assinantes da carta, encontramos desde intelectuais como David Harvey,  Noam Chomsky, Judith Butler e Gayatri Spivak até artistas hollywoodianos como Jane Fonda, Emma Thompson, Danny Glover e Mark Ruffalo.

Destaque para os brasileiros que subscrevem o pedido: Lula, Gleisi Hoffmann (PT-PR), Glauber Braga (PSOL-RJ), MST, Frente Brasil Popular, além de Chico Buarque e Vagner Moura.

Confira abaixo a tradução da carta ‘Let Cuba Live’ publicada no The New York Times, tradução da Carta Capital:

Caro Presidente Joe Biden,

É hora de dar um novo rumo adiante nas relações entre os Estados Unidos da América e Cuba. Nós, abaixo assinados, estamos fazendo este apelo público e urgente a vocês para que o senhor rejeite as políticas cruéis postas em prática pela Casa Branca de Trump, que causaram tanto sofrimento para o povo cubano.

Cuba – um país de onze milhões de habitantes – está passando por uma difícil crise devido à crescente escassez de alimentos e medicamentos. Protestos recentes chamaram a atenção do mundo para isso. A pandemia de Covid-19 se mostrou um desafio para todos os países e o foi ainda mais para uma pequena ilha sob o peso de um embargo econômico.

Consideramos inescrupuloso, especialmente durante uma pandemia, bloquear intencionalmente as remessas e o uso de instituições financeiras globais por parte de Cuba, visto que o acesso a dólares é necessário para a importação de alimentos e medicamentos.

Quando a pandemia atingiu a ilha, seu povo – e seu governo – perderam bilhões em receitas advindas do turismo internacional que normalmente iriam para o sistema público de saúde, distribuição de alimentos e ajuda econômica.

Durante a pandemia, a administração de Donald Trump endureceu o embargo, pôs de lado a abertura de Obama e pôs em prática 243 ‘medidas coercitivas’ que intencionalmente estrangularam a vida na ilha e criaram mais sofrimento.

A proibição de remessas e o fim dos voos comerciais diretos entre os EUA e Cuba são impedimentos ao bem-estar da maioria das famílias cubanas.

‘Apoiamos o povo cubano’, você escreveu em 12 de julho. Se é esse o caso, pedimos que você assine imediatamente uma ordem executiva e anule as 243 ‘medidas coercitivas’ de Trump.

Não há razão para manter a política da Guerra Fria que exigia que os EUA tratassem Cuba como um inimigo existencial em vez de um vizinho. Em vez de manter o caminho traçado por Trump em seus esforços para desfazer a abertura do presidente Obama a Cuba, nós contamos com o senhor para seguir em frente. Retomar a abertura e iniciar o processo de encerramento do embargo. Acabar com a severa escassez de alimentos e medicamentos tem que ser a principal prioridade.

Em 23 de junho, a maioria dos estados membros das Nações Unidas votou para solicitar aos EUA para acabar com o embargo. Nos últimos 30 anos, esta tem sido a posição consistente da maioria dos Estados membros. Além disso, sete relatores especiais da ONU escreveram uma carta ao governo dos EUA em abril de 2020 sobre as sanções a Cuba. ‘Na emergência de pandemia’, eles escreveram , ‘a falta de vontade do governo dos EUA em suspender as sanções pode levar a um maior risco de sofrimento em Cuba’.

Pedimos que acabe com as ‘medidas coercitivas’ de Trump e retorne à abertura de Obama ou, melhor ainda, inicie o processo de fim do embargo e normalização total das relações entre os Estados Unidos e Cuba.