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BRASIL

FHC foi a tragédia, Ciro Gomes é o candidato a farsa

Coletivo Caminho Luminoso*
Montagem: EOL

“A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.”

Karl Marx

 

Quem viveu certamente se lembra de que na primeira eleição de FHC muitos tucanos, principalmente os Covistas, acreditavam que a aliança do PSDB com o partido envergonhado da ditadura – PFL – era só para eleger o Professor, e que depois ele iria governar na linha social democrata, promovendo a justiça social que tanto se demandava no Brasil.

Bem, o fato é que deu no deu e quem governou no final foi ACM com suas fraudes no painel do congresso e suas pastas rosas, nunca de fato investigadas pelo engavetador geral da república Geraldo Brindeiro. Os banqueiros internacionais levaram as reservas nacionais, recebendo os bancos estatais a preço de banana e polpudas somas via PROER. E os “empreenderes” de sempre saquearam as riquezas do país via privataria tucana e contas CC5 (as contas em moeda nacional mantidas no país, por residentes no exterior) com o aval generoso do STF e anuência bovina da mídia corporativa.

Enfim, os trabalhadores pagaram a conta na conversão da URV e ao final do mandato do sociólogo estava tudo como antes no quartel de Abrantes. Oito anos sem mexer uma vírgula na distribuição de renda ou no índice GINI (utilizado para medir a desigualdade de distribuição de renda.), com o país no mapa da fome e bem referenciado entre os miseráveis. E o povão com salário mínimo arrochado, aposentados – que FHC chamava de vagabundos – à míngua, indústria nacional arrasada e todos sofrendo com inflação em alta, juros extorsivos e dólar elevado.

Ciro Gomes atualmente tem até o seu próprio ACM. Ele próprio! Pelo menos na sua retórica tosca e acusatória. O ex-ministro do governo Lula apresenta um plano todo cheio de avanços sociais – Projeto Nacional de Desenvolvimento – que nada deve à promessa de FHC em tempos de Plano Real, incluindo uma reforma do Estado para vencer o patrimonialismo e adentar triunfante no Primeiro Mundo. Aliás, Ciro é apresentado como a terceira via, como fosse novidade ser representante mor dessa expressão que era exatamente o título honrosamente concedido ao governo FHC. Embora assim seja, deve-se reconhecer que se FHC era uma “terceira via” – algo entre o petismo e o malufismo – de inspiração europeia, o menos pomposo Ciro Gomes, ainda que seja um homem de Paris, apoia-se, pelo menos em teoria, na vertente americana que superou o malfadado Trumpismo nas terras do Tio Sam.

 Acontece que o Brasil não é os EUA e não há um Joe Biden de plantão. Aliás, muitos dos que invocam o exemplo norte-americano, propositalmente omitem que Biden, para ser aceito pelos setores mais combativos do Partido Democrata, apresentou o programa mais progressista de um candidato mainstream em muitas décadas.

Aqui, por outro lado, querem que a gente dê um cheque em branco para uma suposta terceira via apenas porque o “Senhor Terceira Via Ciro Gomes” se acha a terceira via! O que ele pretende ceder? O que está na mesa de negociação? Nada, a não ser o discurso antipetista que visa o apoio daquela franja do eleitorado que odeia a esquerda, mas está momentaneamente insatisfeito com o ogro fascista de plantão.

No Brasil, progressistas reais (Lula) ou de fachada (FHC) perderam oportunidades de se livrar de trambolhos fisiológicos que são o MDB (que já foi PMDB) e o DEM (Antigo PFL) ao se unir a essas estrovengas pré-diluvianas, sempre com a desculpa esfarrapada da “governabilidade”. 

No caso de FHC ele não queria mesmo se livrar dessa gente. O DEM, antigo PFL, uma parcela da velha ARENA que bandeou para o lado de Tancredo Neves quando viu que o barco da ditadura naufragava, deu a desculpa que faltava para os tucanos iniciarem uma guinada cada vez mais para a direita, até se tornarem a UDN do século 21. Só para lembrar, o PSDB hoje abriga o movimento de extrema direita “Endireita Brasil”, do qual Ricardo Sales, não muito digníssimo Ministro do Bozo, é egresso. Além de signatários do famigerado movimento “Escola sem Partido”. Por outro lado, perdeu figuras como Bresser Pereira e até mesmo expulsou o ex-comunista Alberto Goldman por falta de afinidade com a nova linha neofascista BozoDória.

 Partidos de centro-esquerda não surgem do nada. Na Europa, mesmo se afastando – e às vezes traindo – suas bases operárias, os partidos socialistas, trabalhistas e sociais democratas possuem dinâmicas frações “de esquerda” que tencionam as direções e defendem políticas progressistas. É o caso – ainda – do PT aqui no Brasil, mesmo com sua alianças questionáveis, sobretudo no segundo mandato de Lula, que possuía índices recordes de popularidade. O Partido dos Trabalhadores, contudo, abrigou no seu governo – e às vezes até na própria agremiação – oportunistas que, na primeira oportunidade que tiveram, apunhalaram pelas costas a presidente Dilma Rousseff e foram cúmplices do golpe parlamentar-midiático de 2016.

 Mesmo assim, por ainda – apesar dos esforços contrários de alguns dirigentes – possuir uma forte presença nos movimentos sociais é impossível classificar o PT como um partido de “direita” como fazem alguns esquerdistas mais afoitos. E obviamente – e infelizmente –  não é um partido “radical”, rótulo que a direita bozomínia arrependida, e agora Ciro Gomes, o homem da “terceira via”, tentam imputar-lhe.

Quanto a Ciro Gomes e seus decrescentes 6% do eleitorado ou por querer ser um novo FHC, ou por necessidade eleitoreira, não é difícil imaginar que consiga vir a ser um dos melhores caminhos para os interesses capitalistas nas próximas eleições. Porque é justamente disso que se trata quando se ouve Ciro Gomes esbravejando contra Lula, o PT e contra a esquerda em geral. É só o que lhe resta como cacife político: se apresentar como o melhor dançarino no baile do mercado. Ele sabe muito bem que essa é a única maneira de ganhar os aplausos da elite. E parece disposto a ganhar o concurso, os aplausos e o auxílio luxuoso daqueles que fizeram a famosa “escolha difícil” pelo Bozo fascistóide em 2018.

 Então, como bem asseverou o velho das barbas brancas: A história se repete! Não se surpreenda quando ver traduzido o tão decantado Projeto Nacional de Desenvolvimento de Ciro como Ponte para o Futuro (projeto golpista de Michel Temer), que é o que fato movimenta os capitalistas em direção deste ou daquele mais disposto a servir seus interesses.

 Bem, o Brasil quebrou três vezes na tragédia FHC e agora ela se apresenta como farsa, mas cuidado, mesmo como farsa, Ciro não perde sua vocação para tragédia.

*Coletivo socialista da Zona Norte de São Paulo.