FHC foi a tragédia, Ciro Gomes é o candidato a farsa
Publicado em: 29 de maio de 2021
“A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.”
Karl Marx
Quem viveu certamente se lembra de que na primeira eleição de FHC muitos tucanos, principalmente os Covistas, acreditavam que a aliança do PSDB com o partido envergonhado da ditadura – PFL – era só para eleger o Professor, e que depois ele iria governar na linha social democrata, promovendo a justiça social que tanto se demandava no Brasil.
Bem, o fato é que deu no deu e quem governou no final foi ACM com suas fraudes no painel do congresso e suas pastas rosas, nunca de fato investigadas pelo engavetador geral da república Geraldo Brindeiro. Os banqueiros internacionais levaram as reservas nacionais, recebendo os bancos estatais a preço de banana e polpudas somas via PROER. E os “empreenderes” de sempre saquearam as riquezas do país via privataria tucana e contas CC5 (as contas em moeda nacional mantidas no país, por residentes no exterior) com o aval generoso do STF e anuência bovina da mídia corporativa.
Enfim, os trabalhadores pagaram a conta na conversão da URV e ao final do mandato do sociólogo estava tudo como antes no quartel de Abrantes. Oito anos sem mexer uma vírgula na distribuição de renda ou no índice GINI (utilizado para medir a desigualdade de distribuição de renda.), com o país no mapa da fome e bem referenciado entre os miseráveis. E o povão com salário mínimo arrochado, aposentados – que FHC chamava de vagabundos – à míngua, indústria nacional arrasada e todos sofrendo com inflação em alta, juros extorsivos e dólar elevado.
Ciro Gomes atualmente tem até o seu próprio ACM. Ele próprio! Pelo menos na sua retórica tosca e acusatória. O ex-ministro do governo Lula apresenta um plano todo cheio de avanços sociais – Projeto Nacional de Desenvolvimento – que nada deve à promessa de FHC em tempos de Plano Real, incluindo uma reforma do Estado para vencer o patrimonialismo e adentar triunfante no Primeiro Mundo. Aliás, Ciro é apresentado como a terceira via, como fosse novidade ser representante mor dessa expressão que era exatamente o título honrosamente concedido ao governo FHC. Embora assim seja, deve-se reconhecer que se FHC era uma “terceira via” – algo entre o petismo e o malufismo – de inspiração europeia, o menos pomposo Ciro Gomes, ainda que seja um homem de Paris, apoia-se, pelo menos em teoria, na vertente americana que superou o malfadado Trumpismo nas terras do Tio Sam.
Acontece que o Brasil não é os EUA e não há um Joe Biden de plantão. Aliás, muitos dos que invocam o exemplo norte-americano, propositalmente omitem que Biden, para ser aceito pelos setores mais combativos do Partido Democrata, apresentou o programa mais progressista de um candidato mainstream em muitas décadas.
Aqui, por outro lado, querem que a gente dê um cheque em branco para uma suposta terceira via apenas porque o “Senhor Terceira Via Ciro Gomes” se acha a terceira via! O que ele pretende ceder? O que está na mesa de negociação? Nada, a não ser o discurso antipetista que visa o apoio daquela franja do eleitorado que odeia a esquerda, mas está momentaneamente insatisfeito com o ogro fascista de plantão.
No Brasil, progressistas reais (Lula) ou de fachada (FHC) perderam oportunidades de se livrar de trambolhos fisiológicos que são o MDB (que já foi PMDB) e o DEM (Antigo PFL) ao se unir a essas estrovengas pré-diluvianas, sempre com a desculpa esfarrapada da “governabilidade”.
No caso de FHC ele não queria mesmo se livrar dessa gente. O DEM, antigo PFL, uma parcela da velha ARENA que bandeou para o lado de Tancredo Neves quando viu que o barco da ditadura naufragava, deu a desculpa que faltava para os tucanos iniciarem uma guinada cada vez mais para a direita, até se tornarem a UDN do século 21. Só para lembrar, o PSDB hoje abriga o movimento de extrema direita “Endireita Brasil”, do qual Ricardo Sales, não muito digníssimo Ministro do Bozo, é egresso. Além de signatários do famigerado movimento “Escola sem Partido”. Por outro lado, perdeu figuras como Bresser Pereira e até mesmo expulsou o ex-comunista Alberto Goldman por falta de afinidade com a nova linha neofascista BozoDória.
Partidos de centro-esquerda não surgem do nada. Na Europa, mesmo se afastando – e às vezes traindo – suas bases operárias, os partidos socialistas, trabalhistas e sociais democratas possuem dinâmicas frações “de esquerda” que tencionam as direções e defendem políticas progressistas. É o caso – ainda – do PT aqui no Brasil, mesmo com sua alianças questionáveis, sobretudo no segundo mandato de Lula, que possuía índices recordes de popularidade. O Partido dos Trabalhadores, contudo, abrigou no seu governo – e às vezes até na própria agremiação – oportunistas que, na primeira oportunidade que tiveram, apunhalaram pelas costas a presidente Dilma Rousseff e foram cúmplices do golpe parlamentar-midiático de 2016.
Mesmo assim, por ainda – apesar dos esforços contrários de alguns dirigentes – possuir uma forte presença nos movimentos sociais é impossível classificar o PT como um partido de “direita” como fazem alguns esquerdistas mais afoitos. E obviamente – e infelizmente – não é um partido “radical”, rótulo que a direita bozomínia arrependida, e agora Ciro Gomes, o homem da “terceira via”, tentam imputar-lhe.
Quanto a Ciro Gomes e seus decrescentes 6% do eleitorado ou por querer ser um novo FHC, ou por necessidade eleitoreira, não é difícil imaginar que consiga vir a ser um dos melhores caminhos para os interesses capitalistas nas próximas eleições. Porque é justamente disso que se trata quando se ouve Ciro Gomes esbravejando contra Lula, o PT e contra a esquerda em geral. É só o que lhe resta como cacife político: se apresentar como o melhor dançarino no baile do mercado. Ele sabe muito bem que essa é a única maneira de ganhar os aplausos da elite. E parece disposto a ganhar o concurso, os aplausos e o auxílio luxuoso daqueles que fizeram a famosa “escolha difícil” pelo Bozo fascistóide em 2018.
Então, como bem asseverou o velho das barbas brancas: A história se repete! Não se surpreenda quando ver traduzido o tão decantado Projeto Nacional de Desenvolvimento de Ciro como Ponte para o Futuro (projeto golpista de Michel Temer), que é o que fato movimenta os capitalistas em direção deste ou daquele mais disposto a servir seus interesses.
Bem, o Brasil quebrou três vezes na tragédia FHC e agora ela se apresenta como farsa, mas cuidado, mesmo como farsa, Ciro não perde sua vocação para tragédia.
*Coletivo socialista da Zona Norte de São Paulo.
Top 5 da semana

brasil
Prisão de Bolsonaro expõe feridas abertas: choramos os nossos, não os deles
colunistas
O assassinato de Charlie Kirk foi um crime político
brasil
Injustamente demitido pelo Governo Bolsonaro, pude comemorar minha reintegração na semana do julgamento do Golpe
psol
Sonia Meire assume procuradoria da mulher da Câmara Municipal de Aracaju
mundo