English version: May 1st: Stop the genocide with struggle and class solidarity
Na véspera do 1º de Maio, data reivindicada pelo movimento de trabalhadoras e trabalhadores no mundo, o Brasil atinge a marca de 400 mil mortos pela Covid-19. A ampla maioria dessas quase meio milhão de mortes são de gente do povo, que estão nos ônibus lotados para chegar ao trabalho e voltar para casa. São os 99% que fazem a máquina do capital funcionar que estão sendo atingidos brutalmente pela pandemia. Estamos falando de enfermeiras, professoras, garis, faxineiras, motoboys, entregadores, motoristas de ônibus, operários, informais, camelôs, ambulantes… Estamos falando de gente sem acesso a plano de saúde, que vive em moradias precárias, muitas vezes sem saneamento, em periferias e favelas.
Um estudo feito na UFRJ, pelas pesquisadoras Ligia Bahia e Jéssica Pronestino, divulgado pela Rede Nacional de Médicos e Médicas Populares, analisando o PNAD Covid-19 e o banco de internações de Síndrome respiratória Aguda Grave (SRAG), expõe os números do impacto da pandemia num país tão desigual. As taxas de letalidade atingem mais pessoas com baixa renda e baixa escolaridade. Entre os pacientes sem escolaridade, 71,3% morrem, para os que cursaram até o nível fundamental a taxa cai para 59,1%, no nível médio a taxa é de 35% e para quem tem nível superior despenca para 22,5%. Consequentemente, o estudo aponta outra conclusão: expõe o racismo estrutural de nossa sociedade, no qual a cor da pele também interfere na taxa de letalidade, que é de 59% no caso de pacientes brancos internados com SRAG e sobe para 79% entre os não brancos.
Qualquer pessoa com o mínimo de empatia consegue imaginar as consequências de uma pandemia tão violenta num país que sofre com desemprego em massa, inflação e aumento da desigualdade. Isso significa que quando o presidente da República ajuda a sabotar o isolamento social, critica o uso de máscaras, é negligente com as vacinas e não garante um auxílio emergencial digno, está ajudando o vírus a circular, com mais variantes, prolongando a pandemia e ampliando o alcance e a letalidade do vírus entre a classe trabalhadora brasileira, em especial os mais pobres e não brancos.
Dia de luta e solidariedade
No 1º de maio desse ano, estão sendo organizadas manifestações e ações de solidariedade em vários estados e regiões do país. Em sua maioria estamos vendo boas iniciativas de frente única entre sindicatos, movimentos sociais e organizações estudantis. Com o lema vacina no braço e comida no prato nas convocações, serão realizadas carreatas, faixaços em viadutos e atos simbólicos exigindo vacinas, medidas de proteção sanitária como lockdown, auxílio emergencial de R$ 600 e o Fora Bolsonaro.
Serão também distribuídas toneladas de cestas básicas e materiais de higiene nas periferias e bairros pobres de norte a sul do Brasil, numa ação nacional de solidariedade, demonstrando que a luta social e a solidariedade de classe são importante tratamento precoce para essa pandemia que está causando o terror em todo mundo.
Embora sejam progressivas, essas mobilizações contam com limites importantes, relacionados aos próprios cuidados sanitários que não permitem a convocação de multidões nas ruas. E também estamos vendo uma postura vacilante nesse momento das direções majoritárias do movimento sindical, em especial da direção das grandes centrais sindicais.
O 1º de Maio tem que ser classista
Desde o início do ano uma articulação nacional entre as Frentes Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo, que envolve centrais, movimentos sociais e juventude vem organizando calendários de mobilização por todo país, com o eixo central na palavra de ordem FORA BOLSONARO, entre outras reivindicações relacionadas à pandemia. Essa é a experiência mais importante até agora de frente única para lutar contra o governo Bolsonaro, e é através dessa frente que vem sendo organizada a maioria dos atos nos estados nesse 1º de maio.
Tudo ótimo, não fosse a equivocada iniciativa das grandes centrais em realizar um ato online com artistas e com largo alcance nas redes, mas, infelizmente, em aliança com setores que representam a velha política, ligados à direita e a representantes da elite dominante desse país que são os verdadeiros responsáveis pela difícil e desastrosa situação na qual se encontra a classe trabalhadora brasileira hoje. Não achamos que Rodrigo Maia, Arthur Lira, Rodrigo Pacheco, governadores da direita e outras figuras que ajudaram a aprovar a reforma trabalhista, reforma da Previdência, que apoiaram a lava jato e ajudaram a eleger Bolsonaro, são aliados para manifestações no dia dos trabalhadores.
Num país desfigurado por um governo de extrema direita negacionista e que está ajudando a pandemia a se prolongar matando em sua maioria trabalhadoras e trabalhadores pobres, o papel das grandes centrais e dos movimentos sociais não é confraternizar com setores da classe dominante, mas sim potencializar o Fora Bolsonaro. A tarefa é exigir a sua derrubada imediata, e não apostar as fichas somente em 2022. Acreditar na boa vontade da elite desse país em respeitar as convenções democráticas já nos custou caro demais. Essa posição das centrais majoritárias sofreu críticas de setores da própria CUT, que divulgaram nota com um posicionamento contrário à presença de personalidades da direita nesse ato, se somando a outras frações do movimento sindical brasileiro que não irão participar desse evento, optando por realizar iniciativas próprias.
Um exemplo é a iniciativa do Fórum Sindical, Popular e da Juventude por Direitos e Liberdades Democráticas, que está organizando uma programação nas redes sociais no dia 1º de Maio, às 14h. Esta atividade terá a participação do MTST, MST, de entidades do Movimentos Contra as Opressões: negras e negros, mulheres, LGTBQ, PSOL, PCB, da Profa. Andreia Galvão, pesquisadora da UNICAMP, além de várias entidades do movimento sindical, popular e da juventude. É possível acompanhá-la pelas redes sociais do Fórum, do SINASEFE, do ANDES, da Travessia – Coletivo Sindical e Popular – e no Esquerda Online. Será um ato da nossa classe por emprego, comida, vacina e pelo fim deste governo genocida, a serviço da construção da necessária frente única que a população trabalhadora e oprimida tanto necessita.
Greves Gerais na Colômbia e no Chile mostram o caminho
Vários países da América Latina estão em processos de mobilização mais avançados que no Brasil, desafiando inclusive a própria pandemia para poder defender os direitos dos trabalhadores contra as ações do capitalismo predatório e desumano.
Nesta quarta-feira, 28, o movimento sindical colombiano realizou uma forte greve geral que levou milhares de pessoas às ruas com ações radicalizadas, contra a proposta de reforma tributária do governo Duque, que aprofunda a desigualdade social no país.
No Chile, no dia 30, centrais sindicais e movimentos sociais realizam uma greve geral sanitária que exige a derrubada do governo Piñera. Tudo indica que grandes mobilizações vão sacudir o país, onde o povo vem acumulando vitórias históricas que questionam décadas de neoliberalismo.
Essas mobilizações estão mostrando que o movimento sindical e os movimentos sociais estão muito vivos, apontando um caminho para a organização de trabalhadoras e trabalhadores em todo o continente, em especial para o Brasil. São nesses exemplos que devemos nos apoiar para fortalecer as lutas de resistência contra o governo genocida de Bolsonaro.
CPI pra valer e impeachment já!
O governo Bolsonaro, embora ainda de pé e com apoio de 20% a 30% da população, passa pelo seu pior momento: isolado internacionalmente, expressando crises na relação com a cúpula militar, com forte desgaste na opinião pública e com dificuldades de manter uma base aliada no Congresso Nacional. A instalação da CPI da Covid-19, que já conta com vasto material de denúncia e potencial para fazer o governo sangrar ainda mais, se soma com os mais de cem pedidos de impeachment acumulados sobre a mesa do presidente da Câmara.
Apesar do governo federal e das ações absurdamente irresponsáveis do presidente da República em relação à pandemia já serem motivos mais do que suficientes para o seu afastamento, o resultado da CPI não está definido. A mobilização popular, aumentando a pressão e influenciando a opinião pública, é decisiva para que o parlamento siga em frente no processo de impeachment.
Estamos diante de uma importante oportunidade de conseguirmos virar o sentido da dinâmica histórica da luta contra as forças de extrema direita que comandam o poder central no país hoje. Somente com unidade entre as forças da classe trabalhadora, com mobilização social de base, solidariedade, coragem e disposição de luta, iremos conseguir derrotar o governo Bolsonaro, nas ruas, nas redes ou nas eleições!
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