Opinião: Algumas palavras sobre 15 de novembro


Publicado em: 17 de novembro de 2020

Brasil

Antonio Micaias Silva de Sousa, Fortaleza CE

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

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O crescimento do PSOL é uma realidade em todo o Brasil. Sem a marca do rigor estatístico, é possível dizer que a presença, a combatividade e o protagonismo de candidaturas a prefeitura como a de Zuleide Queiroz em Crato-CE, professor Elson em Florianópolis-SC, Edmilson Rodrigues em Belém-PA e Guilherme Boulos em São Paulo-SP e das inúmeras candidaturas a vereança espalhadas pelo país constituem um fruto da luta e da mobilização de muitos daqueles que vem enquanto oposição de esquerda desde as jornadas de junho de 2013, da luta contra o ajude fiscal no governo Dilma, da luta contra o golpe de 2016, contra a “ponte para o futuro’’ de Michel Temer e pelo “Fora Temer!” e mais tarde pelo “Fora Bolsonaro!” e pelo “Vira Voto” no segundo turno, buscando construir um projeto que se proponha de esquerda, radical, socialista, classista e popular.

Com poucos segundos de rádio e TV mas eficiência no uso e muita movimentação nas redes sociais, sem apoio da mídia corporativa mas com intensa cobertura da mídias independentes, sem os recursos do grande empresariado mas com a ajuda coletiva e autônoma de inúmeras pessoas contribuintes, o PSOL alça progressivamente patamares expressivos que dão corpo ao projeto iniciado na fundação do partido, em suma o de servir como motor e instrumento das lutas da esquerda socialista.

O esforço coletivo de movimentos sociais, associações comunitárias e de bairro, coletivos LGBT, feministas, da juventude e de outros partidos da esquerda socialista, em suma, inúmeras pessoas atuando pela base e na luta pela unidade da esquerda contra a direita tradicional e o bolsonarismo e pela luta em prol da classe trabalhadora e mesmo através dela, são a marca das trincheiras cavadas em todo país e dos focos de resistência desencadeados na luta contra o perigo autoritário e neofascista e as desilusões contínuas do projeto de conciliação de classes.

A luta empreendida com esse esforço é um marco não só na defesa dos direitos sociais, democráticos, trabalhistas e ambientais mas também em busca do despertar da consciência política e de classe do proletariado para um projeto alternativo e autenticamente seu.

Enquanto alguém que se reivindica trotskista, portanto socialista e revolucionário, não me iludo quanto aos resultados eleitorais terem politicamente resultados análogos nos próximos tempos e menos ainda que eles sejam fim último de nosso combate. Afinal a realidade é dialética, portanto contraditória e com certa imprevisibilidade por um lado, e por outro a história já nos ensinou que não se pode almejar uma outra sociedade dentro das regras do jogo, isto é, pela via eleitoral-reformista. Eleições burguesas continuam a ser eleições burguesas por mais que a classe trabalhadora participe e alcance conquistas. No entanto, elas são sempre para um revolucionário um instrumento de luta em defesa dos direitos os explorados e oprimidos, de denúncia do sistema capitalista, de propaganda socialista e na construção estratégica da revolução brasileira.

Não penso, também, que a expressividade e os resultados alcançados, alguns deles inconclusos, mudem o caráter do partido contraditório e de tendências que vem sendo o PSOL desde o início de sua trajetória, em que as pressões reformistas e eleitoreiras pesam como chumbo e tensionam como sempre. A questão, porém, é que não entender o perfil das trincheiras cavadas em 15 de novembro pela atuação desse partido e os ventos socialistas e radicais que se espalham pelos quatro cantos do país através dele, embora não só por ele e nem mesmo sempre devido ao mesmo (afinal há outros aspectos sociais e políticos por trás desse fenômeno que fogem dos limites deste texto), seria um pecado para quem analisa a situação atual que vivenciamos e que se propõe construir a revolução brasileira.

A questão é, também, que tem de se entender e valorizar as inversões, ainda que moderadas, que tais resultados, e por que não dizer conquistas político-eleitorais, podem e devem produzir na correlação de forças a nível nacional, tão desfavorável após o golpe de 2016 e o ascenso da extrema-direita, enquanto movimento, ideologia e governo aqui e no mundo.

A luta continua sendo pela união entre as tarefas democráticas e socialistas em permanência, pela unidade da classe trabalhadora e pela construção de um projeto de revolução. A batalha apenas teve seus primeiros, e talvez não ainda os mais significativos, episódios.


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